Matadouro 5 (Kurt Vonnegut)

Antípodas da Mente sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pois é, mais uma daquelas loucuras habituais, que vocês já estão começando a se acostumar em me ver chamando de geniais.
No entanto, por mais que vocês não tenham gostado de nada que eu indiquei até agora, duvido que vocês não se sintam atingidos, de alguma forma, por este livro.
Matadouro 5 é uma história trágica escrita de forma hilariante. Ou poderia dizer uma história hilariante escrita de forma trágica.

Billy é um garoto de 17 anos que acaba sendo escalado para a Segunda Guerra Mundial. Lá ele é preso pelos alemães e fica um tempão preso num campo de prisioneiros de guerra em Dresden. Ele presencia o bombardeio da cidade pelos EUA em 1945, volta pra casa, forma-se em optometria, casa-se com a filha de um optometrista rico e tem dois filhos.
Depois ele sofre um acidente de avião, no qual é o único sobrevivente, fica em coma durante um ano (sua mulher morre nesse meio tempo) e se recupera. Quando acorda, decide dirigir até a cidade mais próxima, invadir um programa de rádio e anunciar em alto e bom som que ele havia sido abduzido por alienígenas do planeta de Tralfamador durante o casamento de sua filha. Como os Tralfamadorianos enxergam a quarta dimensão (o tempo) e podem se mover livremente nela, Billy fica sequestrado por seis meses, vivendo numa jaula com uma atriz pornô e volta para a Terra em menos de meio segundo, ainda durante o casamento.
Coisas da vida.

Não. Eu não resumi o livro em dois parágrafos. Essa é realmente a forma como o livro Começa. A vida inteira do personagem principal contada em uma página.
E a grande sacada é justamente essa. Billy afirma ter aprendido com os Tralfamadorianos a se “desprender” do tempo. Isso significa que ele pode viajar para qualquer ponto de sua vida (ou morte) com total liberdade mental.
E aí o livro realmente começa. Zilhões de flashes, imagens cortadas de diferentes épocas da vida de Billy. Temos conhecimento em detalhes de como foi sua experiência na Guerra, o tempo em que ficou preso e, principalmente, como foi presenciar o bombardeio de Dresden.
Caso vocês não saibam, Dresden foi a Hiroshima alemã. Uma cidade conhecida pela Europa inteira pela sua arquitetura refinada e como principal ponto cultural e artístico da Alemanha. Uma cidade que não fabricava armas. Uma cidade que mal tinha tropas instaladas. Uma cidade que não tinha nem prisões (Billy e os outros ficaram presos dentro de um antigo matadouro de bois… matadouro número 5).
No entanto, foi bombardeada por mísseis incendiários e mais de cem mil pessoas morreram. Sim. O dobro de Hiroshima e sua bomba atômica.
Não. As pessoas não falam sobre Dresden.

Seguido de flashes do bombardeio, vemos Billy com 46 anos sentado em seu escritório, chorando convulsivamente sem conseguir nem ao menos saber o porquê.
Depois, a imagem de troncos humanos ainda pegando fogo em meio aos destroços da cidade.
Coisas da vida.

O livro funciona maravilhosamente como um filme. Os capítulos parecem cortes de cena.
Além disso, o humor do autor é ácido e afiadíssimo. Você vai se pegar rindo das piores tragédias. Quando sua gargalhada acabar, você vai sentir vontade de chorar, pensando em como a humanidade inteira é uma merda e em como somos nojentos.

Ah, detalhe: Kurt Vonnegut lutou na Segunda Guerra Mundial. Ele foi prisioneiro de guerra em Dresden. Ele viu o bombardeio acontecer.

Matadouro 5

Slaughterhouse-Five or The Children’s Crusade: A Duty-Dance With Death
Ano de Edição: 2005 no Brasil
Autor: Vonnegut, Kurt
Número de Páginas: 232
Editora:L&PM

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