Modinha de Biografia

Analfabetismo Funcional terça-feira, 15 de junho de 2010

Algo que me surpreende a cada visita a uma livraria é o crescente número de biografias que estão sendo publicadas. Ao que me parece, a febre começou no exterior (Leia-se Estados Unidos) e há alguns anos dominou as terras tupiniquins (Muito brega essa expressão, né?). O fato é que pra todo lado que se olha há uma biografia de alguma celebridade ou personagem histórica, e as ficções perdem algum espaço para as histórias da vida (supostamente) real.

Não vejo problema algum nessa nova modinha. Na verdade, eu gosto muito ler biografias. Até já indiquei a de Tim Maia por aqui (Vale Tudo – O som e a fúria de Tim Maia, de Nelson Motta). Desde que se trate de um biografado que tenha uma vida interessante e que a pesquisa seja de qualidade, o livro tem boas chances de ser melhor do que muita ficção.

Mas, quais seriam os motivos para essa tendência de supervalorização das biografias?

A primeira razão, sem dúvidas, é a falta do que fazer curiosidade inerente ao ser humano. Tal característica (A curiosidade) é mais ressaltada quando se trata de um fã perante seu ídolo. Nos casos mais histéricos, os fãs querem saber desde banalidades como a marca de chocolate preferido do seu grande astro, integrante da banda Restart ídolo, até como foi sua infância e vida antes da fama. O mercado editorial – que não é bobo nem nada – investe alto em celebridades da moda, ou personagens históricos que estejam completando centenários de morte ou algo que o valha. Se a biografia não for autorizada, as vendas serão mais ainda mais alavancadas (E as confusões também. Mas esse foi o tema de minha monografia e não se fala mais nisso).

A segunda razão aplica-se somente às chamadas “biografias históricas”, e deve-se à crescente valorização desse gênero literário como forma complementar ao estudo da História. Biógrafos se debruçam por anos sobre determinados personagens e acabam escrevendo verdadeiros estudos científicos sobre a época e as circunstâncias em que viveu o biografado. O resultado é que os historiadores e o público que se interessa pelo tema passaram a ver com bastante respeito esse tipo de obra literária.

Já a terceira razão já foi citada quando recomendei Vale Tudo. A ideia se resume nessa frase de Tom Clancy (O escritor cujas obras inspiraram diversos jogos como, por exemplo, Rainbow Six):

Qual a diferença entre a realidade e a ficção? A ficção tem de fazer sentido.

Ok. Eu sei que tem muita ficção que não faz nem um pouco de sentido. Porém, em tese, a maioria busca alguma credibilidade com a realidade. De outro lado, tem muita biografia (realidade) que é absolutamente inacreditável. A biografia de Paulo Coelho (O Mago, de Fernando Morais), por exemplo, relata alguns momentos, digamos, satânicos que mais parecem filme do Zé do Caixão. A questão é que quando lemos uma história muito louca e inacreditável e sabemos que aquilo de fato ocorreu, tudo parece muito mais, digamos, intrigante. Por isso biografias boas tendem a ser biografias com histórias de vida impressionantes.

O quarto (e mais polêmico) motivo que destaco é a falta de criatividade dos autores atuais. Inventar um enredo e ambientar uma história partindo do zero não é nada fácil, a não ser que se tenha muito talento, ou um dom natural. O que ocorre é que, de tempos em tempos, algum tema vira “febre” e surgem zilhões de livrinhos com historinhas parecidinhas. A temática do momento é vampiro. Até onde sei, tudo começou com o criticado/amado Crepúsculo. Depois dele, basta ir em alguma livraria que provavelmente se verá em destaque uma sessão com pelo menos quinze livros com dentes que escorrem sangue na capa, ou “galãs” branquelos com aparência andrógina. Não quero entrar no mérito da (falta de) qualidade de tais livros. Só quero justificar, porque me parece que falta criatividade para os escritores dessa geração que, em sua maioria, acabam se socorrendo nas histórias reais (Biografias) – portanto, com enredo e personagens já prontos – ou então apelam para o tema da moda (Vampiro ou qualquer outra coisa que venda).

Óbvio que os motivos não param por aí. Mas eu vou ficando por aqui para que você, leitor, reflita, tire suas conclusões, leia boas biografias e comente!

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