Television
O Television é uma das melhores bandas que eu já ouvi. Sério. Me lembro da primeira vez que ouvi falar neles, foi através do Dee Dee Ramone. Não, não sou médium nem falo com gente d’além túmulo; eu estava vendo o documentário End of The Century, sobre os Ramones (Uma das minhas bandas preferidas), quando o Dee Dee diz que, pra ele, o CBGB (O bar onde tocavam, muito famoso) era “meia dúzia de pessoas e o Television tocando sua música da Venus de Milo” e em seguida toca um trecho da referida música. Gostei e acabei pesquisando. Descobri uma ótima banda, com músicos dedicados e profissionais e agora venho aqui falar deles.
O Television foi fundado em 1973 na cidade de Nova Iorque. Foram dos primeiros a tocar no famoso bar CBGB, junto com Ramones e Blondie, e são considerados um dos dos fundadores do punk. Bem, só que ao ouvir uma música do Television você é levado a pensar seriamente sobre o significado de “punk”. Eles são mais ou menos o oposto do minimalismo musical dos Ramones, com canções elaboradas, solos cortantes e letras bem, hã, mais interessantes – bizarras, eu diria.
Eu posso bancar a Wikipedia e dizer que os fundadores da banda são o Richard Hell e o Tom Verlaine, que antes de se chamar Television eles foram os Neon Boys, que chamaram o Billy Ficca pra bateria e o Richard Lloyd pra segunda guitarra; também posso dizer que o Hell foi despedido da banda (Talvez porquê era um drogado teimoso). Mas vou me ater a uma análise, digamos, menos ortodoxa. Eu sempre falo da história da banda, aquela coisa quase enciclopédica e coloco minhas impressões no rodapé – é algo praticamente informativo.
Só que o Television tem algo de diferente das outras bandas que ouço. Ou antes, tem características que me deixam intrigado. A primeira é que várias músicas deles parecem esponjas que têm uma capacidade absurda de reter memórias, lembranças. Não sei se me faço entender. Digamos que elas têm essa tendência à nostalgia; mesmo que não retenham memória nenhuma em especial pra você, que seja a primeira vez que você ouve, aquilo é perceptível.
Façamos um teste. A seguir está a música Venus, citada pelo Dee Dee Ramone. Vejam se entendem o que eu quero dizer:
Digam o resultado nos comentários, por obséquio. Continuemos então. Eu ia dizer que o Television tem três álbuns de estúdio, lançados respectivamente em 1977, 1978 e… 1992. Tá, aí entra outra coisa peculiar nessa banda: Eles param de tocar por anos e de repente fazem uma turnê ou um disco. Quero dizer, só aconteceu isso com o terceiro álbum, mas se eles aparecerem esse ano e lançarem mais um, não me surpreendo. Com as turnês é corriqueiro, tanto que nos sites de música, uns dizem que período de atividade deles é “1973 – presente”, outros “1973–1978, 1992–1993, 2001–2007” ou algo assim. Não sei bem. Se der na telha, eles tocam. É por aí.
Outra coisa: Eles simplesmente acabaram com a idéia de “guitarra base” e “guitarra solo”, assim, separados. Acontece que o Tom Verlaine e o Richard Lloyd são uns putos que tocam guitarra muito bem. Freqüente eles alternam os papéis durante uma música, ou então parecem solar ao mesmo tempo. Pra mim, parece que um cuida do lastro da canção, aquilo que parece com a definição clássica de “base” e o outro faz a parte que se descola disso, fazendo solos, pequenas melodias separadas, etc. O primeiro papel geralmente quem faz é o Verlaine, já que ele canta. Mas vejam, isso não é regra – só notei que acontece com mais frequência. Na maioria das vezes cê não sabe quem tá fazendo qual parte.
Outra coisa que me impressiona é o conceito de “solo” pra eles. Como as duas guitarras estão sempre se alternando, temos a impressão de que partes grandes de certas canções são solos menores, que dividem espaço com o “grande solo”. Além disso, principalmente no primeiro álbum, certas músicas iam monotonamente repetindo os sons e marchando até uma grande demonstração de perícia de um dos guitarristas. Um bom exemplo da primeira situação é essa música que eu sugeri e apareceu no CDS #45 aqui no Bacon. Para a segunda situação, sugiro esta canção:
Outra coisa interessante a se dizer é que o baixo de Fred Smith (Que ficou no lugar de Richard Hell, em 1975) geralmente canta sua própria canção. Ele não apenas segue a melodia principal, mas faz outra melodia dela, parecida, mas não igual. A bateria de Billy Ficca também merece comentários. Na minha visão de leigo, ela parece muito bem trabalhada, digna de atenção; se algum baterista ler isso, por favor, dê seu parecer. Pra traduzir o que eu disse nesse parágrafo: Não tem um instrumento esquecido nessa banda.
Dou ainda uma palavra sobre os álbuns. Como eu disse, são três de estúdio; também tem um ao vivo. O primeiro é um clássico, chamado Marquee Moon. É um ponto único na história do rock, sem nenhum exagero. O segundo, Adventure, está relegado a ficar sempre na sombra do primeiro, com a maldição de nunca ser tão incrível assim. O terceiro, homônimo, é uma criação tardia, nos anos 90, e parece distante dos outros (Tem até uns efeitos), mas no fundo é o Television de qualquer jeito. O disco ao vivo se chama Blow Up e tem até um cover de Satisfaction, dos Rolling Stones.
Bem, é isso. Pros que já conhecem a banda e gostam, parabéns, cês têm bom gosto; quem conheceu nesse texto, espero que goste. Os dois primeiros álbuns e parte do terceiro estão no Youtube, cês podem ouvir mais lá.
Vida longa e próspera.
Leia mais em: Matérias - Música, Punk, Television