“TOP 100 FILMES BACON FRITO” 20 – 16
20) A Ponte do Rio Kwai
(David Lean, 1957)
Pedro: Bem, desconsiderem as implicâncias da Uiara com esse filme. Acreditem – a Ponte do Rio Kwai é o melhor filme já feito sobre a guerra. E isso porque ele se utiliza de um evento (a construção da tal ponte) para demonstrar as loucuras da guerra. Seja pelo embate de “orgulhos” entre dois coronéis (um deles marcado pela atuação lendária de Alec Guiness) – cujas atitudes e motivações demonstram nada senão a loucura e uma deturpação total da ideia de honra – tal como realmente acontece nos grandes conflitos. E na história paralela do personagem de William Holden, fica claro que essa loucura não se restringe somente a dois homens em especial, mas que já está cravado desde o berço no próprio exército. E o final, eternizado na história do cinema, aos moldes das tragédias gregas, é o recado definitivo sobre o que se pode esperar de uma guerra.
Uiara: Apesar da vontade de glorificar esse filme só pra contrariar o Pedro, devo dizer que ele não estaria tão bem colocado se dependesse só de mim. Mas depois de brigas homéricas e xingamentos mútuos, ele está aqui. Só não deixem se enganar pela crítica aparente: o filme É bom. A ponte em si é a alegoria em perfeição suprema da guerra. Dois senhores lutam por algo que sairia mais rápido e melhor se desde o princípio percebessem que é um interesse mútuo. Um deles vence na guerra da teimosia. No fim se dão conta que o motivo da guerra (a ponte, no caso) é fútil e tão fácil de destruir quanto o fogo de um fósforo.
Veredito Final:
PA diz:
Dirigido por David Lean (O cara dos épicos – Dr.Zivago e Lawrence das arábias) – a Ponte do Rio Kwai é o filme mais simbólico e bem atuado sobre a guerra (no caso a 2a GM, mas que se aplica em todas elas).
A construção da ponte (que existe) – simboliza o orgulho (misturado com a insanidade) do exército, e mais do que isso, a motivação por um dos embates mais inusitados e fantásticos do cinema – entre dois coronéis, cujo orgulho era maior do que a própria racionalidade
Uiara diz:
é um filme sobre orgulho e teimosia, basicamente
teimosia essa dos generais que te faz quase brigar com uma tela de vidro os mandando eles pararem de tanta frescura e decidirem logo no palitinho porque cê quer que o filme continue
PA diz:
teimosia essa que eles chamam de “honra”
Uiara diz:
não importa o nome, só que uma hora eles param
PA diz:
e assim como em Inglórios Bastardos – aqui também se trata de duas histórias distintas (mas que começam juntas) e se chocam no final sensacional
19) Réquiem para um Sonho
(Darren Aronofsky, 2000)
Pedro: Poucos títulos foram tão cruelmente colocados quanto o da obra em questão. Acompanhando quatro personagens (um deles Ellen Burstyn que teve seu Oscar larapiado pela Julia Roberts) em busca de seus sonhos, o filme demonstra como as drogas (da heroína até os remédios para emagrecer) podem alimentar esperanças e depois simplesmente massacrá-las. Possivelmente um dos melhores finais (e trilhas sonoras) do cinema moderno.
Uiara: Se tivesse que escolher só uma palavra pra definir esse filme, seria “perturbador”. Não é um filme SOBRE drogas, mas certamente é o que representa com maior perfeição o resultado desse vício, inclusive com drogas prescritas por médicos. “Lux Aeterna” é, sem dúvidas, a música ideal pra cena final. O desespero traspassa a tela.
Veredito Final:
PA diz:
Pegue a crítica sobre as drogas de Trainspotting e misture com toda a desesperança causada por O Bebê de Rosemary, a edição louca de MASH e adicionando uma trilha sonora fenomenal. Está ai Réquiem para um Sonho.
Uiara diz:
Jared Leto é um ator (injustamente) ainda pouco conhecido, apesar de ter no currículo filmes únicos como Réquiem. Junto com Ellen Burstin e sob a direção de Darren Aronofsky, o filme tem um desenvolvimento surpreendente e uma sequência final que obtém um dos melhores resultados música+imagens da história
PA diz:
Final para deixar você assustado durante uma semana.
E como me deixa puto saber que Ellen Burstin perdeu o Oscar para a… Julia Roberts.
Uiara diz:
fazendo… Erin Brockovich
mas não é novidade que a academia é doida
PA diz:
é verdade… basta ver os diretores que não ganharam o Oscar
18) Clube da Luta
(David Fincher, 1999)
Pedro: Poucos filmes causaram (e causam ainda) tanto impacto quanto Clube da Luta. Apesar do nome soar besta, se trata de uma das obras mais inteligentes e impactantes que o cinema já produziu. Um ataque direto às hipocrisias e superficialidades da sociedade moderna, com direito a duas grandes atuações da dupla de protagonistas, um apanhado de cenas marcantes e um dos mais fuderosos twists de que se tem notícia.
Uiara: A primeira regra do Clube da Luta é: você não fala a respeito. A segunda regra do Clube da Luta é: você NÃO FALA a respeito.
Veredito Final:
Uiara diz:
falando de loucura…
não tem uma vez que eu tenha um ataque de insônia que não lembre do Edward Norton deitado no sofá mudando de canal e dizendo que um insone nunca está realmente acordado ou dormindo
PA diz:
Uma crítica ácida (e direta) contra a sociedade consumista, em uma das narrativas (e roteiros) mais loucos, imprevisíveis e doentios que o cinema americano já produziu
E com um twist que vai fazer você assistir (e apreciar) a obra novamente
Uiara diz:
e ficar abismado com a perfeição do filme inteiro apesar desse twist
considerando o que uma amiga me falou tempo atrás, vale o conselho para as moças leitoras: olhe para os olhos do Brad Pitt. PROS OLHOS.
senão você vai ter que arrumar uma amiga bondosa como eu pra explicar o filme
PA diz:
e aposto que já passou na cabeça de todo homem fazer um clube da luta
ou ter um
Uiara diz:
como eu sou uma fracote, ficaria satisfeita em frequentar algum grupo de ajuda
17) Amarcord
(Federico Fellini, 1973)
Pedro: Quem acompanha a filmografia de Fellini está acostumado com cenas alegóricas, metáforas circenses e roteiros geniais. E é claro que todos esses recursos teriam que estar presente em seu filme mais autobiográfico (Amarcord = Eu me recordo). Um filme que por não ter um eixo condutor claro, acaba funcionando como um divertidíssimo guia pelos acontecimentos, personagens e sonhos de um dos maiores diretores que o cinema já teve.
Uiara: Mesmo que Fellini tenha negado que o filme seja autobiográfico (só com algumas semelhanças com sua infância), Fellini bom é Fellini que pareça um tipo de realidade com pinceladas circenses. Porque sim, o nome desse senhor deixou de ser só um nome próprio pra virar gênero há tempos. São filmes que viajam em acontecimentos “reais”, sobre pessoas com sonhos e uma confusão mental invejável a qualquer maluco e sobre homens que glorificam as mulheres, como o Almodóvar. Amarcord é talvez o filme que melhor represente essas características do palhaço cineasta. Ou cineasta palhaço, como preferir.
Veredito Final:
PA diz:
Acho que o Fellini é o único diretor que consegue fazer filmes autobiográficos que não soam “egoístas”
Muito pelo contrário – consegue fazer você se divertir e procurar traços em comuns com a sua própria vida
Uiara diz:
e não é difícil encontrar
qualquer um tem uma boa história pra contar. Se enfeitar um pouco a verdade e inserir a genialidade do Fellini é fácil ser um dos maiores diretores do cinema
difícil é achar a tal genialidade
PA diz:
Bem… eu diria que a maioria dos leitores do bacon teriam história sobre tíbia ou gunbound pra contar
Uiara diz:
qualquer história que incluísse a morte deles no final seria boa
PA diz:
E seria melhor ainda se a morte fosse no começo. De preferência antes de aparecer o título.
Uiara diz:
futuros cineastas do Bacon, favor postar no youtube e me mandar o link. Grata.
PA diz:
Ou mandar algum familiar postar, caso queira ganhar um Oscar de atuação e se matar de verdade.
Uiara diz:
é o que eu recomendo
cinema realista é um sucesso
16) …E o vento levou
(Victor Fleming, 1939)
Pedro: O que será que um épico de 4 horas está fazendo aqui? Será que é só por nome? Claro que não. Se existe uma obra que merece todo alarde que fazem em volta é essa. Primeiro por ser o ÚNICO filme com essa duração que consegue não ser cansativo (claro que você fica cansado pela quantidade de horas sentado, mas nunca por algum demérito da obra). Segundo por ser um filme de 70 anos mas que consegue ser visualmente lindo até hoje. Some isso a um elenco lendário (Vivien Leigh e Clark Gable chegando ao auge de suas carreiras, Hattie McDaniel sendo a primeira negra a levar o Oscar, Olivia de Havilland começando o que seria uma década de ouro, entre outros), um apanhado de frases, diálogos e cenas que ficaram eternizados e tudo orquestrado por um diretor que estava fazendo O Mágico de Oz no mesmo ano. Não é a toa que até hoje os produtores chamam de “acertar no Gone With the Wind” quando dizem que um filme é muito caro e tem tudo para dar errado (e por isso ninguém quer produzir), mas por um golpe de extrema sorte, ele se torna um fenômeno.
Uiara: Posso ver a carinha frouxa de vocês fazendo bico e nos chamando de cinéfilos metidos a intelectualóides agora. Obviamente é porque vocês NÃO viram esse filme. Ele é a prova de que, às vezes, a glorificação de um clássico é válida. Claro que a duração dele pode ser cansativa pros olhos, e por isso recomendo uma sessão dupla. Ele tem até um intervalo como deixa pra isso. Dê uma volta, faça o que quiser e depois siga vendo essa obra prima que tinha absolutamente tudo pra dar errado. Mas pelo contrário, transformou Scarlett O’Hara (ou “dar uma de…”) em expressão pra fazer drama, bico e o que for pra conseguir o que quer e um homem que tinha um cheiro cadavérico na dentadura num galã que… bem, terminou o filme da forma que, se vocês tiverem alguma dignidade, vão ver que é uma lição de masculinidade e uma das melhores frases do cinema.
Veredito Final:
PA diz:
Acho que foi um dos clássicos CLÁSSICOS que eu mais demorei para assistir – mesmo tendo o DVD. Foram semanas de preparação para assistir a um filme de 4 horas que com quase toda a certeza eu iria odiar.
Mas não caiam no meu erro – o filme é espetacular. Um épico que acompanha a história americana em meio a guerra civil, com personagens lendários e um número sem igual de diálogos e cenas marcantes.
Reza a lenda inclusive que David Selzinick (produtor do filme) disse ter perdido todo o tesão pelo cinema, pois acreditava que nunca mais um filme superaria …E o vento levou
Uiara diz:
eu tenho uma vaga lembrança de ter visto uma cena dele na televisão a muitos e muitos anos e ter achado um porre. Só esse ano tomei coragem pra assisti-lo, com a mesma expectativa do Pedro. Me arrependi por ter deixado tanto tempo se passar sem que eu tivesse visto esse clássico
o filme é sensacional e quase não dá pra perceber o quanto é longo
com a frase final que diz a que Clark Gable veio ao mundo
PA diz:
Boa lembrança. Se vcs ainda sim não estiverem encorajados para assistir o filme, assistam somente pela lição de bolas que o Clark Gable dá
Fora que como conseguiram (através do Tecnicolor) fazer o filme ficar tão bonito e colorido em 1939 é um mistério.
também – foi o último grande filme antes da 2a Guerra Mundial, e os filmes voltaram a ser preto e branco
Uiara diz:
e como o Victor Fleming conseguiu fazer dois dos melhores filmes de todos os tempos NO MESMO ANO é mais misterioso ainda
que segunda guerra que nada…acho que ele gastou todas as cores nesse e no Mágico de Oz.
PA diz:
e não fazer MAIS nada nem antes nem depois disso
acho que ele resolveu gastar tudo o que ele tinha em 1939
e se tivesse guardado um dos dois para o ano seguinte, acabaria levando 2 Oscars de diretor
Uiara diz:
só nos anos 30 mesmo pra isso acontecer
hoje os diretores fazem um filme bom a cada 10 anos
e sim, to falando do James Cameron
Este texto faz parte de um TOP 100. Veja o índice aqui.
Leia mais em: A Ponte do Rio Kwai, Amarcord, Clube da Luta, E o Vento Levou, Federico Fellini, Réquiem para um Sonho, Victor Fleming