Meu Sério Problema com Cinema Brasileiro – Ufanismo Presepado
Toda a minha coluna (E minhas motivações) de hoje vai se basear em uma única e simples afirmação: O brasileiro não tem a cultura do patriotismo. Esportes sendo a única exceção (E coisas idiotas, como votar no Cristo como maravilha do mundo). Pronto. E isso não é uma coisa ruim (Para falar a verdade, eu até acho bom que nós não nos achemos especiais por nascer em um pedaço de terra cujo sentido é dado por traçados imaginários). Ainda assim, o cinema brasileiro tenta, por algum motivo, criar um clima de ufanismo, de orgulho nacional. E isso ocorre em duas escalas: Uma micro (Dentro do próprio filme) e uma macro (O próprio filme). Mas o cinema americano também é assim, levanta a mão o nosso colega com a camisa do Chê ouvindo Chico Buarque.
http://www.youtube.com/watch?v=Kh9S1Hk975U
Acontece que o patriotismo é uma marca da cultura americana. A bandeira americana é praticamente peça obrigatória (Bastidores: Os produtores ganham sanções de custos, por mostrarem ela nos filmes) em qualquer filme. Enfim. Mas isso é traço deles – os franceses, por exemplo, mais patrióticos que os próprios americanos (E com uma indústria cinematográfica de respeito) não se preocupam em te esfregar aquela bandeira de 3 cores na sua cara. Mas por algum motivo, o brasileiro, tão preocupado em “confrontar a cultura americana que adentra nossas entranhas”, só faz mostrar que a cultura americana está nas nossas entranhas (E que incomoda), tentando reafirmar a cultura brasileira. Só que isso é feito de uma maneira, como diz o título, presepada – e que não gera nada mais do que vergonha alheia.
Um exemplo extremamente didático é o filme Segurança Nacional, uma vez que o propósito dele é ser um filme brasileiro de ação americano.
http://www.youtube.com/watch?v=2aOTvLTTMM8
É uma combinação dos clichês americanos: O presidente negro, a cena com a bandeira, o protagonista galã, os vilões do estrangeiro, a bomba, a música descaradamente baseada na usada no trailer de Cavaleiro das Trevas… Com os problemas já conhecidos da indústria nacional – como os aviões em um 3D de fazer chorar, e as interpretações “isso só funciona em novela”, como a Ângela Vieira dizendo “Existe realmente a necessidade de reforçar a vigilância do espaço aéreo” como se tivesse lendo um texto (E adivinhe, ela está), e sem esquecer, é claro, do elenco saído integralmente do casting das novelas da Globo.
Mas isso é só um dos lados (O menos pior, ouso dizer) do que eu quero dizer com “Ufanismo Presepado”. A verdadeira merda se forma quando se tenta fazer um filme sobre algum personagem ou fato histórico. Aí, meu amigo… Junte aquelas interpretações de sotaque pavorosas, a uma tentativa frustrada de transformar tal personagem ou evento em um mártir ou algo épico (Geralmente com um caminhão de bombeiros e um caixão, no final do filme), uma crítica a ditadura e/ou ao sistema capitalista e, quando se trata de filme de época, um desperdício de cenários. Enfim, uma aula de história que mais busca ativar o sentimento de orgulho patriota do espectador do que entreter o próprio. Bem, acho que com alguns trailers eu posso deixar meu ponto de vista claro.
http://www.youtube.com/watch?v=lP_l2IFiQzs
O primeiro, um filme sobre a tentativa de assassinato de um presidente. O segundo, uma famosa entrevista de um ex-presidente. Qual te chamaria mais atenção pela sinopse? O primeiro, é claro. Mas basta olhar os trailers (E ignorar todo aquele blá blá, que eu já falei quanto interpretações e etc) para ver a diferença abismal do roteiro. Enquanto o primeiro se preocupa em ser extremamente didático, querendo dar uma aula de história, ou mesmo explicando a personalidade dos personagens a cada frase, o segundo busca ser divertido e criar um clima de desenrolar épico. Basta uma frase simples “O homem que cometeu o maior crime da história do país jamais será julgado” para dar todo o background que a gente precisa da história.
Aqui uma comparação interessante. O filme do Mauá é um primor em questões de cenografia (Mesmo que mais rude que a de Elizabeth) – mas olha como o próprio trailer já dá o tom de ufanismo presepado da história. Enquanto o filme brasileiro busca engrandecer o personagem, dando fatos históricos como “Ele sonhou em um país do futuro…” ou “Vou construir a primeira ferrovia do país“, e as diretamente adaptadas de um livro de história “Eu tenho 12 milhões de libras, mais que o orçamento do império” e “Das 6 empresas mais importantes do Império, ele é dono de 4” criar o conflito com frases “bom moço/mau moço” como “Todos os sonhos devem se subordinar ao sonho do Imperador” e “Ideias e dinheiro não combinam”, em Elizabeth (Usando a trilha do Steve Jablonski, que deve aparecer em 10% dos trailers mundiais, incluindo o de Avatar), basta um ângulo de câmera de cima para baixo e uma interrogação “Essa Armada Espanhola está no mar com um exército de 10 mil homens” para que o mote da história seja entregue. Você já sabe quem é o inimigo, já sabe a situação desesperadora de Elizabeth, e já sabe que o filme se trata de como ela age diante dessa situação – permitindo que o resto do trailer construa, com êxito, um tom épico. É a dicotomia, sutileza (E às vezes até desrespeito) da presença de explicações históricas ao lado do tom épico de mostrar o poder do personagem e do evento, que a tendência brasileira de “precisamos dar uma aula de história para o público brasileiro e criar um sentimento patriótico” não permite alcançar. A aula e o sentimento devem ser consequência.
O objetivo deve ser entreter. Sempre. E enquanto o cinema brasileiro não aprender isso com seus filmes mais bem sucedidos (Auto da Compadecida, Cidade de Deus, Tropa de Elite) a tendência permanecerá de ter um ou outro filme que desponte a cada par de anos. Histórias nós temos, e o pior, sabemos contar melhor do que qualquer outro povo. O problema está em adaptar isso para a telona.
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