“TOP 100 FILMES BACON FRITO” 05 – 01

Cinema sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

5) Psicose

(Alfred Hitchcock, 1960)

Uiara: Caso ainda tenha alguém que não assistiu esse que é o melhor filme de suspense já feito, só posso dizer SHAME ON YOU corra e alugue já. É bem provável que você tenha um amigo corno que já te contou o final, mas não deixe que isso te freie. Mesmo que seja MAIS interessante ver o filme no escuro (em todos os sentidos), como eu vi, é absolutamente impossível não ficar impressionado com a genialidade do roteiro e dos ângulos captados. Aliás, a resenha desse filme deveria ser simplesmente “Hitchcock”. Seria suficiente pra entender o padrão de qualidade.

Pedro: Quando falamos de O Homem que Sabia Demais, apontamos as qualidades de Hitchcock que lhe tornaram o “mestre do suspense”. Mas com Psicose ele deixa de ser um mestre e se torna o DEUS do cinema. Como falei em seu outro filme – Hitchcock pode não ter sido um crítico como Chaplin, Tarkovisky, Bergman ou Kubrick – nem mesmo carregado uma originalidade estética como Fellini – e para falar verdade, todos os seus filmes tinham falhas no que envolvia o relacionamento amoroso dos personagens. Mas ele era perfeito no que se diz ao entretenimento. Sua arte não estava em diálogos geniais ou alegorias, mas em utilizar os instrumentos do cinema como ninguém jamais conseguiu: gerando sensações inigualáveis, apenas deixando a câmera parada ou criar um suspense agonizante, revelando o vilão para o espectador, mas não para o protagonista. Não existe um diretor nos dias de hoje que não recorra a alguma das técnicas utilizadas pelo gordinho carismático. E é em seu filme mais famoso que ele constrói um clássico tão eterno, que mesmo conhecendo quem mata, seus motivos, em que momento do filme ocorre a tal cena do chuveiro, as motivações da protagonista – ele ainda consegue criar um suspense que nenhum diretor jamais igualou. E através do seu “punho de ferro” extrai atuações que definiram a vida de seus intérpretes e marcaram para sempre a história do cinema.

Veredito Final:
PA diz:
Mesmo que você saiba quem matou, como matou, por que matou, a história do filme, quando acontece a cena do chuveiro, e qual o final do filme – mesmo se você tiver ACABADO de assistir um filme, Psicose consegue gerar tensão.
Tanto é que o Hitchcock no trailer de SEIS minutos de Psicose, faz um tour pelo cenário e conta tudo o que acontece no filme.

Uiara diz:
é mais um desses que é marcado por uma cena só e te faz ter orgasmos ao ver que tem MUITO mais que isso. A revelação final consegue superar o chuveiro, a faca, a sombra, a música e o grito, ainda que parecesse impossível
PA diz:
Isso é verdade. E o corno aqui deixou de ver Psicose por várias vezes julgando que já sabia tudo de bom que o filme tinha a oferecer
Uiara diz:
é definitivamente o melhor filme de suspense. Não só do Hitchcock, mas de toda a história do cinema. Ou pelo menos essa é a minha singela opinião. Claro que vocês devem achar que é Crepúsculo.
PA diz:
Talvez um ou outro querendo pagar de cult diga que é Lua Nova.
Nem sei por que a gente perde o tempo escrevendo para vocês.

Uiara diz:
vale a pena dizer o dia e a hora que estamos escrevendo isso?
PA diz:
Não. Mas vamos dizer que daqui a poucas horas a gente vai começar vida nova, e talvez pare de ser tão legal com esses estrupícios.

4) Laranja Mecânica

(Stanley Kubrick, 1971)

Uiara: De todos os filmes, os que levaram mais tempo pra ser posicionados foram as 3 próximas posições. Ficamos mais de uma hora (literalmente) pra decidir. Mas não porque queríamos algum deles fora e sim porque são filmes tão bons que mal dava pra escolher a ordem deles. Depois de uma negociata que só será revelada na minha biografia póstuma, Laranja Mecânica ficou em 4º. Esse filme de Stanley Kubrick fala sobre um rapaz que se diverte com sua gangue ao roubar, estuprar e espancar pessoas. Como é que o protagonista vira herói? Por conta de uma lavagem cerebral sem vergonha na cabeça do espectador. Se bem que algumas coisas não precisam disso, como a atuação sublime de Malcom McDowell, a trilha sonora e a fotografia teatral de São Kubrick. Minha babação análise completa está aqui.

Pedro: Se Hitchcock foi um deus em sua área, Kubrick foi um mestre em todas. Nenhum outro diretor conseguiu criar tantos filmes bons (arriscaria dizer que, apesar de sua modesta filmografia – não exista um filme mediano) em tantos gêneros diferentes. Comédia (Lolita), épico (Spartacus), guerra (Nascido para Matar e Glória feita de sangue), ficção científica (2001: Uma Odisséia no Espaço), noir (O Grande Golpe), filme de época (Barry Lindon), drama (De Olhos bem Fechados), terror (O Iluminado)… Junto com o “mestre do suspense”, ele provavelmente foi o diretor mais “prejudicado” pela nossa restrição de dois filmes. Mas em Laranja Mecânica ele faz um filme que não tem gênero definido – e mesmo assim se encaixa em praticamente todos os gêneros – é ficção científica, terror, comédia, sátira, drama… Em um filme sempre atual sobre a banalização da violência e a crueldade das instituições – com uma atuação tão aterradora de Malcom McDowell, eternizado como Alex, que conseguiu protagonizar uma versão de “I’m singing in the rain” que, ouso dizer, rivaliza com a de Gene Kelly.

Veredito Final:
Uiara diz:
Laranja Mecânica faz lavagens cerebrais e nem se importa em disfarçar. Kubrick conseguiu fazer com que um livro quase perfeito se tornasse um filme que só tem fãs doentes exatamente ao cometer uma atrocidade imperdoável em qualquer outro caso: o corte de um capítulo – o último.
se não fosse por esse corte, Alex se tornaria um mocinho da novela das 8

PA diz:
Um conto sobre a banalização da violência, BANALIZANDO A VIOLÊNCIA. Com direitos a estupros cantando “I’m singing in the rain”, imagens de nazismo ao som da 9a de Beethoven e mortes com pintos de porcelana
Uiara diz:
e eu já dei esse conselho antes, mas vale repetir: se assistir uma vez e não gostar, assista de novo. É bem provável que você tenha se perdido no NADSAT.
PA diz:
E um protagonista que começa como vilão, se torna anti-herói, vira vilão de novo, se torna vítima, vira vilão e acaba… como um dos personagens mais superficiais e de maior profundidade (sim, ele é um paradoxo) que o cinema já produziu
Uiara diz:
como pode um cara falar “tipo” a cada meia frase e ser um apaixonado por Beethoven?
o Alex é apaixonante

3) Crepúsculo dos Deuses

(Billy Wilder, 1950)

Uiara: Desde a primeira cena, gravada por baixo d’água num ângulo que te faz quebrar a caixola por horas tentando descobrir COMO DIABOS aquilo foi feito em 1950 até a última, com a maior sintonia já vista entre uma atriz interpretando uma atriz, câmeras, pessoas no escuro, frase de efeito e olhar sinistro. É um filme que critica o mundo falso, maldoso, oportunista e egoísta de Hollywood. Porque o resultado final é a melhor coisa já inventada pelo homem, sem exagero, mas o que acontece por trás do cinema é de assustar. Só resta decidir o que é mais incrível nele: grandes nomes do cinema atuando sua própria decadência ou a academia, alvo principal do filme, ter indicado a tantos oscars.

Pedro: A obra prima do cinema para o cinema – um presente (e ao mesmo tempo um presente de grego) que Billy Wilder deu para a sétima arte. Se passando durante a transição do cinema mudo para o falado, o filme une dois personagens que, normalmente, nunca se encontrariam: um roteirista fracassado e a musa do cinema mudo, agora em decadência, Norma Desmond (Gloria Swanson, na melhor atuação feminina que o cinema já viu). Essa última tentando retomar o brilhantismo de sua carreira (“Eu sou grande. Foram os filmes que ficaram pequenos.”) – ao lado do roteirista Joe Gillis (personagem vivido por William Holden), cuja ganância representa a fome de Hollywood por dinheiro – e acaba por iludir a decadência melancólica de Norma. Não bastasse o roteiro ácido de Wilder (contando com alguns dos diálogos e detalhes mais geniais e sutis vistos em um filme – como no momento em que Norma toma um “empurrão” de um microfone, ou que Holden fica preso à porta da mansão em que está confinado) – este chega ao auge de seu criticismo ao empregar vários atores e diretores famosos da época “sem som” do cinema e que agora estavam no ostracismo, para compor o elenco – como Buster Keaton (A General, presente aqui no Top 100), Cecil B.DeMille (que faz o mordomo) e a própria Gloria Swanson (cuja história mais parecia ser inspiração na composição da personagem de Norma). Repetindo o que falei no começo – uma obra prima.

Veredito Final:
PA diz:
Nunca um tradutor brasileiro foi tão feliz em inventar um nome para um filme.
Uiara diz:
e olha que isso é raro
o Poderoso Chefão que o diga

PA diz:
Billy Wilder (não só diretor, como também roteirista), pega uma narrativa PERFEITA e faz o MELHOR filme sobre o cinema. Não é muito bom ou um dos melhores. É PERFEITO e O MELHOR.
Simplesmente jogando na cara de todas as produtoras, o absurdo que elas fizeram com alguns dos maiores atores e diretores que a sétima arte já teve.

Uiara diz:
eu já tinha topado com a frase final do filme zilhares de vezes antes, mas nunca poderia imaginar que ela estaria encaixada numa cena perfeita como aquela
é o fim perfeito pra um filme perfeito

PA diz:
IRRETOCAVELMENTE perfeito.

2) Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de me Preocupar e Amar a Bomba

(Stanley Kubrick, 1964)

Uiara: Peter Sellers é um desses atores que não se faz mais. O cara absorveu seus personagens a ponto de perder sua própria personalidade. Pra família deve ter sido deprimente, mas pra nós, cinéfilos famintos, só serviu como contribuição de várias das melhores atuações da história. Em Dr. Fantástico, o melhor ator reencontrou o melhor diretor e o resultado não podia ser outro: cenas magistrais sobre a guerra fria DURANTE a guerra fria. Parte do encanto desse filme, pra mim, foi não saber nada além do título gigantesco e instigador. Assista, então, pra ver como uma máquina de coca-cola pode salvar o mundo.

Pedro: Em meio aos anos mais conturbados da guerra fria, um diretor que já tinha se mostrado promissor, após obras como Lolita e Glória Feita de Sangue, resolve fazer um drama político baseado em um livro sobre os críticos momentos nas relações entre EUA e União Soviética. Lendo tudo aquilo e achando ridículo, o tal diretor resolve fazer um sátira política. E isso resultou em um dos filmes mais (com o perdão do trocadilho) fantásticos de todos os tempos. Um filme com diálogos geniais (como esquecer do presidente americano gritando para “Não brigarem na Sala de Guerra”?), situações hilárias (como o premier russo bêbado ao telefone) e Peter Sellers fazendo a melhor atuação da história do cinema interpretando três personagens que não podiam ser mais diferentes, inclusive o Dr.Fantástico do título. E se você acredita que um filme desses ficaria datado com o fim da União Soviética – pode acreditar que você está completamente enganado: além de continuar hilário, as situações ali expostas podem ser transferidas com facilidade para o momento em que vivemos hoje. Sério, o filme tem tantos momentos sensacionais que só de falar sobre ele já me dá vontade de assistir de novo. E podem acreditar (felizmente) isso não é marketing barato ou um exagero tendencioso.

Veredito Final:
PA diz:
Se eu e a Uiara elogiamos o humor negro durante todo o Top100, o que falar da obra prima do humor negro? Um filme que não só tem alguma das melhores sacadas que já passaram na grande tela, como faz questão de sacanear a guerra fria – no ápice da guerra fria, quando todo mundo estava, literalmente, com o cu na mão.
Uiara diz:
é o auge do humor negro e inteligente, com certeza. Só Kubrick teria a coragem de colocar cenas com um presidente americano idiota, um premier russo bêbado, um general paranóico, uma máquina da coca-cola que salva o mundo e um certo Dr. que não consegue controlar seus impulsos nazistas
em plena guerra

PA diz:
E Peter Sellers faz simplesmente a melhor atuação da história do cinema. Sem concorrentes.
Uiara diz:
aS melhoreS, diga-se de passagem
PA diz:
porque são TRÊS – sendo que eu só descobri que ele fazia o presidente americano depois de assistir o filme
Uiara diz:
ele e Kubrick juntos são a parceria dos sonhos
Kubrick esse, por sinal, que ganhou 2 de suas posições permitidas logo no top 5.

PA diz:
Top Five dos sonhos – com Billy Wilder, Kubrick e Hitchcock
e o nosso primeiro lugar – é claro, mas ele é especial, como não poderia deixar de ser

Uiara diz:
se nossos leitores tiverem mais de 2 neurônios já até sabem qual é, já que texto sim e outro também nós falamos dele em nossas respectivas colunas
PA diz:
Um filme tão bom que eu e a Uiara nem discutimos a primeira posição. Era ele e pronto.
E estamos falando de…

1) Curtindo a Vida Adoidado

(John Hughes, 1986)

Uiara: “A vida passa muito rápido. Se você não parar e olhar de vez em quando, você pode perdê-la”. Eu vou dispensar a última resenha pra ir curtir o resto do dia de folga. SAVE FERRIS.

Pedro: Se a sangrenta elaboração desse Top 100 não resultou em morte foi porque os dois elaboradores dessa bagaça concordavam com o primeiro lugar de antemão. E para quem acha broxante um “filme da sessão da tarde” em primeiro lugar, e acha que é só porque traz recordações ou algo do tipo, é porque nunca viu o filme além de uma ótima diversão. Existem filmes que dão lições valiosas, existem filmes que fazem você repensar na sua vida, mas só um te dá um modelo completo de como viver sua vida ao máximo. E ele se chama Ferris Bueller. Um cara que não tem implicância com ninguém e, mais do que isso, é querido por todos – sejam nerds, valentões, patricinhas ou maconheiros. Um garoto que mata aula – não pra ficar morgando na cama (como seu amigo Cameron) – mas para aproveitar a vida (que, como ele mesmo diz, passa rápido) sabendo que daqui a 10 anos todo mundo terá esquecido daquele dia. Mas ele não, ele lembrará como um dia em que ele foi em um museu, na bolsa de valores, deu calote em um restaurante, cantou em um desfile e teve ótimos momentos com seu melhor amigo e sua namorada. Um garoto que está sempre vendo tudo pelo lado positivo, mas que em nenhum momento dá uma de trouxa (seja pegando a Ferrari do pai de seu amigo ou não deixando um garçom menosprezá-lo). Um namorado e amigo que não fica perguntando “o que vocês querem fazer” – mas vai lá e faz, dando liberdade para aqueles em seu entorno de fazerem ou não. Uma pessoa que se importa com experiências, e não bens materiais. Um ser que afeta todos em sua volta sem precisar abrir a boca: seja sua irmã recalcada, seu amigo hipocondríaco ou até mesmo o guardador de carros. Não bastasse criar o melhor personagem da história do cinema, John Hughes – nos dois dias (!!!) em que elaborou o roteiro – criou um filme em que não há UM personagem ou cena meia boca – ou você está rindo com alguma cena pastelona, ou feliz com alguma cena divertida ou reflexivo com alguma lição, que é dada sem sentimentalismos baratos. E em todos os momentos pensamos “eu quero ser Ferris Bueller”. E ele não é lindo, rico ou famoso. Ele simplesmente sabe aproveitar a vida. Quer lição melhor do que essa?

Veredito Final:
Uiara diz:
enfim!
já tem quantos meses que estamos fazendo isso?

PA diz:
Quatro ou Cinco.
Quantas fases, quantas discussões, filmes que descobrimos, filmes que xingamos…

Uiara diz:
ainda bem que cê vai viajar (ou já estará quase voltando até isso ser publicado), senão ia te bloquear por uns meses
PA diz:
Imagina se discutíssemos isso em um avião? A gente acabaria o top 100 em Guantánamo.
Uiara diz:
eu fico feliz que tudo tenha sido feito virtualmente
senão ia virar um filme do Tarantino a cada vez que discutíssemos Almodóvar

PA diz:
E um drama a lá Almodóvar cada vez que eu defendesse Tarantino.
Uiara diz:
no bendito dia que nos conhecermos temos que lembrar de falar de… flores do campo e… coelhos saltitantes. Não quero ser presa por assassinato e tal.
PA diz:
Marcaremos em um lugar sem cadeiras… só pra garantir.
Uiara diz:
combinado
aliás, nós tínhamos que falar de um filme, não?

PA diz:
Acho que tínhamos que falar sobre O filme.
Uiara diz:
sim, O filme. Aquele que deveria substituir a obrigatoriedade do voto. Já pensou que beleza se ao invés de escolher os novos palhaços do circo fossemos todos assistir o Ferris?
eu enfrentaria a fila gigantesca com gosto

PA diz:
Seriamos dois.
Afinal, o que podemos falar do melhor personagem da história do cinema? Um garoto normal – mas que diferente de todos a sua volta, sabe aproveitar a vida.

Uiara diz:
é um filme simples. Consigo pensar em uns 30 que sejam muito mais majestosos que esse nos anos 80. Mas a graça dele tá aí mesmo. É tão bom quanto um dia de folga.
PA diz:
É um filme que não tem UMA cena “marromenos”, UM personagem inútil – Curtindo a Vida Adoidado é tudo sobre se divertir e refletir.
Uiara diz:
lembra que falei que anoto algumas falas legais de filme aleatoriamente? No Curtindo a vida adoidado eu anotei umas duas páginas antes dos primeiros 20 minutos
PA diz:
E não são bem “falas legais” – é filosofia em forma de palavras. E não é aquela coisa chata – a lá Tarkovisky. É um filme que QUALQUER pessoa pode assistir, se divertir e absorver alguma coisa.

Uiara diz:
acho que acabou, não?
PA diz:
FINALMENTE
Uiara diz:
ALELUIA IRMÃO
PA diz:
GLÓRIA, GLÓRIA, SALVAÇÃO

Este texto faz parte de um TOP 100. Veja o índice aqui.

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