A Teta Assustada (La Teta Asustada)
A Teta Assustada é a metáfora do rompimento. Um país reprimido que só pode se expressar através do inconsciente: seus mitos, seus medos, seus traumas. O corpo de uma mulher expressa o vazio que precisa ser preenchido; a angústia que precisa se acalmar; o pavor de encontrar algo diferente, de perder o controle.
A Teta Assustada é o tipo do filme que me passaria batido se não fosse pelo título pelo fato de ter levado o mesmo trófeu que Tropa de Elite ganhou no ano passado: o Urso de Ouro. Qual não foi minha surpresa, quando descobri que a diretora era Carla Llosa, sobrinha do escritor Mário Vargas Llosa? Bom, deixando as tendências nepóticas de lado, vamos a obra, segundo trabalho da jovem diretora. O chamativo título se refere a uma lenda andina que dizia que as mães vítimas de terrorismo, passavam suas tristezas e seus medos através do leite. É o caso da protagonista Fausta (Magaly Solier) uma garota complexada (Existe alguma que não seja?) e extremamente tímida, que vive nas favelas de Lima e precisa lidar com a morte de sua mãe (que se dá nos primeiros minutos de projeção).
O plano de fundo da trama se dá na tentativa de Fausta conseguir dinheiro para enterrar sua mãe em sua cidade natal (nos altos Andes) antes do casamento de sua prima. A situação é tão surreal que ela chega a esconder o cadáver embaixo de sua cama, enquanto não é remunerada no emprego que arranjou (como empregada doméstica). Trabalhando nessa casa, inclusive, nos deparamos com um frágil arco que contempla a habilidade de improvisação musical de Fausta e a relação com sua patroa, uma famosa pianista. Mas são em momentos como esse que ocorre o desenvolvimento da personagem, sintetizada acima de tudo pela libertação da batata que guarda em sua vagina. Sim. Exatamente isso que você leu. O medo de ser estuprada (uma realidade vivida por sua mãe) fez com que ela escondesse o tubérculo em seu “hambúrguer”. Afinal, como a própria diz: só o nojo para afastar os nojentos.
Esse aspecto metafórico obriga ao espectador prestar muita atenção em passagens que parecem não ter (tanta) relevância. Por exemplo, em um certo momento o tio de Fausta cava uma sepultura para enterrar o cadáver de sua mãe. Acabando por não fazê-lo, o buraco se torna uma piscina na qual todos os parentes e vizinhos vão se divertir. Porém como eu sei que vocês não sabem nem o que é uma metáfora, um bom motivo para ir assistir a obra, é a retratação interessantíssima das favelas de Lima e seus personagens excêntricos, costumes peculiares, religiosidade exarcebada… Como diz o pôster, A Teta Assustada é um filme sobre o medo e a libertação, tema recorrente na sétima arte, mas aqui mostrado de forma original. Para quem gosta de um filme mais “cult” fica a dica. Mas já é bom ir avisando: não se trata de nenhum novo clássico.
A Teta Assustada
La Teta Asustada (95 minutos – Drama)
Lançamento: Espanha, Peru, 2009
Direção: Claudia Llosa
Roteiro: Claudia Llosa
Elenco: Magaly Solier, Susi Sánchez, Efraín Solís, Marino Ballón, Antolín Prieto
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