Mortes nos quadrinhos III

HQs sexta-feira, 09 de setembro de 2011

Continuando minhas reflexões sobre a morte nos quadrinhos, chega o momento de abordar uma das mortes mais marcantes dos quadrinhos, a qual revelarei já já. Como eu disse na parte 1, minha idéia é apresentar mortes marcantes e influentes em meio aos quadrinhos, enquanto na parte 2 eu mostrei que nem sempre é preciso que a morte leve um personagem principal ou heróico para se tornar marcante.

Minha idéia é apresentar mortes que de uma forma ou de outra marcaram os quadrinhos, seja moldando o caráter como foi a morte do Tio Ben, ou que seja lembrada ao longo dos anos como um grande marco. Ou até mesmo mortes mais simples que, como mostrarei nos próximos artigos, podem ter importância fundamental para histórias e eventos.

Mas chega de firula e vamos ao que interessa. Hoje vou abordar a morte do maior ícone heróico do mundo: Superman.

Claro que a idéia da DC Comics era ver o dinheiro entrando em seu caixa, ainda mais que na década de 90 as histórias do Superman não andavam bem das pernas, e a idéia era sacudir o universo do personagem, então porque não matá-lo? Afinal de contas, mortes sempre atraiam os fãs.

Mas, é preciso levar em conta que a morte do Superman não poderia ser, jamais, uma morte simples, era preciso que a história marcasse o mundo, afinal de contas se tratava do ícone do heroísmo, o personagem que deu origem a todos os heróis que hoje conhecemos.

Assim, era preciso fazer com que o público se comovesse, que as pessoas sentissem na pele o que aquela morte significava, trazer a tona todas as características que o consagraram como herói quando em 1938 Jerry Siegel e Joe Shuster deram vida ao Superman.

Esse resgate de valores era preciso, pois “o pai dos heróis” era tachado de antiquado pelos os fãs, que vinham escolhendo as histórias da Image, repletas de violência às narrativas da DC. Portanto, a morte do Superman foi um evento cuidadosamente planejado.

É verdade que inicialmente o herói não iria morrer, já que as histórias anteriores a morte preparavam o terreno para o casamento do personagem com Lois Lane, que descobrira que Clark Kent e o Superman eram a mesma pessoa. Porém com as vendas em quedas, a morte se mostrou uma melhor opção.

Logicamente todos sabiam que essa seria uma morte que não duraria muito, afinal de contas o Superman era o medalhão da DC e de modo algum a editora permitiria que o herói continuasse em baixo da terra por muito tempo, portanto, mais importante que planejar a morte foi elaborar seu retorno.

E assim, apenas ter todo o esqueleto armado para a história foi suficiente para que a DC colocasse em andamento a engrenagem daquela que seria por longos anos a mais importante morte dos quadrinhos desde sua origem.

E o impacto desta morte só veio através de uma ação de marketing pesadíssima, uma vez que meses antes do evento ter início a mídia em geral anunciava que o Apocalypse estava vindo para o Superman. Isso já deixava os leitores encucados, uma vez que o Apocalipse é associado com o fim do mundo, como nos mostra a Bíblia, ou seja, a morte do Superman aparentava estar ligado a algum evento cataclísmico, como a Crise nas Infinitas Terras, que havia acontecido anos antes.

Mas subliminarmente, Apocalypse seria o nome do monstro que mataria o Superman. E isso não é por menos, pois era preciso um ser que fosse páreo para acabar com o azulão, considerado um dos seres mais poderosos do mundo. E para reforçar esse ideal, o monstro inicialmente massacra a Liga da Justiça. Claro que naquela época a Liga não era lá grandes coisas, mesmo assim era o grupo de heróis mais importantes do Universo DC.

E é através da narrativa que a história ganha corpo e tensão. Os autores (Roger Stern, Dan Jurgens, Jerry Ordway e Louise Simonson) mostram que acertaram na mosca ao elaborar o roteiro, já que inicialmente Apocalypse é apresentado apenas como “mais um monstro à solta”, com um nível de destruição um pouco acima do “normal”, e somente pela metade da história é que vemos que a coisa é mais séria do que parece, isso também serve como “desculpa” para a não presença de outros heróis com o mesmo nível de poder do Superman, como a Mulher-Maravilha, por exemplo.

Assim, no rastro de destruição causado por Apocalypse, Superman tenta de tudo para impedir o monstro e a batalha entre os dois se torna épica, tanto que na última edição, onde finalmente ocorre a morte, a narrativa é quase cinematográfica, retratada basicamente por um quadro por página e quase sem falas.

A luta conta com sensacionais seqüências, socos, explosões, porém acaba sendo chata pela demora em chegar ao final, afinal de contas são quase 3 edições só de porrada, mas ideal para leitores ocasionais.

O visual para a criatura também ajudou, já que Apocalypse tinha uma aparência assustadora para um ser de pura fúria, praticamente um Hulk irracional megabombado. Ou seja, muita força e nenhuma inteligência.

Enfim, a importância da morte não está na batalha, mas sim nos expectadores, nos personagens secundários que torcem e rezam para que a batalha acabe com a vitória do azulão. Inicialmente, todos tem confiança na vitória de Superman, porém com o desenrolar da batalha a dúvida da vitória surge em todos.

Assim, no último capítulo a tensão é levada ao extremo, com Superman desesperadamente tentando deter Apocalypse nas ruas de Metrópolis e sendo acompanhado por Lois e Jimmy, e finalmente a morte do herói nos braços de sua amada.

E somente após a morte é que a história ganha um novo significado. Pois pela primeira vez nos quadrinhos, um universo inteiro chora a dor do luto e esta dor prossegue se arrastando por um ano e dando a luz da era sombria que recairia sobre os quadrinhos ao longo da década de 90.

Como já disse, o retorno do azulão era evidente, mas mesmo assim, a DC numa jogada arrisca segurou o retorno dele por 12 longos meses, e assim que o herói ressurgiu com os 4 Supermen, tivemos uma nova reviravolta que acabou marcando outro herói, o Lanterna Verde Hal Jordan, que, devido aos eventos da volta do Superman, acabaria se tornando o vilão Parallax, mas isso é outra história.

De forma geral, esta foi uma morte marcante não apenas pelo trabalho claramente planejado pelos autores, mas pela forte cobertura da mídia, já que todos no mundo souberam naquele ano de 1992 que o Superman havia morrido. E, mais que isso, sua morte continuou sendo lembrada ano após ano, tendo inclusive, publicado em 2002 uma minissérie especial chamada Superman: Dia do Juízo Final que comemorou o aniversário de 10 anos da morte do herói. Além disso, a história ganhou ainda uma versão animada que nem se compara com a história em quadrinhos.

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