Canções para cortar os pulsos: A Música de Tom Waits

Música terça-feira, 23 de novembro de 2010

Pra Tom Waits, todo homem fica feliz com um copo de bourbon, uma mulher com cabelos oxigenados e uma lata de feijões quando a solidão bate fundo. É um alvo baixo, devemos confessar, mas quem disse que não é verdade?

 Capitão Borderline?

Heart Attack and Vine

Considerado o último dos beatinks vivo, costumo dizer aos desavisados que ele está para a música assim como o Charles Bukowski está para a literatura. Quem é Bukowski? Ah, mas você também não sabe? Às vezes, o ser humano deixa a baixeza se disseminar nas suas atitudes. Mas isso não significa que Tom Waits seja um artista de quinta categoria, com objetivos de décima. Ele retrata um mundo muito particular, um mundo em que perder é sempre uma constante e, por isso mesmo, o diabo apronta as suas. No entanto, o diabo não existe, foi deus mesmo quem aprontou toda essa bagunça, quando estava curtindo uma bela birita…

Rain Dogs

Thomas Alan Waits é americano, nasceu na Califórnia no fim dos anos 40 e está na ativa a mais de 40 anos, tendo lançado mais de 30 discos. E daí? E daí que se você nunca o ouviu, você não sabe o que é escolher uma boa música pra se embriagar de verdade, seu fanfarrão! A música dele foge a qualquer tentativa de classificação. E, no entanto, é inconfundível. Tom Waits é (E continuará sendo) um subestimado cantor, compositor, escritor e ator, mas quem já atentou pra sua existência costuma dizer que não se arrependeu.

Black Wings

Ofuscado pela década de 70 e suas bandas exibicionistas, Tom Waits foi influenciado, influenciou (E ainda influencia) muita gente foda. Semelhante a outros como Leonard Coen e Serge Gainsburgh e influencia para gente do naipe de Nick Cave, Mark Sandman, Mark Lanegan, e até mesmo Iggy Pop, que paga pau pro cara e recentemente resolveu copiar o estilo trovador de botequim do mestre e amigo em seu mais recente disco Préliminaires de 2009. Falando em cana, o velho safado Charles Bukowski foi seu colega de copo.

 Porra, cadê a cana?

O cara é uma multiplicação de simplicidades, até chegar a um estado de felicidade tal que não sabemos para onde nos virar. Suas músicas são completamente recheadas de camadas, ironia e sarcasmo, instrumentos fora do padrão a que nossos ouvidos estão acostumados. Dizem que ouvi-lo é como passear por “uma cidade fantasma aonde tudo range e arrepia ao mesmo tempo que somos dominados por estranha e sutil sensação de paz”.

 Rock and roll!

Compositor e multi-instrumentista, Tom surpreende desde a voz arenosa até a inverossímil combinação de instrumentos musicais, passando pelas personagens insólitas de seus versos e a ambição teatral da sua concepção estética. Tudo foi lhe dando um certo distanciamento em relação aos contemporâneos, a ponto de facilmente se esquecer o depurado compositor de canções que ele é. Waits faz parte da mesma linhagem de “frágeis senhores da guerra” em que se incluem compositores como Roy Orbison, Bob Dylan, Lou Reed, David Bowie, Elvis Costello, Leonard Cohen, Neil Young e Nick Cave.

 O otimismo de um cínico…

Simples sem ser simplório, ele arranca de suas entranhas composições fáceis de serem assimiladas, mas que são complexas até a medula, numa linguagem quase cinematográfica. É interessante uma fala do próprio Tom Waits, ao dizer que “sempre quis viver dentro de canções e delas nunca voltar”. É o que tem feito: Vivido dentro das canções que lhe são favoritas, compondo outras tantas, desdobrando-as. Reproduzindo histórias que são fontes de uma existência, recriando cenas e falas que definem uma vida. Estão nas letras de The heart of Saturday night (1974), Nighthawks at the diner (1975), Blue valentine (1978) e nos incríveis Rain Dogs (19985) e Bone Machine (!992). Em outra oportunidade, ele diria: “Comecei escrevendo as conversas das pessoas ao meu redor”. A dispor no disco The Black Rider (Uma pequena colaboração com William S. Burroughs e Robert Wilson), é um sujeito que nos leva a refletir sobre que raios estamos fazendo aqui, neste mundo repleto de imbecilidades e desgraça, pergunta pertinente a qualquer metafísica que se preze.

Going Out West

Waits, no seu aspecto tosco, voz roufenha e tom sarcástico, é dono de uma enorme sensibilidade. Um poeta dos tempos modernos. Não se pode dizer que seu universo de canções limita-se a baladas e rock, já que ele também compõe (E muito bem) tangos (El tango de Roxane), blues (Heartattack and Wine) e rumbas (Jockey Full of Bourbon) que funcionam, mesmo com instrumentação desafinada e letras sem nenhum nexo aparente.

 Não, isso não é O estranho mundo de Jack

E suas sempre especiais participações em filmes costumam serem sempre memoráveis, vide Drácula de Bram Stocker (Se Coppola foi um dos poucos artistas que foram no fundo do coração das trevas americanas, Waits faria o mesmo, contanto que sua escuridão fosse divertida), Down by Law, Sobre Café e Cigarros (Onde ele contracena com Iggy Pop), O imaginário do Doutor Parnassus (No papel do Diabo) e O Selvagem da Motocicleta. Da relação com Bukowski, sobraram letras de músicas e interpretações de poesias que emocionam tanto quanto quando lidas pelo velho safado. As referências ao copo afloram no mundo decadente de onde surgem suas composições.

 Tá olhando o quê?

Agora fiquem com o Queens of the Stone Age tocando uma versão cover de Goin’ Out West, do disco Bone Machine, música presente na trilha do Clube da Luta.

Queens of the Stone Age – Goin’ Out West Cover

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