Um Lugar Qualquer (Somewhere)

Cinema quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

 O filme gira em torno de Johnny Marco, um astro de filmes de ação de Hollywood e que vive no lendário hotel Chateau Marmont e vive uma vida de diversão – porém vazia: Participa de festas que nem queria estar, consegue mulheres facilmente e é admirado pelos fãs. Tem essa vida solitária até que sua filha, Cleo, de 11 anos, fruto de um casamento fracassado, começa a participar mais de sua vida. Agora com a filha por perto, Johnny começará a rever certos conceitos de sua vida.

Mais um filme de Sofia Coppola, filha do mestre Francis Ford Coppola (Trilogia O Poderoso-Chefão e Apocalypse Now, claro que é mestre). Ela já havia provado ter jeito ao roteirizar e dirigir o excelente Encontros e Desencontros, que também tinha como protagonista uma estrela de Hollywood. E não é pra menos essa intimidade de Sofia com o mundo das celebridades hollywoodianas: Além de filha de Francis Ford, é prima de Nicolas Cage e já foi casada com Quentin Tarantino. E essa intimidade a ajuda a entender e mostrar melhor esse lado, oferecendo um segundo grande filme sobre o assunto.

Sofia Coppola é digna de aplausos por nos fazer ter tanta simpatia pelo protagonista, que na verdade é uma criança com dinheiro e mulheres. Mesmo sendo vazio de propósito (Acorda, come, bebe, consegue uma mulher e dorme, de roupa mesmo), a vida que ele leva é apenas resultado de suas escolhas. Ou seja, não é exatamente um exemplo de pessoa, mas Coppola se mostra hábil, tanto no roteiro quanto na direção, ao fazer com que acompanhemos as angústias de Johnny sem pensar “Que cara fresco, tem tudo o que quer e fica de mimimi”.

 Óounn…

E que personagem Coppola cria. Evita que o espectador considere-o um riquinho fresco mostrando exatamente como ele é tratado: É admirado por quem o vê de longe, como jovens atores e fãs de seus filmes; mas quem o conhece mesmo, o odeia, como Coppola demonstra nas mensagens que ele recebe no celular e como sua ex-mulher se recusa a ir vê-lo num momento em que ele baixa seus escudos, sendo que ela era a pessoa mais próxima a ele disponível naquele instante.

Stephen Dorff, como o protagonista, e Elle Fanning, como Cleo, estabelecem uma relação verdadeira de pai e filha e comandam o elenco, não deixando a bola cair ou o filme desandar em nenhum instante. Nenhum dos dois se entrega a excessos. Veja como Dorff é quase monossilábico e não se sente à vontade com as pessoas que o cercam. E Fanning (Você conhece esse sobrenome) não faz com que sua personagem se perca no limbo de crianças-prodígio-chatas, soando verdadeira em sua maturidade. Ainda há uma rápida participação de Benicio Del Toro, interpretando basicamente ele mesmo, uma celebridade que se hospeda no Chateau Marmont e usa boné para fugir de paparazzos e tietagem.

 “Essa comida tá ótima, Dak… digo, Ellen Fanning”

A direção de Coppola é carregada de simbolismos visuais, com belos planos de corte único, como quando Johnny segue o carro de uma garota, desviando de seu caminho, apenas na esperança de conseguir uma transa. Os simbolismos estão espalhados em praticamente todas as tomadas. Um exemplo é quando vê um show particular de duas strippers e, logo depois, acompanha o ensaio de sua filha na patinação do gelo, mostrando os contrastes de suas relações – desde o show das strippers, até a pureza de sua filha.

Ainda há outros belos simbolismos pelo filme, como a mensagem que acaba visível em um pôster durante uma massagem ou o nome da música que Johnny falha em completar enquanto joga Guitar Hero. A cena inicial e a cena final também fazem uma bela rima narrativa da trajetória do personagem durante o filme, o que mostra um preciosismo técnico impecável de Coppola e seus colaboradores.

 Ela tem 11 anos e é da altura de quase todo o elenco

O final – não a cena final – é, de certa forma, bobo e decepcionante, mas não tira boa parte da excelência do filme, carregado de bela linguagem visual, com bela fotografia, bela direção de Coppola e grandes atuações da dupla protagonista. Melancólico como deve ser e como foi o melhor filme dela, Encontros e Desencontros.

Ainda bem que ela desistiu de ser atriz, hein? Depois de pavorosas atuações em O Poderoso-Chefão Parte III e Star Wars Ep. I – A Ameaça Fantasma, ela se encontrou mesmo como diretora e roteirista.

Um Lugar Qualquer

Somewhere (98 minutos – Comédia Dramática)
Lançamento: EUA, 2011
Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola
Elenco: Stephen Dorff, Ellen Fanning, Michelle Monaghan, Chris Pontius

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