O Contador de Histórias
Aos seis anos, Roberto Carlos Ramos é internado por sua mãe em uma instituição para menores carentes em Belo Horizonte. Dotado de imaginação fértil, chega aos 13 anos analfabeto, com mais de 100 fugas no currículo, várias infrações e o diagnóstico de irrecuperável. O encontro com uma pedagoga francesa mudará, para sempre, a vida de Roberto.
Filme nacional, hoje, já não é mais visto com tanta desconfiança, apesar da farra com o dinheiro público para financiá-los. Sou do tempo que os filmes nacionais se resumiam a Xuxa alternando com Trapalhões. Graças a Díos, isso acabou, apesar da Xuxa e do Didi ainda nos presentearem com pérolas do cinema nacional.
Mas voltando ao filme do Roberto Carlos – e não é o amigo do Piratão – já adianto que o filme é bom, com apenas um probleminha que chega a ser simpático até, mas no geral, vale a pena.
O problema é a divulgação, já que não há atores conhecidos – o mais conhecido é Chico Diaz, que apesar de conhecido no teatro só fez papéis de coadjuvante na TV, além da Bozena do Toma Lá, Dá Cá, em uma ponta discretíssima.
No mais, a história do filme é a seguinte.
Roberto Carlos Ramos é um garoto que foi internado na FEBEM de Minas Gerais por sua mãe, esperando que ele virasse ‘dotô’. Como todos nós sabemos, o tipo de ‘dotô’ que sai da FEBEM não é bem o que a mãe do RC esperava.
Obviamente o moleque, apesar dos sonhos, se transforma e vira especialista em fugir da fundação, bem como viver na rua e praticar delitos.
Em uma de suas capturas, quando é levado de volta para a instituição, uma pedagoga francesa – Margherit – que está no Brasil para fazer uma pesquisa, o vê e tenta falar com o moleque. Apesar da diretora, amiga de Margherit, dizer que ele é ‘irrecuperável’, Roberto perde um pouco de sua ‘marra’ e, por alguns momentos, deixa sua imaginação fértil fluir.
É o suficiente para a francesa se interessar por Roberto. Para o azar dela, na primeira tentativa de levar o moleque para sua casa e tentar entender o seu jeito, ela se dá mal.
Após esse incidente, Roberto tenta entrar para uma gangue de adolescentes mais velhos – e violentos – que ele. Obviamente que ele se arrepende muito disso.
Sem ter para onde ir, Roberto corre para a casa da francesa que, mesmo traumatizada e com medo, o recebe com carinho e começa a mostrar para ele como são as pequenas coisas boas da vida.
Paralelamente, vemos o moleque contando sua história, porque ele ficou assim, como era o seu dia-a-dia na FEBEM, sonhos, entre outras coisas.
Como disse, o único porém é o fato de, ao mostrar os moleques andando pelos trilhos da ferrovia, mostrar trens da CPTM, que são de São Paulo, mas é um detalhe bobo, que chega a ser simpático.
Interessante que, justamente por não ter caras conhecidas, faz do filme um retrato quase real de nosso cotidiano nas grandes cidades, principalmente do que era na década de 70.
A narrativa em primeira pessoa também não cansa e é bem dinâmica, sendo feita, inclusive, pelo Roberto Carlos em pessoa, hoje considerado um dos maiores contadores de história do mundo.
Infelizmente, não veremos o Roberto Carlos, a Maria de Medeiros ou algum global falando, nos comerciais da Vênus Platinada, sobre o público ou que 3 milhões de pessoas assistiram.
Mas, em breve, quem sabe, com mais filmes como esse, não teremos um cenário parecido?
O Contador de Histórias
O Contador de Histórias (100 minutos – Drama)
Lançamento: Brasil, 2009
Direção: Luiz Villaça
Roteiro: Mauricio Arruda, José Roberto Torero, Mariana Veríssimo e Luiz Villaça
Elenco: Maria de Medeiros, Marco Antonio Ribeiro, Paulo Henrique, Clayton dos Santos da Silva, Malu Galli, Jú Colombo, Daniel Henrique da Silva, Ricardo Perpétuo, Matheus de Freitas, Victor Augusto
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