127 Horas (127 Hours)
Aron Ralston gosta de passar seu tempo livre nas montanhas do Utah, escalando-as, mergulhando nos pequenos lagos e se sentindo livre, podendo fazer tudo o que quer, chamando o lugar de sua segunda casa. Para se sentir mais livre ainda, Aron costuma evitar que seus amigos e familiares saibam onde ele passa esses finais de semana. Em mais um final de semana nas rochosas montanhas do Utah, Aron acaba ficando preso numa fenda, com uma enorme e pesada rocha prendendo seu braço contra a parede. Ele não pode ser resgatado, já que está numa região completamente isolada e não avisou ninguém onde iria. E ele passará lá as 127 Horas do título do filme, que é baseado em uma história real.
Se você não conhece a história de Aron Rolston, fuja de todas as sinopses e até dos trailers. Sério. É até desastrado grande parte da imprensa e da divulgação do filme já contar inclusive o final e o clímax do longa. Pode-se defendê-los apenas pelo fato ter ocorrido há pouco tempo, em 2003, e muitos podem conhecer ou se lembrar de tal história, mas grande parte do público não conhece a história de Aron Rolston, portanto esse erro poderia ter sido facilmente evitado.
Mas quem já conhece a história, seja por ter lido o livro Between a Rock and a Hard Place – que inspira o filme – ou por documentários e programas especiais na TV a cabo, não se preocupe, o impacto não é diminuído. Falo com propriedade por conhecer a história do alpinista há cerca de 3 anos e, mesmo assim, os fatos do filme não foram menos dolorosos, emocionantes ou vivos.
O filme de Danny Boyle é tecnicamente irretocável: Desde a trilha sonora que não despenca no clichê de colocar músicas de suspense em cenas desesperadoras, até a direção de Boyle, que não precisa provar mais nada a ninguém, já que faz parte da primeira geração da nova geração de grandes diretores de Hollywood (Ele e David Fincher são essa primeira geração, por já terem se firmado nos anos 90, a segunda geração da nova geração é formada por Darren Aronofsky, Christopher Nolan…).
Mas as duas maiores virtudes do filme são a caprichada edição de Jon Harris e a excepcional atuação de James Franco. O ator, que surge em praticamente todos os takes do filme, consegue uma atuação magistral, tendo azar apenas de consegui-la no mesmo ano em que Colin Firth encarna o Rei George VI em O Discurso do Rei e garante todos os prêmios pra ele, caso contrário, Franco levaria o Oscar pra casa. É difícil pensar em um momento do ator que seja meu preferido no filme, desde as discussões consigo mesmo, até o olhar que faz ao rever o vídeo dos mergulhos que fez com duas garotas, pouco antes de ficar preso, numa cena que mostra como a sua opção de se isolar, durante toda sua vida, o levou até aquela fenda. Mas o grande momento de Franco é sua auto-entrevista, em que ele simula um talk-show para a câmera. Cena essa que cresce ainda mais graças ao design de som do longa, que coloca sons de plateia, para nos colocar ainda mais no lugar de Aron.
A edição de Harris também se mostra acertada em todos os instantes. Desde o iníco, com uma edição rápida e quase trocando de take no ritmo de música, ao melhor estilo videoclipe, dividindo a tela diversas vezes. É inspirada e já nos deixa preparados para o filme. Ao contrário de Enterrado Vivo (Outro filme que se passa com um personagem preso em local durante todo o filme), 127 Horas se permite ir ao passado e buscar motivações e fatos que levaram Aron a se isolar e evitar contatos mais íntimos com outras pessoas, preferindo passar seu tempo livre sozinho nas montanhas. E aqui, novamente, a edição se mostra inspirada, ao não ser exatamente linear e nem mostrar longos flashbacks de cinco minutos, como muitas obras costumam fazer, ignorando que nossa cabeça não funciona assim, mas em curtas lembranças e momentos importantes, que é o que acontece com o protagonista aqui.
(No próximo páragrafo, abordarei as cenas finais do filme, portanto, se ainda não o assistiu ou não conhece a história de Aron Ralston, pule para o outro páragrafo, logo após a próxima foto. Esteja avisado.)
Já assistiu ao filme, né? Já conhece a história, certo? Ok, pode ler. A escolha de Boyle de não desviar a câmera e nem acelerar o processo de auto-amputação do braço de Aron é corajosa e certíssima. É corajosa porque, inevitavelmente, muito sangue deveria ser usado nessa cena, o que aumentaria a censura do filme, diminuindo seu público. Mas Boyle não se acanha e faz a cena com um realismo impressionante e assustador, o que era o certo a se fazer, já que durante todo o filme somos colocados no lugar do protagonista e evitar o sofrimento que Aron passou nesse momento seria uma covardia imensa de Boyle e seus colaboradores. Sorte que o diretor era ele, certo? (Se o diretor fosse o Zack Snyder, Aron teria cortado seu braço de uma vez e a cena seria mostrada em câmera lenta.)
Sem dúvida alguma um dos grandes filmes dessa década (Que só tem 2010 e início de 2011, então, né), 127 Horas encontra um espaço abaixo de Cisne Negro (O melhor) e logo acima de Bravura Indômita e A Origem, como o segundo melhor filme do ano. Direção inspirada, edição fantástica, roteiro maravilhoso, fotografia belíssima, design de som sensacional e coroado com uma atuação genial de James Franco: não há o que não gostar em 127 Horas.
127 Horas
127 Hours (93 minutos – Drama)
Lançamento: EUA, 2011
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Danny Boyle e Simon Beaufoy, baseados em livro de Aron Ralston
Elenco: James Franco, Treat Williams, Lizzy Caplan, Kate Mara, Amber Tamblyn
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