Séries, internet e os fenômenos dos nossos tempos
Eu não sei vocês, mas quando coisas vão surgindo, sendo inventadas, geralmente eu demoro um pouco pra percebê-las. Demoro, aliás, mais ainda pra tomar contato real com elas. Enquanto isso, me viro até bem com coisas mais antigas que ainda funcionam, por isso é uma surpresa também quando topo com algum condenado na interwebs dizendo que coisa tal não presta mais, ou está desatualizada, e precisa ser substituída. E sempre tem sido assim, sou meio lerdo pra modernidade.
Talvez pelas supracitadas razões é que eu use Windows XP, por exemplo; talvez por lerdeza que só mês passado deixei de lado um celular surrado e vou navegar para as águas novíssimas de um smartphone. E me lembro de épocas em que fenômenos semelhantes ocorreram. Lembro-me de que provavelmente fui o último moleque da vizinhança a ter um DVD player. Só me toquei que tinha que trocar o VHS quando as locadoras começaram a vender fitas de vídeo por, sei lá, dois reais (E eu comprei ainda, pra fechar com chave de ouro aquela era). Também cheguei atrasado pro agora velho Windows XP (Vindo do 98, imaginem), pro Pentium 4, pros celulares com câmera. Enfim, true story bro.
Agora, pra algumas coisas eu ainda nem cheguei, como video-games com cds e pior ainda, dvds. O Nintendo 64 resiste firme. Blu-ray? Nunca usei, mas já avistei o tal numa locadora; achei ele… Um disco azul numa caixinha menor. Aliás, porra, toda vez que trocam a mídia do mundo, eles precisam mesmo trocar as caixas? Senti falta do volume do VHS, mas agora vou sentir falta do volume da caixinha do DVD. O que diabos vem depois? Uma caixa de fósforo tecnológica?
Ahn… Divaguei, divaguei, mas aqui está o que quero falar: Pra algumas coisas modernas eu simplesmente… Não chego. Ou pelo menos demoro muito que até esqueço. E daqui vou até as séries de TV. Assim como para objetos tecnológicos, eu também costumo demorar pra perceber a mudança na televisão. Hoje notei esse fenômeno mais do que nunca: Estava lendo este texto de ontem do Lucas. Aliás, quero dizer que concordo com o que ele escreveu lá, e a televisão talvez realmente seja o futuro; parece que tem coisas muito boas sendo produzidas (Do pouco que vi), como Mad Men, só pra dar um bom exemplo. Mas enfim, eu lia o texto quando simplesmente parei na imagem debaixo do primeiro parágrafo. Naquele exato momento, eu tive uma revelação e percebi que… não sei o que ou quem é Dexter. E mais, só sei o que é Chuck por que um dia parei na frente da televisão e vi de relance algumas coisas (Basicamente, por causa da Yvonne Strahovski). Na minha cabeça, série “nova” ainda é sinônimo de Lost, House M.D. e Two and a Half Men. Dessas três, duas têm quase uma década e a mais nova tem sete anos e já acabou há um (Ou foram oito anos e acabou há dois? Sério, me ajudem aí, se eu parar pra pesquisar agora, esqueço o que vou escrever). Enfim, cês entenderam a idéia.
Vejam: Há mais ou menos seis anos, havia uma rede de televisão chamada Rede 21. Lá passava A Ilha da Fantasia, Jornada nas Estrelas, Magnun P.I., As Panteras, Jeannie é um Gênio, A Feiticeira, etc. Assim me criei. Também me lembro de assistir Xena, A Princesa Guerreira e então, em um lapso temporal, Lost, 24 Horas, etc. Essa é minha tradição com séries e – tirando as mais antigas – a de muita gente também, que simplesmente desconhece The Walking Dead, ou no máximo conhece a HQ. E essa gente toda vive majoritariamente em um mundo onde as pessoas não sabem quem é a Zooey Deschanel e realmente conversam com as outras de perto.
Vejam, eu adoro a interwebz. Ela nos ensina coisas importantes e outras nem-tão-importantes-assim com a mesma naturalidade; ela nos dá conhecimento útil e conhecimento descartável sempre inspirando aquele ar de desconfiança, “afinal é a internet”, e a Wikipédia não é confiável, todo mundo sabe (Mas a gente confia e gosta dela assim mesmo). Mas a nossa querida rede mundial – meio pelo qual vosmicê leitor vê estas palavras -, ela também pode ser perigosa. Não no sentido físico pelo menos. É meio que no sentido social: Quanto mais fundo você vai na interwebs, mais fácil se embrenhar na cultura mundial dela (Os memes, os movimentos, as redes sociais, as piadas internas) e começar a se comportar de maneira, digamos… Ímpar, em relação ao mundo físico. É como ser abduzido por aliens, gritando “FUUUU”, chegar na nave e perceber que são todos gatos dizendo “lol” que querem te fazer o rei deles. Aí dizer “Fuck Yeah!”, ir pro planeta deles onde só tem lindas mulheres with dat ass mas acordar do sonho com sua mãe dizendo “Nope, just Chuck Testa”. Mais ou menos, é.
É o caso, enfim, do sujeito que conversa contigo e fica horrorizado quando você diz que não conhece o tal Dexter lá. Não, ele não fica assustado, nem impressionado; ele fica em estado de choque, de horror catatônico de terceiro grau. Isso faz com que o cérebro dele mude para um estado onde ele só consegue dizer “Mas a série É FODA!!11!onze!11!” ou um derivado disso. Aliás, este é o centro deste texto, já que a minha idéia de hoje partiu justamente da televisão. Além de uma superraça de conhecedores de memes (Tá, eu faço parte), também temos uma superraça de conhecedores do último lançamento em matérias de séries. O que, aliás, não é nada danoso. Só passa a ser quando o sujeito não vê que ele é parte da excessão, não da regra. O que culmina no comportamento engraçado e até bizonho, e cada vez mais difundido, de agir com o mais puro horror diante do fato de que as séries de tv que estão todos os dias pra download não são conhecidas por todo mundo. Woa!
Enfim, cês já entenderam. Peço perdão se o final do texto (Ou em alguma parte dele) ficou com jeito de faniquito nostálgico, não quis fazer isso. Só digo que sou a favor de mergulhar de cabeça na internet, esse fenômeno dos nossos tempos, mas sem exagerar, né.
De qualquer jeito, não se preocupem. Como costumo dizer, a internet é só um espelho do mundo físico. Portanto, ela tem sua própria versão (Muitas vezes capenga, por ser só uma versão, uma cópia) de praticamente tudo, até das besteiras.
Sobre o ser que existe em todo lugar – internet ou não – obtenha mais informações, aqui.
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