À Deriva
Em “À Deriva”, Felipa é uma menina passando da adolescência para a vida adulta, tendo que lidar ao mesmo tempo com questionamentos sobre sua vida emocional e sexual e a crise inesperada no casamento de seus pais.
Se você não é alienado, o que acho bem difícil, já deve ter escutado sobre esse filme. Afinal, não é sempre que uma obra brasileira é aclamada em Cannes. Dito isto, será que o filme corresponde às expectativas? Sim. Mas não espere um novo Cidade de Deus ou Tropa de Elite, muito menos um Cheiro do Ralo (do mesmo diretor, Heitor Dhalia) – mas um “drama calmo” ao nível dos melhores filmes franceses, não é a toa que é a nacionalidade do protagonista Matias (vivido pelo experiente Vincent Cassel). Porém não é preciso colocar os dois pés atrás, compará-lo a um filme francês não significa uma experiência entendiante… pelo menos não é o caso dessa película.
O filme nos conta a história de Felipa (a estreante Laura Neiva) uma garota de 14 anos que vai passar as férias, com seus pais e irmãos mais novos, em sua casa de praia. Ali acompanhamos o despertar da sexualidade dela e de outros adolescentes, seja de forma mais direta, ou em brincadeiras como “verdade ou consequência”. Suas confusões emocionais e seu afetuoso (nem sempre) relacionamento com seu pais (interpretados pela já citado Vincent Cassel e a atriz Debora Bloch) e irmãos. As coisas começam a complicar quando a garota descobre que seu pai tem uma amante, o que não afeta somente suas relações familiares, mas também com amigos e consigo mesmo.
Os desgaste da própria relação começa a ficar aparente, com brigas constantes, traições e problemas com bebida. Felipa assiste tudo àquilo em meio a sua confusão mental, tomando decisões desconexas e agindo de forma impulsiva e emocional: não sabe se gosta ou não de um garoto com que ficou, não sabe se conta para sua mãe a descoberta, não sabe como lidar com seu pai a quem tanto ama. Um cenário que poderia ficar entendiante, se não fosse pelo rumo natural das relações que começam a entrar em colapso e obrigar medidas desesperadas de seus protagonistas, chegando ao clímax quando Felipa descobre que esse segredo era o menor dos problemas, e dá de cara com uma realidade muito mais impactante.
À Deriva é uma obra bem interessante, que foge daquelas mesmice que o cinema brasileiro estava estagnado até alguns anos atrás – embora lembre muito um filme francês. Mas isso não é ruim, a mistura de estilos cai muito bem na obra. Aliado a um trabalho competente de fotografia e outros quesitos técnicos, o filme abre espaço para grandes atuações de seu elenco. Destaques para o diretor e roteirista Heitor Dhalia e para a atriz estreante Laura Neiva, que mostrou maturidade ao conseguir levar o filme, sem tentar roubar as cenas. Resta esperar que o cinema brasileiro continue nesse movimento de ascendência e, dessa forma, volte a ganhar espaço lá fora e, principalmente, aqui dentro.
À Deriva
Á Deriva (97 minutos – Drama)
Lançamento: Brasil, 2009
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Heitor Dhalia
Elenco: Camilla Belle, Debora Bloch, Vincent Cassel, Laura Neiva, Cauã Reymond e Gregório Duvivier
Leia mais em: À Deriva, Drama, Filme Brasileiro, Heitor Dhalia, Resenhas - Filmes