Breves Entrevistas Com Homens Hediondos (David Foster Wallace)
Imagine um garoto.
Filho de um importante matemático do exército, tendo, portanto, que viajar por diversos países com sua família, onde seu pai serviria em diversos consulados e embaixadas.
Uma das fantasias masturbatórias deste garoto era, influenciado pelo seriado americano A Feiticeira, o poder mágico de congelar as pessoas dentro dos ginásios de Exercícios do Exército, onde as únicas pessoas que pudessem se mexer fossem ele mesmo e sua parceira escolhida (conquistada magicamente). Eles então faziam sexo loucamente, enquanto todos, incluindo sua mãe e irmão menor, permaneciam paralisados, ainda presos nas posições dos exercícios.
O garoto, no entanto, era muito parecido com seu pai. Viciado em lógica.
Tão viciado que precisava montar toda uma cena imaginativa em sua cabeça (que fizesse sentido!) para começar a simplesmente bater punheta: “e se alguém de fora entrasse? e se as pessoas, após o tempo paralisado, olhassem seus relógios e percebessem as horas perdidas?”
Então, vamos congelar todo o consulado! Mas e os chefes de Estado, em constante comunicação? Congelemos todo o Estado! Mas e os outros países, em constante troca de informações? Então todo o planeta! Mas e o Sol mudando de posição?
Então o sistema solar! E a galáxia! E o Desvio do Vermelho! E as galáxias vizinhas! E o Universo Conhecido como um Todo!
O garoto gastava Duas Horas, todas as noites, e um tremendo esforço mental para conseguir montar, imaginativamente, toda a cena necessária para que ele pudesse… bater punheta com sua fantasia favorita.
São contos como esse, passeando pelos temores e desvios humanos, que compõem Breves Entrevistas com Homens Hediondos, do autor americano (suicida, por sinal, se matou em setembro do ano passado) David Foster Wallace.
Lá você encontrará deficientes físicos que usam seu braço atrofiado para torturar psicologicamente e transar com garotas; pais que confessam, em seu leito de morte, todo o desprezo e ódio por seus próprios filhos; mulheres deprimidas envolvidas num jogo de atenção e auto-comiseração labiríntico; e jovens esposas completamente inseguras com a forma de fazer sexo com seus maridos (sem suspeitar, a princípio, que seus maridos são Masturbadores Compulsórios Secretos).
A genialidade do livro não reside apenas nos temas, altamente crus e desesperadoramente humanos, mas também na forma – David Foster Wallace experimenta, brinca e distorce o padrão do Conto Literário.
Além dos próprios contos-entrevistas, em que nunca temos acesso às perguntas, mas somente às respostas dos entrevistados, temos estórias meta-linguísticas, notas de rodapé gingantescas e “sketchs” de roteiro que funcionam como contos inteiros.
Você consegue ler sem sentir um soco no estômago? Difícil.
É justamente o que você procura? Então Compre, Leia e Se Delicie.
Mas não espere eufemismos e enfeites – aqui há o que temos de mais natural e puro da realidade humana.
O troço é sujo mesmo.
Breves Entrevistas Com Homens Hediondos
Brief Interviews With Hideous Men
Ano de Edição: 1999 no original; 2005 no Brasil
Autor: David Foster Wallace
Número de Páginas: 372
Editora:Companhia das Letras
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