O que define um Herói clássico?

Clássico é Clássico segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Hoje é dia da Proclamação da República.

 Viva a República!

No script, é o dia em que comemoramos um dos atos mais heróicos de nossa história, protagonizado pelo lendário Marechal Deodoro da Fonseca em cima de seu magistral cavalo, libertando o Brasil de uma vez por todas do arcaico sistema que consistia o império.

Nos bastidores, foi o dia em que um Marechal adoentado nem levantou da cama para dizer “digam ao povo que a República está feita”, solicitando as pressões de militares (Que estavam revoltados com a Guerra do Paraguai) e fazendeiros (Que não perdoavam o imperador pela Abolição da Escravatura).

E é isso que acontece. Na maioria das vezes a história verdadeira não é tão heróica assim. Daí o costume de enfeitar eventos que por si, não causariam um sentimento de orgulho e respeito pela população. Prática permanente na história das civilizações.

 De Tiradentes…
 …passando pela Revolução Francesa…
 …até histórias míticas.

O ponto é: Essas histórias existem por um motivo simples. Nós precisamos de heróis. Pessoas a quem podemos nos identificar e espelhar nossas ações. Seres que representam tudo de bom que existe no homem e na sociedade – mitos e semi-deuses aos quais servem de guia para nossas condutas. Arquétipos do bem supremo que estão sempre presentes durante nossa vida. Mas o que faz um herói?

Eu digo para vocês: A convergência de duas características opostas. De um lado o caráter humano, a falibilidade, a complexidade, o medo. Do outro, as virtudes transcendentais – seja ela a coragem, o amor ou a força de vontade (Não a toa, quando essas virtudes estão presentes com a intenção de cumprir objetivos egoístas ou individualistas, temos os anti-heróis). Aquilo que o distingue de todos os outros humanos e o faz o único ser capaz a resolver o problema.

Todo escritor ou roteirista sabe que, no fundo, 99,9% das obras já produzidas, seguem um mesmo esquema. É a chamada Jornada do Herói. De Jesus a Frodo, de Capitão Nascimento até Indiana Jones, de Cinderela até o mito do Prometeu todos respondem (Em maior ou menor grau) a fórmula da jornada do herói. De Ilíada e Odisséia até a A Origem, (Quase) todas as histórias já contadas são no fundo, no fundo a mesma história. O que muda é apenas o “como” e não o “o que”. E isso nem de longe é uma crítica. Isso é o que de mais próximo já fizemos para dar uma fórmula exata ao mais importante arquétipo da natureza humana. Destrinchada pela obra O Herói de Mil Faces de Joseph Campbell (Possivelmente uma das obras mais importantes já escritas) – eis os 12 passos da jornada.

 Pense em um filme, livro, desenho ou seriado. Qualquer um. Ele se encaixará nessa fórmula.

1. Mundo Comum – O mundo normal do herói antes da história começar.
2. O Chamado da Aventura – Um problema se apresenta ao herói: Um desafio ou a aventura.
3. Reticência do Herói ou Recusa do Chamado – O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo.
4. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural – O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para sua aventura.
5. Cruzamento do Primeiro Portal – O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico.
6. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia – O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.
7. Aproximação – O herói tem êxitos durante as provações.
8. Provação difícil ou traumática – A maior crise da aventura, de vida ou morte.
9. Recompensa – O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa (O elixir).
10. O Caminho de Volta – O herói deve voltar para o mundo comum.
11. Ressurreição do Herói – Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido.
12. Regresso com o Elixir – O herói volta para casa com o “elixir”, e o usa para ajudar todos no mundo comum.

Partindo dessa origem em comum (Que é comum a todos), podemos classificar diferentes tipos de herói a partir de pequenas variações. Eu gosto da seguinte divisão.

1) O Herói Clássico

É aquele homem que se levanta diante aos problemas do mundo (Seja uma catástrofe ou vilão) e parte em uma jornada para resolvê-los. É a base para o super-herói como conhecemos. E por isso mesmo é a concepção com a qual mais fácil nos identificamos (Não a toa o amor das crianças pelo Batman, Super-Homem ou Homem Aranha) – apenas bater o olho para conseguimos encaixar toda sua trajetória nos 12 passos da jornada.

 Aragorn

2) O Herói Romântico

A concepção mais enjoada de herói. Igual ao herói clássico, ele diverge em apenas uma característica. Ele não enfrenta milhares de desafios objetivando pelo bem comum. Ele enfrenta milhares de desafios para salvar a sua amada.

 Príncipes de Conto de Fadas

3) O Herói Trágico

É o herói que falha e por causa dela cai no “abismo” (Seja se tornando um vilão ou um pária). A redenção é a única forma de retornar a sua condição de herói – e ela só se dá através do sacrifício (Seja se livrar de seu império, orgulho, riqueza ou, em casos extremos sua própria vida).

 Anakyn Skywalker

4) O Herói do Código de Conduta

Se assemelha ao herói clássico, mas com uma diferença crucial. Esse herói vê um mundo perdido, caótico, sem sentido. Ele se vê como um excluído de uma sociedade doente, cuja sua única conduta pessoal aceitável, é lutar pela sua cura.

 Batman

5) O Anti-Herói

Aquele herói que acredita na concepção maquiavélica de que “os fins justificam os meios”. Faltam lhe as virtudes morais, intrínsecas a concepção clássica de herói. Ele não precisar ser bom, justo, romântico. Por isso mesmo é muitas vezes confundido como vilão. Ele só quer garantir que o trabalho seja feito – e lucrar com as recompensas.

 Han Solo

6) O Herói Byrônico

Talvez a concepção mais discutível de herói. Muita gente acredita que se trata de apenas uma variação de anti-herói. O herói byrônico é aquele que ingressa o chamado pela aventura não pelo bem comum (Como o herói clássico ou o herói do código de conduta), pela sua amada (Como o herói romântico) ou por recompensas (Como o anti-herói), mas pelo próprio sentido da aventura. Deixando mais claro – a recompensa existe (E por isso mesmo, muitas vezes é considerado anti-herói), mas ela é mais uma desculpa para ter uma motivação “socialmente aceita”, do que qualquer coisa. É aquela figura que surge do nada, “comete” atos heróicos quase que por acidente, e que na hora da recompensa, some (Ou dá um outro destino para ela). Aceitá-la seria como aceitar que a aventura acabou.

 Jack Sparrow

Os finalmente…

A partir da próxima semana, passarei a abordar esse tema aleatoriamente, através de uma série de colunas sobre alguns dos principais heróis do cinema. Digam seus favoritos. Ou aqueles que vocês querem conhecer mais sobre. Ou morram.

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