Algumas coisas sobre financiamentos coletivos
Uma das coisas mais comuns nos últimos tempos tem sido os projetos possibilitados através do crowdfunding, ou, em português, financiamento coletivo. Cês, com certeza, já ouviram falar da parada, e talvez já tenham participado de algum. Acontece que já há uns tempos, tenho tido algumas dúvidas e questionamentos sobre a porra toda, então falemos um pouco sobre isso.
Primeiro, ao básico: Tudo começa com alguém que tenha uma ideia, mas é um pobre fodido. A pessoa então cria todo o material de promoção, teasers, protótipos e o caralho a quatro baseado nessa ideia e mostra para outras pessoas. Essas pessoas podem doar o quanto quiser, acreditando que o projeto é interessante, e que vale à pena ser feito. Para cada quantia doada, há uma (Ou mais) “recompensa”, algo que, se o projeto for bem sucedido, ela receberá em troca de ter acreditado na ideia. Se o projeto não atingir sua meta, ou seja, uma quantia mínima para ser realizado, os investidores recebem seu dinheiro de volta (O esquema “tudo-ou-nada”). A ideia (E o termo) do crowdfunding surgiu em 2006, mas é algo que, na real, sempre existiu: Gente investindo em projetos alheios.
Assim como os sites de compras coletivas antes dele, o financiamento coletivo teve um enorme crescimento nos últimos dois anos. Em termos gringos, o mais famoso é o Kickstarter, e no Brasil o Catarse. Mas, claro, não são os únicos: Impulso e ComeçAki (Que nome tosco) são dois outros exemplos brasileiros, já “no estrangeiro” tem o Indiegogo (Outro nome idiota) e o RocketHub.
Cada um tem sua política particular: Catarse e Kickstarter, por exemplo, não aceitam “causas pessoais”, como fazer uma viagem ou comprar um carro, ao passo que o ComeçAki aceita. Há também os sites que tem um foco específico: O Vakinha (O pioneiro no Brasil, mesmo com um formato ligeiramente diferente) e o GoFondMe praticamente só trabalham com causas pessoais; o Queremos! só trabalha com música, como diz o slogan “seu artista favorito na sua cidade”, ou seja, cê financia um show naonde cê mora; o Razoo é sobre investimentos, projetos que tragam um retorno para quem os incentiva (E cria); enfim, há dezenas de tipos diferentes, pra cada tipo de projeto e público alvo.
E, apenas para não passar batido, há também o crowdsourcing (“Ainda sem tradução oficial”, mas algo como “criação cooperativa”). A diferença é simples: No financiamento coletivo, uma galera investe em um projeto já foi desenvolvido, “que esteja pronto, mas que só falta fazer”, enquanto que no crowdsourcing um monte de gente cria e desenvolve um projeto, AKA “trabalhem aí na minha ideia”, e no final, quando cê estiver satisfeito com o resultado do desenvolvimento, pega tudo que recebeu e escolhe alguém, dentre os que já trabalharam no projeto, para fazer o produto final. Em suma, no crowdfunding alguém financia uma ideia sua, e no crowdsourcing você recebe constante feedback para uma ideia, e, no final, contrata alguém para realizá-la (Por um preço muito mais baixo que o modo convencional). Crowdsourcing, ao que eu saiba, ainda não rola no Brasil, mas alguns exemplos são o 99designs (Criação de logos para marcas), Quirky (Para invenções) e o Crowdflower (Para “informações” de todo tipo).
Nota do editor: A grosso modo, o Bacon é um site de crowdsourcing de textos, se você for ver. Todos os atuais membros eram meros leitores, feito você, ô da poltrona.
Mas chega desse tom de documentário. Nesses dois últimos anos, vários e vários projetos foram desenvolvidos na plafarma do financiamento coletivo: Álbuns de música, HQs, jogos, projetos comunitários, filmes, eventos, peças teatrais e o que mais você puder pensar. Alguns acham uma baita putaria financiar uma causa própria, tipo o Laerte, que queria ter peitos, outros acham algo bem justo, afinal, financia quem quer, mas há um fato inegável: Milhares de projetos, em todo o mundo, só “sairam do papel” por causa do financiamento coletivo.
Pensem nisso: Alguém, que você provavelmente nunca viu na vida, te diz que tem uma ideia legal. Ele não tem praticamente nada para te provar isso, só meia dúzia de imangens “de como vai ficar” e disposição para fazer o troço. Cara, é muito foda pensar que você está investindo em algo que jamais existiu, e sua única garantia é a palavra de alguém que você não conhece.
Porque assim, se o projeto não rolar, não atingir a quantia mínima, você recebe seu dinheiro de volta, o próprio site do financiamento te garante isso. Entretanto, se o projeto der certo, atingir (Ou passar) a meta, é entre financiadores e financiados: Se a pessoa der calote em todo mundo, o site do financiamento não se responsabiliza. Não estou falando que seja injusto ou errado da parte do site, mas é um puta voto de confiança que você deposita em alguém que, até onde você sabe, pode ser um ladrão de jóias, um estuprador ou até um corinthiano. Vale também a explicação: Se um projeto não atinge sua meta, o dinheiro é devolvido, mas se atinge a meta e passa do valor mínimo (Há projetos que receberam mais de 200% do valor da meta mínima), todo o valor vai para o projeto, a “sobra” não é devolvida.
Só no Catarse são mais de 500 projetos bem sucedidos, seja sobre cinema, quadrinhos, eventos, música, teatro, dança, fotografia e literatura discutível issaê. São mais de 7 MILHÕES de reais em projetos que no formato tradicional provavelmente não existiriam. Não é o assunto do texto, mas é inegável que a área do “entretenimento” é dividida em grupos que, obviamente, se ajudam. Vá em QUALQUER sala de teatro e eu garanto que se você começar a conversar com alguém lá, a pessoa irá reclamar da dificuldade de ter uma chance, um espaço. E isso vale pra tudo: Quer mercado mais filho da puta que a música? E mais panela que o jornalismo? E mais fresco que o cinema?
Serei redundante: A internet é, provavelmente, a ferramenta mais poderosa dos últimos 30 anos, e uma das maiores invenções da humanidade. Caras, nada mais justo que usá-la para possibilitar o que “o mercado” não permite. Não é tão perceptível quando falamos sobre uma HQ, um jogo ou um livro, mas pensem assim: Tem gente que usa o financiamento coletivo para criar documentários, matérias jornalísticas, eventos com milhares de pessoas. Pode não ser algo bom ou útil (E muitas vezes não é), mas quando uma ideia, sem nenhuma garantia, mobiliza milhares de pessoas, ela é relevante.
E caras, vou falar a real: Tem MUITA coisa boa saindo disso. Pessoalmente acompanho as áreas de HQs e jogos, mas sei que cinema está muito bem representado, com vários curtas, dezenas e dezenas de assuntos diferentes, de animação 2D à drama-de-novela. A área científica também: Tem gente que financiou até sequenciamento genético; chega a ser absurdo a quantidade de projetos comunitários bem sucedidos, nas mais variadas regiões do país e com diversos focos; o jornalismo, mesmo não se saindo tão bem, tem sempre um projeto novo; creio que jogos (Principalmente os RPGs, que tão crescendo pra caralho nos últimos tempos) só deve perder pra cinema e música.
Claro que ainda há areas (Ou seriam, especificamente, os projetos?) que não se acertaram com o formato: Esportes, gastronomia e design são algumas delas. Projetos voltados pro humor são praticamente irrisórios. Irônico, já que nos EUA esses são uns dos maiores focos. Curiosamente, projetos voltados para a própria internet também não vingam. Talvez seja uma questão de tempo, talvez não seja… É até meio estranho ver coisas que, no Brasil, fazem sucesso não se saindo bem no financiamento coletivo… Bom senso ou saturação, vocês escolhem.
Ainda sim, não é um sistema livre de falhas. Que nem falei lá em cima, cê pode tomar um calote. Claro que seria meio estranho alguém se dar o trabalho de fazer todo um projeto só pra conseguir roubar algum dinheiro, afinal, tem posto 24 horas e ônibus lotado pra isso. Quem se dá esse trabalho todo provavelmente quer ver o projeto realizado, mas isso também não significa que um bom resultado seja alcançado.
O financiamento coletivo é simples: Depois de conseguir a meta mínima, você paga a parte do site (Sim, há uma porcentagem pra eles) e a partir daí, é problema seu como você vai fazer a parada. É você que tem que correr atrás de tudo, pensar nos detalhes e, claro, recompensar quem te apoiou. Mas cara, isso não é tão fácil: Há problemas no meio do caminho, imprevistos. Obviamente que ao começar um projeto tudo isso já deve estar acertado, no estilo “só falta o dinheiro”, mas nem tudo é assim. Não conheço nenhum autor independente que não viva reclamando de atraso na gráfica, por exemplo. Não quer dizer que não existam bons motivos por trás de um atraso ou uma mudança de planos, mas a partir do momento que alguém deposita confiança e dinheiro no seu projeto, ela quer o retorno.
É claro que há uma tolerância maior. É um início, um projeto novo, e as pessoas tem que entender isso. A gráfica atrasa, mas não significa que ela goste de atrasar. No fim, se por um lado é ótimo ver seu projeto financiado, há também um monte de trabalho e responsabilidade depois disso. E os financiadores tem total direito de reclamar e cobrar pelos resultados, é o justo. Já vi alguns projetos que prometiam tantas recompesas, por valores tão baixos, que tive certeza que aquilo tudo não seria entregue. Fode o dono do projeto, por ser um idiota; fode quem financiou; e fode o sistema como um todo, afinal, nego já tomou no cu uma vez, e vai ficar de pé atrás na próxima. “A sua falta de planejamento de um pode impedir o projeto alheio de acontecer”.
Também há o fator pessoal: Não é porque alguém tem uma boa ideia que ele saberá executá-la. Quanta gente por aí não é completamente incompetente em algo, mesmo sendo legal? Tem gente que tem uma memória de merda, tem gente que não sabe controlar gastos desnecessários e tem gente que tem uma ideia foda mas mora no Amapá. Sacaram? A execução de um projeto nunca é garantida, e nunca poderia ser. Não dá para prever tudo. Quem tem um projeto deve se preparar ao máximo, afinal, todo projeto corre o risco de se sair bem e ser financiado.
E aqui entra outra questão, que é uma das mais importantes: A publicidade. No fim das contas, sua ideia pode ser a melhor possível, você pode estar amplamente preparado para realizar o projeto inteiro e tem certeza absoluta que há demanda para o que vai fazer, mas se você não alcança seu público, seu projeto falha. Creio que esse foi um grande problema para quem resolveu partir pro financiamento coletivo quando o troço ainda tava começando: O público não sabe como é, como funciona, então não se arrisca.
É relativamente comum eu ver vários projetos bem meia boca, coisas que nunca aconteceriam de outro modo, obter êxito porque tiveram uma boa campanha. No fim das contas, o quão bem você promove seu projeto é o que vale, e não o projeto em si. Não é uma questão de um projeto merecer mais que o outro, mas sim o que ele apresenta: Trabalhos sem criatividade, temas comuns, recompensas sem graça. Porra, nego reclama que o cinema nacional só mostra favela, mas aparece um projeto “na comunidade” e o troço vai pra frente?! Qual a lógica da parada?!
A partir do momento que a indicação de uma pessoa, site, canal, etc. vale mais que a ideia em si, todo o espírito da coisa morreu. É praticamente um cabide de emprego, sacam? “Financiem essa parada do meu cunhado aqui e eu te cutuco no Feiçe“. Se o financiamento coletivo funciona justamente como uma alternativa para o mercado convencional, esse “me ajuda a te ajudar” é o equivalente às panelas que dominam e restringem o mercado. Ter seu projeto financiado na base da publicidade gerada em cima dele, e não dele por si só, é matar o formato de investimento. O projeto DEVE se garantir a partir da ideia inicial, das recompensas que oferece, da demanda que tem e, principalmente, da finalidade a que se propôe. Um projeto que tem seu sucesso garantido por ser criado por uma determinada pessoa e/ou ter o apoio de quem quer que seja, é um projeto falho. É um fracasso.
No parágrafo anterior, falei das bases no qual um projeto deve se fiar: A ideia inicial, as recompensas, a demanda e a finalidade. Creio que as três primeiras sejam óbvias, afinal, a ideia é necessária, a recompensa é o agradecimento a quem financia e a demanda, obviamente, é o que determina se aquele projeto tem espaço, mas a finalidade é um pouco diferente.
Já acompanhei vários projetos, e, que eu me lembre, nunca vi nada sobre a tal finalidade. Por finalidade refiro-me ao “papel” que o resultado do projeto terá… Assim: A finalidade do financiamento coletivo é, obviamente, a realização e o lançamento do que quer que seja. Mas qual a finalidade do produto em si? Tipo, beleza, cê abriu o financiamento porque quer publicar seu livro, mas por que caralho você quer publicar seu livro?! Pegaram?
É algo que, pra mim, faz falta. É muito na onda do “vamos fazer esse projeto porque sim”. E a motivação? Que resultado cê espera com isso? Afinal de contas, por que caralhos você quer que tanta gente confie em você, acredite no seu projeto e o financie? Se for “fazer por fazer”, beleza, mas ao menos me diz que é isso, que não há nenhuma pretensão na coisa toda, só a satisfação de ver uma ideia realizada. A falta de motivo não é um problema, mas ignorar esta questão, que, provavelmente é a mais importante de todas, é um problema sim.
E assim chegamos ao que, para mim, é o ponto principal deste post: O pós-financiamento. Seu projeto foi bem desenvolvido e bem planejado, atingiu o público alvo, foi financiado e as recompensas foram entregues, ou seja, tá todo mundo feliz… E tem razão para estar, mesmo com alguns imprevistos, deu tudo certo… Mas e depois?
Voltemos aos nomes dos sites de financiamento coletivo, por mais bobos que alguns sejam: Kickstarter, ComeçAki, Impulso, Catarse.
Pra você que é burro:
Catarse
ca.tar.se
(grego kátharsis, -eós, purificação)
s.f. Medicina. Religião. Filosofia. O mesmo que purgação ou purificação. Refere-se à libertação do que é estranho à natureza do sujeito.
-Estética, Teatro: Num espetáculo trágico, refere-se ao desenvolvimento de uma espécie de purgação de alguns sentimentos, nomeadamente, de pavor ou de compaixão, do público.
-Medicina: Ação de evacuar os intestinos.
-Psicologia: Tratamento das psiconeuroses, que consiste em estimular o paciente a contar tudo o que lhe ocorre sobre determinado assunto, a fim de obter uma “purgação” da mente.
-Psicologia: Ato de liberdade produzido por certas atitudes, principalmente, representado pelo medo ou pela raiva.
-Psicanálise: Processo para trazer à consciência do ser as emoções ou sentimentos reprimidos no seu próprio inconsciente, para que ele seja capaz de se libertar das consequências ou problemas causados pelos mesmos.
-Retórica: Segundo Aristóteles, a “purificação” experimentada pelos espectadores, durante e após uma representação dramática.
Pense nos nomes por um segundo. Kickstarter, algo como “pontapé inicial”, Impulso e ComeçAki são um tanto óbvios, Catarse tá aí em cima. Todos eles colocam como se fossem “apenas o início”. Aquele financiamento coletivo é “aquela força”, a chance que tão dificilmente se consegue do modo convecional. A questão é que eu não vejo esse “depois”.
Não há o que discutir quanto ao sucesso do financiamento coletivo em si, mas é absurdo o como o pós-financiamento é falho. Em outras palavras, as pessoas não aproveitam a chance que tem, não aproveitam o tapa inicial. Vejam só esse projeto aqui, o Runicards. Ele arrecadou SESSENTA MIL REAIS, ou seja, 507% da sua meta. É um projeto recente, então não teve tempo de ser finalizado ainda, mas percebam no que ele chegou: Cinco vezes mais do que queria, num valor que cê pode comprar um apartamento ou até mesmo uma casa.
Runicards teve uma campanha de publicidade excelente, juntou dinheiro pra caralho. E ele não foi o único: Há dezenas de projetos que juntaram MUITO mais do que precisavam, mas ainda sim “morreram”. Não tiveram continuidade. Quero dizer, pra onde vai tanto dinheiro extra assim? Porque não há uma continuação do mesmo projeto ou o investimento em outro projeto? Claro que desse “extra”, uma parte vai para suprir os financiadores, cubrir custos e tudo mais, mas ainda sim sobra, e sobra bastante. Você se importa tão pouco com o seu próprio trabalho a ponto de deixá-lo estagnado só porque já alcançou o “sucesso” que queria?
Quem financia um projeto, mesmo que veja que ele não vai ter sucesso no financiamento, acredita naquilo que é proposto, acredita nas ideias daquela pessoa: Eles são seu público. E você pode (E deve) contar com essas pessoas nos seus próximos projetos, sejam eles através do financiamento coletivo ou não, ou ainda na continuação do mesmo projeto. Ok, você já alcançou seu objetivo principal, seja ele o que for, mas alguma coisa deve ter sobrado: Novas ideias, algo a melhorar, sei lá, qualquer coisa.
É um problema ainda mais gritante quando se trata de um projeto que PRECISA de feedback: Um evento, uma “ação social”, o desenvolvimento de um software. De um jeito de outro, essas coisas são AÇÕES, elas geram, necessaria e intrinsecamente, resultados. Ações influenciam pessoas, influenciam outros projetos, possibilitam novas criações e dão retorno para quem as realiza, e mesmo assim vejo que após algum tempo, o projeto em si simplesmente para. Algo como “O encontro entre domadores de jabotis foi um sucesso galera, mas agora vamos parar de falar disso. Pra sempre.”. Caralho, COMO ASSIM?!
O mesmo vale para obras como álbuns, livros, ilustrações, enfim, coisas que tenham tiragens. Quantas obras incrivelmente boas não são absurdamente difíceis de se achar, só porque só foram produzidas uma vez? Isso é ótimo para os sebos, mas péssimo para quem criou o projeto, e ainda pior para quem quer ter aquele material. São coisas que ficam confinadas à duas ou três mil cópias e que param por aí, afinal, a galera já deu sua contribuição, já apoiou o projeto, e agora cabe ao financiado levar o troço para frente. Mas, de novo, isso não rola. E cara, isso é tremendo tiro no pé: Você limita seu público, o alcançe e os resultados do seu projeto… É tipo ter um pau de 25 cm e sempre só enfiar até a metade.
Você pode, por exemplo, me falar algo assim:
Mas nem todo projeto recebe a mais. Alguns recebem só o suficiente para serem feitos.
Sim, é um fato e não há o que debater quanto à isso… Mas sério que é a única coisa que se leva disso tudo? Porra, cê criou um projeto, o desenvolveu, criou uma campanha para divulgá-lo, atraiu as pessoas e, finalmente, conseguiu ter seu projeto realizado. Se foi só dinheiro que cê tirou disso tudo, você é um incompetente de merda.
Vou repetir: Pessoas acreditaram em você, e elas não tinham nenhum motivo pra isso. Só nessa brincadeira cê já ganhou experiência em várias áreas. Aliás, seu projeto sequer precisa ter sido, de fato, financiado pra isso. Cê conhece gente disposta a apostar em você, já tem contato com gente que trabalha no meio, aprendeu sobre seu público, viu como o financiamento coletivo funciona. Cara, se da primeira vez não foi, da segunda vez você já SABE o que tem que fazer pra dar certo. E se na primeira vez já deu saidinho você ein, faça ainda melhor na próxima!
O financiamento coletivo deve ser apenas o início. Fale com seu público, tire dúvidas, peça opiniões. É absurdamente chato o quanto se fala sobre networking, mas ainda sim é válido: Taí o público, as pessoas que podem suprir suas necessidades e as pessoas que podem lhe entregar seu projeto do jeito que você sempre quis. Como já dizia o padeiro da esquina, “tem oportunidades que só aparecem uma vez na vida”, nada te garante que quem te apoiou e financiou uma vez o fará de novo se você não souber como conduzir o pós-financiamento.
Como um balanço geral, creio que o financiamento coletivo ainda tem várias coisas para se acertar, afinal, o Brasil é o Brasil (E não digo isso de forma depreciativa), e o formato deve se adaptar ao cenário nacional. E também há muito o que acertar quando se trada de quem utiliza o formato, seja como financiador ou como financiado: É um troço novo, demora até as pessoas entenderem, de fato, como a coisa toda funciona.
Assim como rolou com os sites de compra coletiva, os sites de financiamento coletivo “vieram pra ficar”, mas devem acabar achando seu nicho, já que atualmente tudo que é ideia vai pro formato, como se fosse garantia de sucesso. Caso não seja óbvio: Não é, nunca vai ser. Uma boa ideia, um bom desenvolvimento, uma boa campanha de divulgação e um bom resultado final no produto em si são imprescindíveis, e sempre serão. E tratem de aproveitar o que quer que recebam.
Por fim, separei alguns dos projetos abertos no momento, e que sejam das áreas que tratamos aqui no Bacon. Deem uma olhada véis, cês já pagam a internet mesmo, e o máximo que pode acontecer é seu dinheiro ficar comprometido por um tempo, para depois ser devolvido para você.
HQs
Apagão Volume 1: Cidade Sem Lei/Luz – Todo mundo que curte quadrinhos tá todo prosa com esse projeto, incluindo o Pizurk. O troço é uma colaboração entre o editor e o capista da MAD daqui do Brasil, e seguinte: São Paulo vive num apagão (!) e foi tomada por gangues, mas chegou o Escolhido (Porra…) pra bagunçar a parada toda. A quantidade de recompensas é simplesmente ridícula: Camisetas, mapas, posters, miniaturas dos personagens e até um shape de skate (É sério)… Vejam vocês mesmos.
Egum – A história de um candidato à governador, corrupto, é claro. Não sei a história, mas esse troço vai ter uma arte incrível cara: São 4 quadrinisas e 3 ilustradores… Pode dar merda, mas a prévia é boa. E chega a ser absurdo a quantidade de recompensas nos preços mais altos.
A Maldição de Boa Fortuna – Vou falar a real para vocês, minha opinião sobre esse aqui balança a cada momento: Em um parece algo incrível, e depois perde totalmente a graça… Seja como for, é sobre uma fazenda mal assombrada, inteira em preto e branco. E, na recompensa mais cara, o criador da parada vai na sua CASA desenhar o que você escolher na sua PAREDE. E quando à isso não há dúvida: É foda.
Música
O Primeiro Espetáculo – Um espetáculo de um dos fundadores do Teatro Mágico, com violino, guitarra, baixo, beatbox, dança e poesia. Caras, não é do meu tipo, mas se conseguirem fazer essa porra toda aí, vai ser impressionante. E no bom sentido.
Videoclipe de Tugboat da Lautmusik – Como deve ter dado pra notar, é pra fazer um clipe. As recompensas não são muito criativas (E nem poderiam ser…), mas se você curte o tipo de música dos caras, é uma boa chance de ver como é os bastidores da parada… Ou fazer um show com eles.
CD Billy & Friends com os Pioneiros do Jazz Paulistano – O nome já diz tudo: É pra terminar um CD de jazz purista. Talvez tenha sido a simplicidade da coisa toda que me chamou atenção… Talvez tenha sido só o jazz mesmo.
Paisagem Invisível, o primeiro CD de Andreia Mota – Não vou mentir para vocês: Peitos. MAS EI, se não fosse minimamente ouvível não estaria aqui, e há várias opções de recompensa, desde músicas separadas até show particular para você e seus amigos.
Cinema
Histórias de Gaveta – Gostei do trailer… E vejam a história: Um irmão é a empregadinha da casa, o outro é um tarado com uma boneca inflável. As recompensas não são grande coisas, mas dá pra sair um filme bem legal daí.
A Caça (La Chasse) – Um curta feito em colaboração entre uma galera do Brasil e do Congo. As recompensas são sem graça e a prévia não parece assim tão legal, mas eu gostei bastante da sinopse e da diretora de arte e da produtora.
Fractais – Eis mais um curta. Eu sei que é um nome genérico e sei que a coisa toda parece ser auto-ajuda, mas não sei porque, eu assistiria esse troço… E eu nunca meti vocês numa roubada.
Documentário Marginal Alado – Um documentário sobre o Chorão, feito por fãs. Caras, a maiorina das recompesas já foi: Tem (Tinha) de tudo, de roupas do Chorão até skates dele… Mórbido talvez, mas se você era fã do cara, corre que tem pouco tempo.
Projeto Prego – Outro curta. Seguinte: O Bruno tá começando sua vida sexual, mas não tá entendendo muito de nada. Caras, esse filme tem tudo pra ser uma daquelas gratas surpresas que aparecem de repente… E também falta pouco pro prazo dos caras acabar.
Jogos
Little Fears Pesadelo – Um RPG em que os jogadores jogam com crianças, enfrentando monstros do armário, o bicho papão e coisas desse naipe. Projeto da RetroPunk. Caras, eu apoiei esse negócio.
Cosa Nostra – Mais um RPG, desta vez sobre a máfia, e, como vocês poderão constatar, já vai ser feito. Sim, já passou a meta mínima, mas você ainda pode participar do troço, e porra, cheio de recompensasm maneiras: Chapéus, caixas personalizadas, baralhos, dados e tudo mais. Pacote completo mesmo.
Contágio – Um Cardgame sobre zumbis, de humor, que se passa no Brasil, e que também já atingiu a meta mínima. Um monte de recompensas, um monte de opções… É coisa pra caralho em dois modos de jogo. Também já está perto do final, o que é ruim, já que as metas extras adicionariam ainda mais coisa ao jogo… Ou talvez isso seja bom.
Enfim, é isso, vejam aí os projetos. Há muitos e muitos outros, mas foram esses que me chamaram atenção. Mas já falei demais e o post tá muito grande, então resta apenas o clichê: Boa sorte para todos esses projetos. Uns já se garantiram, outros tem poucas chances de acontecer, mas né, a esperança é a última que morre… Ou, talvez, estejamos todos em negação.
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