Seria Pablo Escobar… O novo Hitler?

Televisão terça-feira, 13 de setembro de 2016

Pablo Emilio Escobar Gaviria foi um traficante colombiano que ficou famoso por ficar muito rico ajudando as pessoas a botar pó no nariz. Há quem diga que ele se matou, há quem diga que foi a polícia, mas o fato é que, em dezembro de 1993, tudo estava acabado. Durante vida não só foi caçado por meio mundo como também foi apoiado por outro tanto, o suficiente para que hoje, quase 23 anos depois, Pablo Escobar seja o mais novo sucesso na TV à cabo.

Não sei vocês, mas eu não gosto desses programas de TV que fazem tempestade em copo d’água. Quando eu era que criança eu ficava entusiasmado com cada coisa que surgia, pouco sabendo eu que a prática em questão datava de muito antes de eu nascer: Eu realmente acreditava que os caras na TV iam achar o Pé Grande! E o Abominável Homem das Neves! O Chupa Cabra, o monstro do Lago Ness, exorcizar a casa dos fantasmas que vinham perseguindo a nova família que morava por lá agora e que finalmente tinham provado que Hitler tinha sim usado tecnologia alienígena para tentar derrotar os Aliados! Foi, é claro, apenas uma questão de tempo até o meu eu mais jovem perceber que aquilo tudo era o que o meu eu mais velho chamaria de “safadeza”. E que eu não era o primeiro a cair nela e nem seria o último.

Desde que Hitler morreu em 1945 NÃO NÃO NÃO, ELE MUDOU PRA ARGENTINA E MORREU NA e a Segunda Guerra Mundial teve um fim, dando início então a Guerra Fria, o conflito todo foi envolto em teorias da conspiração, mentiras deliberadas, queimas de arquivos, perseguições, exageros por ignorância e uma glamorização patética. Quando enfim a televisão passou a fazer parte da vida das pessoas na década de 50, foi apenas natural que o “grande conflito armado do mundo” passasse pelo mesmo processo, só que desta vez através de programas TV, documentários, sátiras, desenhos animados e, claro, reencenações.

 Não deixem os filtros enganarem vocês.

E pelos últimos setenta e um anos foi tudo muito bem… Mas cedo ou tarde a galera cansa das coisas. Porque sejamos sinceros, a maioria das pessoas sequer sabe porque a Segunda Guerra aconteceu, quem lutou nela, como ela terminou e nem mesmo o que faz uma bomba ser atômica. Pra não falar que a cada dia que passa o número de gente que estava viva na época ou que lutou na guerra diminui. Então a TV tinha que achar um plano substituto, algo que pudesse mantê-la com programas estapafúrdios por outros setenta anos… A TV tinha que arranjar um novo Hitler.

Após muita procura enfim acharam um substituto quase à altura daquele que já descreveram como LITERALMENTE O CAPETA: Um traficante que deu olé num continente todo e ficou rico no processo… Quase que um protótipo do gangsta rap, uma “figura controversa até os dias de hoje”. Tudo bem que ele morreu tem vinte anos, mas mais cinquenta anos de “e se ele tinha mesmo um disco voador roubado da Área 51” dá pro gasto… Principalmente se considerarmos que a TV sequer deve sobreviver à estes cinquenta anos.

Obviamente que quando o mais rico traficante do mundo morreu, lá em 1993, foi notícia e circo pra tudo quanto é lado, afinal já tavam na cola do cara há anos, mas isso já acabou faz tempo: Pablo Escobar está morto em tiroteio com a polícia, a guerra ao tráfico ganhou. Acontece que de 2009 pra cá tem havido uma crescente quantidade de coisas relacionadas à um cara que bateu as botas século passado (E que foi substituído nos negócios quase que imediatamente), e essa história tem ganho mais e mais popularidade… Hitler ainda tem uma boa vantagem, mas Escobar está se esforçando para alcançá-lo.

Desde 2009 saiu uma biografia de um dos irmãos do cara, um livro de fotos, cinco filmes (Além de mais um por vir), episódio do NCIS, participação em vários jogos (Resident Evil, Scarface, GTA e Uncharted), um documentário do Animal Planet sobre o hipopótamo do cara (É sério isso, eu juro), outros três documentários, quatro séries de TV (Incluindo a mais nova, Narcos, da HBO), uma novela e, no mínimo, duas dúzias de referências em músicas, do rap ao metal. E isso é a lista básica, por cima, porque se for pra procurar o tanto de “especial” que o History Channel já fez sobre o cara eu desisto deste texto.

E o pior disso tudo é que essa cobertura tardia da vida do cara segue o mesmo absurdo que a Segunda Guerra passou (E ainda passa): Aliens, tecnologia secreta, fugas impossíveis, “Elvis não morreu”, “Robin Hood moderno”. Literalmente já fizeram coisa sobre o namorado da sobrinha dele e de como ele influenciou na campanha da seleção colombiana na Copa de 94. Menos e menos importa quem Pablo Escobar foi, o que fez e como viveu, importa o personagem, que está sendo tratado pela mídia como uma figura mitológica que não parecesse o Leandro Hassum. Quer dizer, o Leandro Hassum de três anos atrás.

O cara morreu. Muito mais que Hitler, sua vida foi documentada tanto pela lei quanto por ele próprio, há dezenas de pessoas ainda vivas que o conheceram muito bem (Incluindo a viúva e os filhos, sendo que o filho mesmo vira e mexe tá num programa diferente falando sobre o pai), suas transações financeiras são todas conhecidas, suas táticas, clientes, funcionários: Vinte anos atrás não existia Full HD, mas sequer se compara à 1945, e ainda assim Pablo Escobar está virando o novo queridinho dos documentários e reality shows de araque. É mais safado que avistamento de mula sem cabeça porque qualquer um pode pegar uma fita cassete gravada pelo próprio Escobar e bofetear a fuça dos produtores com fatos. Sem câmera tremida e qualidade VGA.

Eu não me espantaria de, em uns anos, ver o Faustão fazendo concurso de sósia. E passando o Silvio Santos em IBOPE com isso.

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