Nine

Cinema quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

 O arrogante e egoísta diretor de cinema Guido Contini se encontra lutando pra encontrar um objetivo pra vida e um roteiro para seu próximo filme. Apenas a uma semana do início das filmagens, ele procura desesperadamente por respostas e inspiração na sua própria vida, suas amantes e sua mãe. Como sua profissão caótica destroi sua vida pessoal, Guido tem que encontrar um equilíbrio entre criar sua arte e sucumbir a suas obsessões.

Vamos imaginar. Preparados? Você é um diretor com nomeações pro Oscar e pro Globo de Ouro por um grande musical. Cai na sua mão o roteiro adaptado de um dos filmes mais aclamados do diretor que está no top 5 de 10 entre 10 amantes de cinema. Esse filme já havia sido adaptado pro teatro em forma de musical e também tinha sido um sucesso. Você consegue um elenco que tem mais estrelas que o céu, cada um com seus prêmios no bolso. Pra completar, sua equipe (coreógrafos, estilistas…) também é reconhecidamente de classe A. Você, meu leitor anta amado, conseguiria estragar isso tudo?

 Ele conseguiu.

Eu queria muito ver esse filme e, por conta disso, tentei me convencer desde o início que nada poderia superar Fellini e que certamente o filme seria uma merda. Confesso que me surpreendi. Nine é PIOR do que imaginava na minha psicologia reversa. E vocês não sabem o quanto é difícil eu admitir que um musical, e um do mesmo diretor do CHICAGO, é ruim.

Nada me desanimou mais do que as cores. Ou a absoluta falta delas. Sinceramente, 8 ½ me transmitiu mais sentimento de cores, num filme EM PRETO E BRANCO, do que Nine. Como observou muito bem a amiga que assistiu ao filme comigo (Liza o/), a impressão corrente é de que a luz tá estourada o tempo inteiro. Nas filmagens de exteriores predominam o azul-morto e o verde-mofo. Nas cenas de músicas, é tudo tão escuro que você tem que apertar os olhos. Mesmo no ápice da cena dá pra contar os pontinhos de cores quentes presentes, o que é absurdo nesse gênero tão marcado pela emoção passada nas cenas de musical. Afinal, essas cenas costumam ser a representação da imaginação de alguém. E na imaginação tudo é mais vibrante, ao contrário de Nine.

 “Eu queria agradecer ao Botóx e ao Dr. Hollywood.”

Ainda nas cenas de música… Nenhuma das canções tem o quesito positivo de “chiclete”. Uma das coisas mais legais de assistir um musical é sair da sala de cinema cantarolando e/ou saltitando com alguma música. Em Nine, com algum esforço, você vai repetir o refrão de quase todas as canções: “Guido, Guido, Guido, Guido…”. As únicas cenas que tem seu valor são as da Stacy “Fergie do Black Eyed Peas” Ferguson e da Kate “Penny Lane” Hudson. A primeira utilizou areia na dança, coisa que eu não lembro de já ter visto daquela forma, e se não fosse pela última parte – não musical – correndo com pirralhos no mar, teria sido a melhor cena de todas. Kate Hudson é responsável pela única sequência com LUZES de todo o filme, o que é, por si só, memorável. Tem ainda a cena com Marion Cotillard, mas que só vale pela interpretação da moça e não por ter um M de musical maiúsculo.

 Luzes!

O trabalho em cima das vozes dos atores beirou o ridículo. As mulheres ficaram com vozes parecidíssimas. Até mesmo a cantora profissional teve sua voz “photoshopada”. As únicas com vozes reconhecíveis através de seus falsetes foram Nicole Kidman e Marion Cotillard. Não que as vozes tenham ficado RUINS. Longe disso. Só não são, claramente, as vozes naturais dos atores.

 E olha que a gente sabe que alguns tem MESMO a voz boa.

Mas sim, tem lá suas vantagens. O roteiro não foi estuprado e o Daniel Day-Lewis está fantástico como Guido Contini. Ele conseguiu repetir o fascínio do Mastroianni com perfeição. Marion Cotillard como Amélia Luisa, a esposa conformada que quando decide reagir o faz com garbo e elegância. E.. é isso. Exceto por aquelas duas cenas que já mencionei, é tudo que chama a atenção pela qualidade. As outras atuações variam entre previsíveis e entediantes, ainda que seja só pelo show de sempre de alguns (como a Nicole Kidman).

 A Bonequinha de Luxo salva qualquer filme. E essa frase pode significar umas 30 coisas.

Fellini era um gênio e depois de Nine acredito ainda mais nisso. O homem, que era um palhaço, um auto-biógrafo, um grande apaixonado apaixonante, deve ter rolado no túmulo ao ver uma de suas maiores obras virando um filme medíocre e sem cor.

 Aperta os olhos que cê consegue ver as atrizes.

Nine

Nine (118 minutos – Musical)
Lançamento: EUA/Itália – 2010
Direção: Rob Marshall
Roteiro: Michael Tolkin e Anthony Minghella
Elenco: Daniel Day-Lewis, Nicole Kidman, Penelope Cruz, Marion Cotillard, Kate Hudson, Judi Dench, Fergie e Sophia Loren

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