Headless Cross – Black Sabbath: Além de Ozzy e Dio

Música quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Certo. Que “Paranoid” é um grande clássico do roquenrôu todo mundo sabe. Que Ozzy Osbourne é um grande ícone no mundo do rock (Independente de subdivisões. Não interessa se o cara é metaleiro, indie, emo, tanga, o que for. Nego conhece o Ozzy, com certeza. E sabe que ele é um grande ícone do bagulho todo) todo mundo também sabe. Que “Black Sabbath” e “War Pigs” revolucionaram a música trazendo um tom mais sombrio ao rock todo mundo também sabe, ou pelo menos desconfia. Enfim, vir aqui escrever uma matéria sobre o Sabbath seria com certeza o óbvio do óbvio. Mas isso, claro, se a fase de Ozzy Osbourne no Sabbath fosse a única.

Quase todo mundo conhece a banda na época em que o Ozzy cantou, e muita gente conhece também a fase Dio do Black Sabbath. O que é impressionante mesmo é como isso contrasta com o pouco de gente que chegou a ouvir o som deles com Glenn Hughes, Ian Gillan e Tony Martin (eu provavelmente ainda tô esquecendo um ou dois). E o que é terrível nisso tudo é que os fãs xiitas de Ozzy Osbourne geralmente se recusam a ouvir o resto das músicas do Sabbath, afirmando que a banda sem o Ozzy é ruim sem sequer ter ouvido as músicas. O resto dos fãs de Sabbath, salvo excessões, passam oitenta por cento de suas vidas na eterna discussão sobre Ozzy Osbourne e Ronnie James Dio. “Ai, que a época do Ozzy foi a clássica”, “Ai, que o Dio canta muito mais”. Nessa brincadeira, acabam se esquecendo que o Sabbath não parou com o Dio.

Pois então. Hoje eu vou tentar mostrar um pouco do “pós-Dio”, e, quem sabe, trazer mais música boa pra vocês. Talvez eu acabe transformando isso numa série de posts, também. Mas isso depende muito de eu deixar a preguiça de lado. O que, aliás, é bem complicado. Se bem que eu pretendo falar sobre o Born Again, disco onde Ian Gillan (Deep Purple) faz o vocal.

Comecemos, então, com Tony Martin(1987-1991 no Black Sabbath). Ele, que antes era vocalista do The Alliance, entrou no Sabbath para o álbum The Eternal Idol, que originalmente seria gravado com Ray Gillen no vocal. Segue abaixo uma review de Headless Cross, o segundo álbum da época de Martin.

O som começa com uma faixa introdutória, Gates of Hell, faixa de um minuto e seis segundos de sons estranhos. Uma introdução sombria. Perfeita para o que talvez seja um dos trabalhos mais obscuros do Sabbath.

Em seguida, o som da bateria molda o esqueleto do álbum, e a guitarra de Tony Ioomi entra, dando vida, enfim, ao cd. Após o riff introdutório, Tony Martin entra com seu vocal, e assim explode Headless Cross, a música título do cd. A música cresce, aos poucos, com picos no refrão. A voz de Martin tenta lembrar a época do Dio, mas com um toque pessoal completamente diferente. A letra mostra que o álbum está de certo modo mais sombrio e desesperador do que o Sabbath costuma ser, equiparando-se, talvez, á própria Black Sabbath. O som se mantém um pouco frio, obscuro. E, claro, não pode faltar uma maravilha de solo do Ioomi.

Devil and Daughter traz finalmente a explosão que se aguarda durante toda a música anterior. O som começa a correr mais rápido, como se tivesse chegado finalmente á corrente principal de um rio. O som aqui é legal pra cacete, até.

O som então murcha, iniciando-se a música mais sombria do álbum todo: When Death Calls. A introdução do teclado vai te preparando para um golpe da própria morte, quando entra o refrão. E ele vem, como um corte preciso da foice da própria. Do caralho o riff do refrão, aliás. Simples, mas do caralho!

Kill in the Spirit World começa, e mais uma vez somos transportados á corrente principal do rio. O som é fluido, algo como um Hard Rock das trevas, ou algo assim. A música desacelera, no meio, dando início a um solo completamente medonhão do Ioomi. Após a passagem sombria, mais uma vez nos vemos na fluidez da música. Outra vez, uma fluidez sombria. Algo como atravessar um rio entre duas tribos vudu, sei lá.

Mais hard rock, ainda sem perder a fluidez. Call of the Wild irrompe num riff que sintetiza bem o hard rock oitentista da época. A música logo volta ás sombras, claro, mas se mantém bem animada.

Como um trovão, Black Moon irrompe. A música vem com uma levada mais forte, digna de hit. O refrão traz tanto a alma do Black Sabbath quanto o rock’n’roll da época. A bateria de Cozy Powell traz ainda a fluidez das músicas anteriores, mas a guitarra dá a ela uma força que ainda não havia sido alcançada no disco.

E é então que, para o grandioso final, surge Nightwing. Ela chega lenta, sorrateira, parecendo o merecido descanso ao final de uma viagem através da escuridão (o baixo fretless aliás ficou do caralho!). Mas é então que Powell dá o primeiro aviso da ascensão final das trevas, seguido pela guitarra tenebrosa de Ioomi. A música tenta voltar ao que era, mas agora já está manchada pela sombra profana do Sabbath. E aí, claro, não tem baladinha que se segure. A doce canção logo vira uma ode ás trevas, e as tentativas de transformá-la de volta numa canção final de repouso são todas em vão. Se você chegou nesse ponto, o próprio cramunhão já levou sua alma e qualquer esperança não só pode, como deve ser abandonada.

Enfim, se você procura algum som novo do Sabbath, se você quer algo além de Ozzy e Dio, eis aí uma bela opção. Claro, não vai soar quase nada como o Sabbath do Ozzy. Se é isso que ce tá procurando, vá ouvir Sabbath Bloody Sabbath ou Master of Reality, rapá!

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