Rock and Roll: Seis Décadas (Parte 1 – Anos 50)
Estamos no início de 2011. Há mais ou menos sessenta anos, o rock and roll, provavelmente o tipo de música mais difundido aqui no terceiro planeta, apareceu. Não, espera, “apareceu” não. Isso dá a impressão que ele surgiu de repente. Não foi assim. Foi um processo gradativo e é difícil dizer qual o começo. Foi em algum lugar bem no final dos anos 40 e início dos anos 50 que aquela combinação de blues, country, jazz e gospel tomou forma e foi notado. Pra complicar mais, elementos do rock and roll podem ser ouvidos em algumas gravações de country dos anos 30 e de blues, dos anos 20.
Inovações e inocência
Os anos 50 eram uma época de inocência. Tenho medo de tentar explicar como de tal época o mundo retrocedeu e se tornou essa coisa lasciva e imunda que são nosso tempos. Só sei que foi naquele mundo quase alienígena onde se ia tomar milk shake na esquina e onde as pessoas dirigiam carros enormes feitos de metal de verdade que o rock começou a respirar. Eu arrisco dizer que esse estilo musical tão conhecido nosso ajuda a compreender muito da história recente do mundo ocidental.
Mas antes de mencionar o rock dos anos cinquenta propriamente dito, falemos mais da década em si.
Em novembro de 1952, há precisos 58 anos, estreava o primeiro filme em 3D, chamado Bwana Devil.
Logo depois do fim da Segunda Grande Guerra as empresas de brinquedos pararam de fabricar suprimentos para o esforço bélico. Logo começaram a ter ideias boas pra novos produtos. Começaram a usar materiais incríveis, como o plástico. Os carrinhos Matchbox (Marca que hoje pertence à Mattel) foram inventados em 1954. Em 1957 apareceu o bambolê, que foi uma mania durante 1958 mas não demorou muito até a Barbie aparecer, em 59.
Em 1950, há mais de 60 anos, a Paper Mate fez a primeira caneta esferográfica. No mesmo ano inventou-se a máquina fotocopiadora. O Chevrolet Corvette foi o primeiro carro com a carroceria em fibra de vidro, em 1953. Em 1954, os laboratórios da empresa telefônica Bell inventaram a bateria solar. O polipropileno (O principal plástico) veio no mesmo ano e em 1958 o usam pra fazer a primeira garrafa de Coca-cola desse material.
Ah, e em 53 a Playboy edita o primeiro número e em 55 a Disneylândia abre as portas na Califórnia.
O rock nasce
Como eu disse, algumas gravações anteriores aos anos 50 tinham elementos do rock. Mas em 1954 a música Crazy, Man, Crazy, de Bill Halley, entrou nas listas de vendas e das mais tocadas da Revista Billboard. Em julho de 1955, Rock Around The Clock, também de Bill Halley, ficou no topo das paradas. Alguns consideram esse o marco zero do rock como nova manifestação musical popular. A Revista Rolling Stone considerou a música de Elvis, That’s All Right (Mama), como a primeira gravação de rock and roll, mas Shake, Rattle and Roll, de Big Joe Turner, já estava no topo das paradas de rythm & blues.
O rock mais antigo usava a progressão de blues de doze compassos e compartilhava com o boogie-woogie as quatro batidas por compasso. O rock and roll, entretanto, tem mais ênfase na batida do que o boogie-woogie. A música de Bo Diddley, I’m A Man, de 55, introduziu uma nova batida e um novo som na guitarra, o que inspirou muitos artistas.
Também contribuíram pra formação do rock Little Richard e Chuck Berry. Desde o começo daquela década, Little Richard combinava gospel com rythm & bues de Nova Orleans e uma batida mais pesada, batendo no piano e cantando alto. Chuck Berry aprimorou e refinou os principais elementos que fizeram o rock diferente introduzindo elementos, como a introdução de guitarra nas músicas, que passariam a fazer parte do estilo.
“Rockabilly rules”
A famosa rockabilly geralmente se refere ao tipo de rock de meados dos anos 50 feito por artistas brancos como Elvis Presley, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis. Eles se baseavam bastante na raiz country das músicas. Três meses separam as gravações de That’s All Right (Mama) e Rock Around the Clock, que eu já citei antes. A segunda causou realmente um furor entre os adolescentes, pra ver Bill Halley e Os Cometas a tocarem. Diz-se que se tudo que apareceu antes dessas músicas preparou o solo, elas é que lançaram o rock pro mundo. Em 1956, a aparição da rockabilly foi marcada por sucessos como Folsom Prison Blues, de Johnny Cash, Blue Suede Shoes de Carl Perkins e Heartbreak Hotel de Elvis Presley. Durante algum tempo, foi a forma mais popular de rock and roll.
Existe uma gravação datada de 4 de dezembro de 1956, que gerou um álbum chamado The Million Dollar Quartet. Reza a lenda, uma vez reuniram-se Carl Perkins, Jerry Lee, Elvis e Johnny Cash para tocar músicas, livremente, nos estúdios da Sun Records em Memphis, no Tennessee. O universo se distorceu nesse dia. Os quatro maiores estavam juntos. Apesar da voz de Cash nem aparecer, sabe-se que ele estava lá. Enfim. Vale à pena ouvir.
O rock morreu (a primeira vez)
O declínio desse rock and roll clássico aconteceu no final da década, como se tivesse hora marcada. Algo que contribuiu muito: Três de fevereiro de 1959, “O Dia Que A Música Morreu”. Richie Valens, Buddy Holly e J.P. “The Big Bopper” Richardson – três outros grandes nomes da época – morreram em um acidente de avião. Além disso, Elvis foi pro exército, Little Richard se aposentou pra virar religioso e Jerry Lee Lewis e Chuck Berry estavam sendo processados. Tudo isso deu um senso de que a era primordial do rock estava acabando.
Ainda nesse período, já na boca dos anos 60, começou aparecer a surf music, o rock de garagem e o twist. Além disso, do outro lado do oceano, as coisas estavam acontecendo também, coisas que iriam fazer barulho na década que iniciava. Mas… Isso é assunto pro próximo capítulo.
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Na primeira foto: Plymouth Fury 1957, típico grande carro americano dos anos 50.
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