Pagando de cult
Livros normalmente não são objetos que são venerados por aí de maneira comum, acredito que a maioria das vezes que alguém pega um livro sem a intenção de o ler, só de o colocar de… direi cartão de visitas em sua mesa ou quarto, é simplesmente para dar uma de entendido, de Cult, de pessoa conhecedora de algo. O que, no fim, é apenas uma imagem falsa e tudo o mais.
Uma pessoa que não merece ter seu nome citado aqui e que tem uma aversão total a livros, livrarias e leitores resolveu me pedir uma recomendação de algo pra ler que fizesse ele parecer inteligente. A pergunta me pareceu bem CRETINA na hora, mas fazer o quê? Recomendei algo. Mas como qualquer recomendação que me pedem, não pode ser algo simples, tem que ter algo pra complicar os fatos e os tornar pouco mais nebulosos e difíceis para mim. O livro teria que ser de algum autor francês. E em francês. Agora, me digam onde diabos vou achar um livro que fosse em francês em Curitiba?!? Dado um pouco de dinheiro pra mim, vou em busca do tal livro. Minhas primeiras opções de busca foram sebos, logo depois, livrarias mais clássicas, sem ser essas de shopping, as quais fui por último. Quando estava prestes a desistir, encontrei algo barato, que se encaixava exatamente com o orçamento que eu tinha: uma edição pocket de Le Horla, de Guy de Maupassant. Curto, clássico, bom e barato, apesar de ter seu preço em euros, uma grande bosta, pois tornou algo que por lá era uma bagatela em uma pequena fortuna, dado o pouco número de páginas do livro. Só pra constar, custava €1,50.
E aí que tá, depois de tanta luta para achar isso, o resultado é que tudo isso só serviu para que o ser acima pudesse dar uma de inteligente. “Ei cara, que cê tá lendo?” “Tô lendo Maupassant, Le Horla, mas no original, porque as traduções são um lixo”. Uma das respostas prontas dele, mas isso não importa muito, já que ele nunca irá conseguir passar da primeira página daquilo, pelo menos, não sem ter muito trabalho e paciência, coisa que aposto que ele não tem.
E porque contei isso pra vocês? Percebam o seguinte: mesmo que a capacidade dele de entender palavras em francês não supere bonjour e Sil vous plait, o que importa pra ele é só a imagem. Ele não tá nem aí com o conteúdo do livro, ele só quer ser visto como alguém que não é. Minha revolta por esse caso ainda não tem limites definidos, mas acredito que vai ficar assim mesmo, já que não posso fazer nada para mudar isso. Ele com sua falsa imagem e pose de cult não irá mudar nada mesmo.
Mas aí que vem a questão do dia: qual seria o limite que define uma pessoa ser cult, alguém que quer ser só imagem de alguém que é realmente um leitor dedicado, que lê aquilo por gostar, por necessidade, ou gosto pessoal?
Se for pra pensar bem nessa questão, isso de pessoa que só tem uma imagem de leitor não é algo que mereça muita atenção, até porque, se for levado a fundo uma discusão literária, ele facilmente seria desarmado, pois seus conehcimentos são só básicos, nada profundo sobre o que ele finge ler. Isso explica bem porque esses mesmos seres ficam longe de situações em que podem ser desmascaradas, ficando só entre os que podem achar eles os fodas, os mais-mais, os bonzões só por causa de uma falsa imagem.
Bom, acabo por aqui, mas a questão fica. Para mim, ainda longe de uma resposta, pelo menos, uma resposta que eu considere a perfeita para isso.
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