Petições online e oportunidades perdidas
E finalmente terminou Game of Thrones, pra alegria de uns e tristeza de outros. Mas o que importa aqui tem relativamente pouco à ver com a série, apesar de estar ser, de certa forma, a motivadora do texto. Desde o começo desta última temporada a mesma tem sido criticada por um monte de decisões, e claro que era apenas questão de tempo até alguém criar uma petição pra mudar a coisa toda.
Essa coisa de criar petições e abaixo-assinados e sei lá mais o quê vem se tornando mais e mais comum nos últimos anos de internet. É um processo que começou mais ou menos no mesmo ponto em que a internet deixou de ser aquela ferramenta que as pessoas usavam e começou a virar a internet que todo mundo usa no dia a dia: Quanto a internet deixou de ser de entretenimento e passou a ser pra bancos, comprar passagens aéreas e agendar seu horário no Poupatempo.
Quando as petições online surgiram, o bagulho parecia uma boa ideia: Ter uma plataforma fácil e rápida de ser utilizada, na qual as pessoas poderiam apoiar causas que fossem importantes pra elas. A teoria é uma coisa linda, e verdade seja dita, por um tempo tudo funcionou relativamente bem, mas a internet sendo a internet é claro que o bagulho ia desandar, e foi só uma questão de tempo até a plataforma de dabate de questões sociais, políticas e econômicas virar a plataforma em que qualquer causa pode angariar “apoio”. Em outras palavras, as petições perderam qualquer peso real e passaram a ser um jeito de numerar pessoas de acordo com suas opiniões. Isso não é necessariamente ruim, mas também é verdade que que derrotou o ponto principal das petições: Se algo não gera mudanças reais no mundo real, a petição online deixa de ter sua principal função.
Claro que há exceções pra coisa toda, principalmente no que toca questões da própria internet: Uma petição para mudar, por exemplo, o apresentador de um canal no Youtube tem boas chances de dar certo. Porém, as chances de fazer um projeto de lei passar e ser aprovado são muito, muito menores. Ainda é possível que os papéis sejam invertidos nesta história, mas é longe de ser a regra, e mais importante que isto, com a perda de credibilidade das petições online ninguém realmente espera que estas petições vão realmente surtir algum efeito.
E bem, tem dois grandes pontos nesta questão: O primeiro é sobre poder expressar descontentamento e/ou apoio, e o segundo é sobre querer tudo do seu jeito.
Começando pelo segundo, a bagunça que as petições online viraram é, em parte, culpa de uma galera que não aceita não ter as coisas exatamente como elas querem. É o tipo de gente que ou está totalmente satisfeita ou o mundo é um lugar solitário e terrível em que todos morrem sem esperança. É uma gente babaca, chata e, principalmente, mimada pra caralho e que tem mais é que se foder. No que se trata de cultura pop e entretenimento é o tipo de gente que acha fan service a melhor coisa do mundo simplesmente porque aconteceu o que elas queriam que acontecesse porque é muito legal e muito foda e pisa mesmo queen e eu shipo S2.
É uma galera que não sabe lidar com frustração, negação e, de certa forma, com pessoas e opiniões contrárias às dela. Eu não vou entrar nos méritos de porque cada pessoa é assim até porque eu tô pouco me fodendo quais os motivos, mas o fato é que esse tipo de pessoa usa toda e qualquer plataforma e espaço possível para dizer pro mundo que o mundo errou. E este é um ponto importante: Ninguém que se comporta desta forma jamais está errado, é sempre o outro (E este outro vai deste de outra pessoa até empresas, companhias, celebridades, políticos, etc.). É uma grande demonstração de falha de socialização e incapacidade de lidar com a vida.
Voltando então ao primeiro ponto, a gente passa pra questão da expressão e de poder dizer que o que quer que seja que estão acontecendo não está te agradando. A grande diferença entre simplesmente mandar um textão no Feice ou um stories ou qualquer outra coisa é que, ao menos em teoria, com uma petição você não está sozinho: Tem gente que não só concorda contigo como está também disposta a se pronunciar sobre o assunto, sendo que o bônus é que numa petição o bagulho já está mais organizado.
E na boa? Não há mal algum nisso. Você não gostou e quer dizer que não gostou, e talvez mais gente concorde contigo, e isso permite que as pessoas responsáveis pela coisa em questão ficam sabendo desse descontentamento… Não tem falha nisto: A teoria é boa e ela funciona. A grande diferença do ponto anterior é que este aqui parte do princípio que a informação é mais importante que o resultado: Se quem fez a parada fica sabendo diretamente de quem é afetada por ela, não só é uma via de comunição efetiva como permite estudos em tempo real e posteriores acerca dos efeitos do tal produto ou questão. Claro que esta trajetória direta entre criadores e consumidores vai ser usada por gente que quer ser agradada o tempo todo, mas também será usada por gente que só quer “mandar uma mensagem”, e isso legitimiza as petições de um modo diferente do seu conceito original.
No caso de Game of Thrones, o grande ponto da petição é contra os criadores, produtores e showrunners da série, David Benioff e D. B. Weiss. Eu também não vou entrar nos méritos e culpas de ninguém aqui, justamente porque o principal ponto da petição pra refazer GoT cai não em GoT, mas nos dois: Eles já foram confirmados como envolvidos em futuros filmes de Star Wars, logo, uma petição culpando-os dos problemas na série criada por eles impacta diretamente em como a Disney trata a questão toda (Até porque a Disney gosta de fazer aquele meio de campo safado). Em outras palavras, enquanto a maioria das pessoas não espera realmente que GoT seja refilmada, boa parte delas espera que os dois “responsáveis pela tragédia” não estejam envolvidos em outra produção… Tanto que já tem petição exclusivamente pra isto também.
É uma mistura estranha entre “não esperar resultados pras petições” mas ao mesmo tempo “esperar consequências das petições”, quase que um jogar verde para colher maduro que tem muito mais relação com marketing e opinião pública que méritos, desméritos e sucesso comercial. Sendo que, diga-se de passagem, este “esperar consequências” é quase tão bobo quanto esperar resultados: Não é porque o seu jogo é à longo prazo que ele é menos idiota que o de curto prazo.
Enquanto eu não me dou ao trabalho de assinar petição alguma, eu discordo completamente de que é unicamente uma forma de querer forçar o mundo à vontade de alguém. Claro que tem gente assim, e claro que é uma plataforma que elas usam, mas de uma forma geral, a vantagem de ter esta forma de comunição pesa muito mais que os resultados e consequências que possam advir delas. Ainda usando GoT como ponto de partida: A série está feita, pronta e isso não vai mudar (Talvez seja feito um remake no futuro? Talvez, mas de novo, só no futuro), e à bem da verdade, a série ainda deu dinheiro e audiência pra caralho, ainda que as críticas e opiniões não sejam boas, então é muito provável que o David Benioff e o D. B. Weiss D&D é meuszovo não só continuem fazendo parte dos projetos de Star Wars e da Disney como façam outros projetos também. Porém o canal de comunição funciona, independente de qualquer outra coisa, é isso é muito bom.
Muito bom porque, no futuro, este mesmo canal possa continuar a ser usado de forma que diga que há uma parte da população que está junta contra alguma coisa… Talvez seja meio idealista da minha parte, mas como qualquer um que tenha estuda um pouco de história sabe, desconsiderar as opiniões e vontades de uma grande parte da população (Seja esta população a de pessoas numa cidade ou quem assiste uma série de TV) é um grande problema, e um que pode, de fato, ter repercussões reais. Ao mesmo tempo, a falta de importância e legitimidade que as petições online vieram a ter também permite ignorar tanto as petições esdrúxulas quanto a morbidade que estas vieram a tomar, afinal, como boa parte das pessoas que tão sempre na internet já perceberam, qualquer espaço legítimo pode virar palanque pra idiota de forma muito, muito fácil vide nóis aqui do Bacon.
É um jogo de tronos cadeiras equilíbrio entre usar um canal de forma efetiva e séria e não se deixar levar pelas flutuações e opiniões de algumas pessoas… Talvez o necessário pra isto acontecer seja uma reformulação das plataformas de petições e abaixo-assinados, uma curadoria… É a velha história do “não funciona então o povo não colabora e o povo não colabora porque não funciona”, saca? A grande questão pra mim, entratanto, não é o uso que estas plataformas têm, principalmente porque se for pra lista só a plataformas com bom conteúdo e efetividade, a gente tá tudo fodido, mas sim o fato de que elas podem funcionar à favor tanto de quem cria obras, leis, projetos e produção quanto do público alvo destes feitos.
No fim das contas, as petições são um meio de comunicação mal utilizado e subutilizado: O maior problema é que quem usa estas plataformas, tanto do lado de quem assina quanto do lado de quem é “alvo”, não só não entende como a plataforma funciona, como também não sabe transformar a existência de uma petição em resultado no mundo real. É preciso tanto uma boa petição – bem desenvolvida, bem explicada, com reinvidicações justas e possíveis de serem aplicadas – quanto uma boa análise e estudo da mesma: Atualmente (E já há muito tempo), petições online viraram sinônimo de gente gritando pra quem está se fazendo de surdo, sendo que a coisa poderia muito bem ser um diálogo, um debate. Eu sinceramente não acho que isto vai mudar tão cedo, mas se mudasse todos ganharíamos.
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