3%

Televisão sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Primeira produção original da Netflix Brasil, 3% é mais uma história sobre como uma aprovação na juventude pode mudar a vida das pessoas e como isso é ridículo, injusto e blá, blá, blá. O problema aqui é que uma tempestade sobre jovens contra o sistema atingiu, destruiu e saturou tanto TV quanto cinema nos últimos anos e é bem provável que tenha sido essa tempestade que fez 3% ser produzida, o que é um puta dum vacilo ainda maior, já que o piloto de 3% existe desde 2011.

A história é mais ou menos a seguinte: O Brasil está dividido em dois lados. Os pobres fodidos que vivem em cidades abandonadas e os ricos filhos da puta que vivem no bem bom em um lugar onde, aparentemente, crimes e injustiças não existem. Não é muito diferente da realidade, e de fato não é muito diferente de Jogos Vorazes. Todo o ano existe uma seleção onde jovens de vinte anos pertencentes à população fodida tem a chance de se provar boa o suficiente pra ir morar do outro lado do muro e dessa seleção, onde milhares de juvenis participam, apenas 3% são aprovados, daí o nome da série. O problema é que após 104 anos de seleção rola uma treta pesada na cidadezinha utópica dos ricaços, o que torna a seleção mais rigorosa e mais importante. Ou seja, é uma série sobre o Enem com direito a gente zoando os atrasados do Enem e tudo.

Não existe muita originalidade nos personagens ou nas situações que a série apresenta, por várias vezes me peguei lembrando de filmes e séries que apresentaram aquela mesma situação, mas não uso isso como desmérito, afinal, o que é original nos dias de hoje? Algo que me surpreendeu positivamente foi o uso da meritocracia real, coisa que eu nem sabia que podia existir, e por um lado, não pode. Todos os que são aprovados recebem uma vacina que os esteriliza. Ou seja, não nasce criança em Maralto, como é chamada a cidade dos ricaços, logo, não tem gente beneficiada pela família e todo mundo que chega lá, chega porque passou pelo mesmo processo de seleção fodido. Ou mais ou menos isso, já que tem sempre um filho da puta, né?

A série é muito bem produzida e eu gosto de incentivar produções nacionais que fogem do convencional, mas não tem como ignorar o fato de que a série sofre do mesmo problema que a maioria das produções nacionais sofrem: Situações forçadas e diálogos mal entregues. A parte das situações forçadas, como o “afogamento” da funcionária e seu agradecimento precoce é culpa direta do roteiro, já as entregas de falas, que fazem até mesmo ótimos atores e atrizes como João Miguel e Bianca Comparato parecerem amadores, é culpa direta do diretor. Não que isso arruíne a série, mas certamente a prejudica muito.

Enfim, pode ser que 3% seja os Jogos Vorazes do Brasil, como certos sites americanos disseram, e se for, é muito melhor que o Battle Royale americano, simplesmente por não se prender em romances adolescentes doentios e na fama de atores/atrizes famosos pra se manter. Tudo bem que 3% podia ser um filme ou uma minissérie, mas ok, bola pra frente e queimem Maralto logo, porra!

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