Música para se ouvir no convés: Eric Clapton

Música segunda-feira, 05 de novembro de 2007

Pois é. Vou falar sobre blues aqui, mais uma vez. Agora que eu comecei essa bagaça, nada vai me impedir de prosseguir ad infinitum. Da última vez, falamos de Stevie Ray Vaughan, um dos grandes gênios desse gênero musical que empolga pra carái. Dessa vez, falaremos sobre outra lenda viva do blues. O cara é visto como um dos grandes nomes do estilo, sendo imensamente respeitado até por gente que começou antes dele. Ele é… não, porra, ainda não é o Buddy Guy! Eu tô falando de Eric Clapton.

Não se engane pela aparência do cidadão: esse inglês de 62 anos com cara de cidadão pacato e esses óculos de bom moço que ce tá vendo aí ainda detona tudo com uma guitarra na mão. Nascido em 30 de março (como o NegoMedonho, aqui do aoe) de 1945, Clapton teve uma carreira invejável, fazendo sucesso com bandas como os Yardbirds, Cream, Blind Faith e Derek and the Dominos, e também na carreira solo. O cara toca até hoje, criando festivais como o Crossroads, onde vários guitarristas bons pra cacete se juntam pra tocar. Uma maravilha, devo ressaltar.

Clapton nasceu quando sua mãe, Patricia Molly Clapton, tinha 16 anos, e criaram o cidadão achando que sua avó era sua mãe e que sua mãe era sua irmã mais velha. Pois é, mais embolado que novela mexicana. Claro que a coisa não durou tanto tempo assim. Aos nove anos o cara descobriu a enrolação toda. E, é lógico, isso mexeu com a cabeça do sujeito. A partir daí, ele se tornou um garoto solitário e tímido, mas ce vê que nem isso impediu o cara de destruir tudo. Com treze anos, o sujeito ganhou um violão e uma marimba de aniversário, mas quase desistiu de aprender a tocar os dois, achando os instrumentos muito difíceis. Claro, a influência e o gosto pelo blues foram maiores. Ainda bem. O cara então entrou em sua primeira banda com dezessete anos, a British R&B, que se tornou The Roosters. Ficou lá de janeiro a agosto de 1963. Isso por um lado parece ruim, mas por outro, foi uma maravilha – afinal, em outubro desse mesmo ano, Clapton se juntou aos Yardbirds.

A banda, cujo nome é uma gíria pra prisioneiro, foi inegavelmente uma das maiores adições ao rock e aos anos 60. Foram eles quem trouxeram inovações como o uso de distorção (como fuzz box) na guitarra, por exemplo. Clapton já caceteava tudo na guitarra, na época, e era um fã irremediável do blues puro. E foi isso que o levou a sair dessa maravilha de banda. Enquanto o som dos caras mudava do blues pro pop rock psicodélico experimental, Eric Clapton ficava cada vez mais insatisfeito. Até que, em 1965, o cara disse “Ces traíram o movimento blues, véios!” e se mandou. Ou alguma coisa parecida. Claro que ele não deixou os caras na mão: indicou um guitarrista conhecido dele que tocava um som bacana pra tocar em seu lugar. Um tal de Jimmy Page, já ouviram falar? Pois é, e aí o Page indicou um certo Jeff Beck, mas sobre esses dois eu falo em outra matéria. Claro que eu não ia deixar vocês sem o gostinho dos primeiros passos de Clapton na escalada para o sucesso. Eis The Yardbirds com Eric Clapton na guitarra:

Oh, Louise! Why don’t you hurry home?

Em abril de 65, ele se juntou a John Mayall & the Bluesbreakers. O álbum Blues Breakers with Eric Clapton, um dos álbuns mais influentes de blues-rock da história, começou a transformar Eric Clapton numa figura lendária. A piração era tanta que nego pichava “Clapton is God” pelas ruas de Londres quando o álbum foi lançado. Foi no mesmo álbum, aliás, que a primeira música com Clapton no vocal, Ramblin’ On My Mind. Música, aliás, que você confere aí em baixo.

I got raaaaaaaaamblin’! I got raaaambling on my miiiind!

Em julho de 1966, apenas um ano após entrar nos Bluesbreakers, Clapton cascou fora e formou o Cream. A banda ficou conhecida por suas performances ao vivo. A improvisação mandava na bagaça toda, e, como todo mundo sabe, ou pelo menos DEVERIA saber, Eric Clapton improvisa bem pra caráio. Os caras também tinham bastante do rock psicodélico sessentista, lembrando um pouco gente como Jimi Hendrix, The Animals e Creedence Clearwater Revival. Canções como Crossroads (que nasceu da Cross Road Blues de Robert Johnson) e Sunshine of your Love são até hoje conhecidas pelos amantes do blues e do rock sessentista (e por jogadores de Guitar Hero, no caso da Crossroads). Clapton ainda se sentia tímido demais pra tomar o microfone pra si, mas mesmo assim cresceu como vocalista, cantando em algumas músicas, como a já citada Crossroads, Strange Brew e Badge. A banda lançou quatro álbuns (Fresh Cream, Disraeli Gears, Wheels of Fire e Goodbye) antes de se separar, em 1969. Como todo mundo aqui provavelmente já ouviu Crossroads até de trás pra frente, o vídeo que eu deixo dessa vez é o de Sunshine of your Love.

Tantantantaaan, taaaaaaaaaan taaaan taaaaan, uóóóóun uééééun uóóóóun!

Depois do Cream, Clapton participou do rápido Blind Faith. Não que as músicas fossem rápidas: a BANDA é que foi. Duraram só um álbum, mas mesmo assim fizeram sucesso pra cacete. Mesmo assim, eu vou pular o Blind Faith e falar logo de Derek and the Dominos, se não essa porra não acaba hoje. E, claro, não dá pra falar de Derek and the Dominos sem falar de Delaney, Bonnie & Friends, visto que todos os músicos da primeira banda eram ex-membros da segunda, incluindo Duane Allman, da Allman Brothers Band, que, teoricamente foi um artista convidado pro primeiro disco dos caras. Na prática, por outro lado, dá pra dizer que ele foi integrante da banda, já que ele esteve em todos os álbuns. O grande problema com a banda de Delaney é que o cara e a Bonnie, que, aliás, eram marido e mulher, brigavam toda hora. Depois de um tempo, ninguém aguentou mais aquela putaria, é claro. Nego saiu e fundou a banda que já foi citada duas vezes aqui nesse parágrafo. O álbum deles, Layla and Other Assorted Love Songs, foi lançado em 1970, e é considerado hoje um dos pontos altos da carreira de Clapton, além de um dos maiores álbuns de rock’n’roll de todos os tempos. Uma maravilha, não? A música-título do álbum você confere aí em baixo, mas não com Derek and the Dominos, já que eu achei ela tocada num dueto do Clapton com Mark Knopfler. Se você quer ouvir a original, vá procurar, vagabundo.

Laaaaaaaaaylaaaaaa, you got me on my kneeeeees…

É claro que nem tudo foi bonito e certinho pra Clapton. Enquanto a carreira dele decolava e ele se tornava praticamente uma divindade da guitarra, sua vida pessoal ficava cada vez mais caótica. Seu vício em heroína só começou a ser tratado em 1971, e isso foi o início de uma pausa em sua carreira. Além das drogas, o guitarrista também foi personagem principal de um episódio sobre racismo em 1976, quando, visivelmente chapado, Clapton reclamou do crescimento da imigração na inglaterra, dizendo para o público não deixar o país virar uma “colônia negra”. Foram esses comentários (além de certas ações de David Bowie, também) que deram origem ao “Rock Against Racism” no reino unido. Clapton depois se desculpou, dizendo que na época andava com raiva porque um árabe tinha metido a mão na “poupança” de sua mulher. Compreensível, mesmo porque muita gente faz pior num caso desses. Além disso, seria até estranho que alguém que toca um estilo musical criado por negros desde o começo da carreira fosse racista, ainda mais sendo fã de B.B. King, Buddy Guy e mais uma porrada de negões. Enfim, passados o período da polêmica, o problema com o alcoolismo e as drogas, Eric Clapton começou a se reerguer. No final dos anos 70, o cara criou até um centro de reabilitação, o Crossroads Centre.

Nos anos 80 ele tocou duetos com Jeff Beck, além de participar de uma turnê de Roger Waters, trabalhar na trilha sonora de Máquina Mortífera e mais uma porrada de coisa. O cara tinha voltado de vez. Claro que os anos 80 também teve seus dias ruins: Clapton teve um caso com Yvonne Kelly, estando ainda casado com Pattie Boyd. Os dois acabaram tendo uma filha, Ruth, nascida em 85, mas Clapton só anunciou publicamente que tinha uma filha em 1991. Clapton também teve um caso com a modelo italiana Lory Del Santo, que deu á luz o seu filho Conor, em agosto de 86. Eric Clapton e Pattie Boyd se divorciaram em 1989. Mais tragédia atormentou sua vida no começo dos anos 90, com duas mortes: Stevie Ray Vaughan faleceu em 1990 enquanto estava em uma turnê com Eric Clapton, e, em 1991, seu filho Conor caiu da janela do 53º andar de um apartamento em New York. O sentimento pela partida dos dois acabou se tornando música: Six Strings Down, na voz de Jimmie Vaughan, e Tears in Heaven, na voz de Clapton. A segunda, que é a que nos interessa mais nesta matéria, foi parte da trilha sonora do filme Rush, e ganhou três Grammys. Clapton parou de tocar a música em 2004, dizendo que não sente mais a perda como sentia antigamente, e que, por isso, tocar a música não é mais a mesma coisa.

Além de tudo o que já foi dito aqui, Clapton já tocou com J.J. Cale, B.B. King, Frank Zappa, George Harrison, Carlos Santana, Bob Marley, Buddy Guy, Mark Knopfler, Hubert Sumlin e por aí vai. Eric Clapton toca até hoje, e provavelmente vai ser um dos grandes nomes da música ainda por muito, muito tempo.

Terminando tudo em grande estilo, um clássico de J.J. Cale tocado por Clapton (mais uma vez junto com Mark Knopfler): Cocaine.

She don’t liiiiiiie, she don’t liiiiiiiiiie, she don’t liiiiiiiie… cocaine!

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