A Morte do Demônio (The Evil Dead)

Cinema quinta-feira, 18 de abril de 2013

 Cinco amigos viajam para uma cabana no meio da floresta em busca de diversão, mas acabam encontrando o Livro dos Mortos e libertando o Demônio. Agora Ash e seus amigos precisam encontrar um jeito para escapar das forças do mal.

Evil Dead, de Sam Raimi, é um desses filmes atemporais e marcantes na vida de qualquer fã de trash. Simplesmente não dá para enjoar. Me marcou em todas as etapas da minha vida, porque devo ter visto umas 20 vezes. As ocasiões eram as mais variadas: Aniversário, reunião de um trabalho de grupo que acabou não sendo feito, para me distrair depois do fim de um relacionamento, enquanto meus amigos faziam a brincadeira do copo do meu lado. Bruce Campbell se tornou além de um ídolo, uma espécie de best friend forever. É bem verdade que foi-se o tempo em que eu sentia muito medo assistindo A Morte do Demônio (Aliás, que nominho que foram arranjar!), hoje sinto saudades. Saudades do tempo em que os filmes de terror eram realmente bons, ainda que não se levassem tão a sério.

O filme conta a história dos amigos, Ash (Bruce Campbell), Linda (Betsy Baker), Scotty (Richard DeManincor), Shelly (Theresa Tilly) e Cheryl (Ellen Sandweiss) que, durante as férias, resolvem acampar em uma cabaninha das mais vagabundas no meio da floresta. Isolados de tudo e de todos, os cinco amigos já começam a fazer merda. Eles resolvem averiguar a casa e encontram o Livro da Morte, no filme Natureo Demento, e uma fita K7 com tradução de partes do livro. A obra é muito simpática, encapada com pele humana e com escritos em sangue. Apesar dos avisos para não lerem o livro, obviamente eles insistem em decifrar o mistério – do contrário não haveria filme – e ao ouvirem a tradução acabam por evocar um demônio extremamente carniceiro.

A primeira a sofrer as consequências é Cheryl, irmã do protagonista Ash. Impressionada com os acontecimentos, começa a ouvir barulhos fora da cabana e – espertamente – sai para ver o que está acontecendo. Não sei por que as pessoas fazem isso em filmes de terror. Se eu estou sozinha em casa e ouço barulhos, tranco meu quarto e me escondo debaixo da cama. Mas Cheryl não é cagona como eu e, como recompensa, acaba sendo estuprada por uma árvore na cena mais surreal da trilogia, quiçá dos filmes trash da década de 80. Enfraquecida pelo ataque, impossibilitada de voltar para a cidade e com todos os amigos desdenhando de sua história, a jovem é presa fácil e acaba sendo possuída, dessa vez literalmente, pelo demônio. Com sua transformação em uma espécie de zumbi, desencadeia-se o pavor e uma luta absurda entre os pobres universitários e as forças do mal, onde cada um precisa se cuidar para não ter o mesmo destino da pobre menina.

 Cena proibida para menores.

A partir daí vemos muito gore, machadadas, maquiagens malfeitas, defeitos especiais sensacionais das criaturas sobrenaturais que surgem pelo caminho e Ash correndo atrás para continuar vivo e bem longe do demônio. Resumindo: Um filmaço. Com todas as dificuldades financeiras, de censura e atuações cruas de iniciantes, Evil Dead tem todos os elementos que definem um bom filme de terror: Uma história tensa, que prende o espectador, muita violência, um ambiente soturno e, principalmente, personagens que se conectam com o público e não passam em branco. Gostar deles ou não é um mero detalhe, porque cada um faz falta a sua maneira.

Sam Raimi, desde Evil Dead, se mostrou um expert em filmes de terrir. Talvez seja o pai do gênero, o cara que transformou o escárnio em ícone cult. Não acho que teríamos filmes como os Syfy Original Movies se não fosse por ele. Não que eles façam falta, mas o diretor foi, sem dúvida, um marco para o cinema e mudou a ótica de como se fazer terror. Seu talento ficou claro nos outros dois filmes da trilogia, Evil Dead II e Army of Darkness, e no recente e sensacional Drag me to Hell, que tem uma vibe bem parecida com seu início de carreira, apenas com mais recursos financeiros e menos Bruce Campbell, o eterno Ash. Em outros nichos não sou muito fã não. Por mim ele teria feito, nesses últimos 32 anos, apenas novos Evil Dead e adjacentes. Mas entendo que o cara tem que viver, comer e dar o leite pras crianças. Viver de trash em Hollywood não dá. Enquanto isso todos chora.

O remake estreará no Brasil esse fim de semana. Não tenho preconceitos e não posso criticá-lo sem ter visto, mas isso só reforça minha tese de que hoje temos tecnologia demais e criatividade de menos. Evil Dead é um filme único, perfeito do jeito que é e não há nada a ser acrescentado ou melhorado. Não vejo espaço para uma nova versão, ainda que seja muito boa. Vou me surpreender se os jovens não encontrarem o livro em um Kindle perdido na cabana e a tradução demoníaca em um iPod junto com músicas do One Direction e da Demi Lovato, bem na linha de O Padrasto – outro filmaço da década de 80 – que foi provavelmente o remake mais decepcionante que tive a oportunidade de assistir.

A Morte do Demônio

Evil Dead (85 minutos – Terror)
Lançamento: EUA, 1981
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Sam raimi
Elenco: Bruce Campbell, Ellen Sandweiss, Richard DeManincor, Betsy Baker e Theresa Tilly

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