Clássicos de Lado – Parte 1
Se vocês leram a coluna passada e se não leram, morram perceberam o quão subjetiva é a definição de clássico. Afinal quem define o que é bom e o que é ruim?
Eu achava essa cena exagerada, até escutar algo semelhante envolvendo Curtindo a Vida Adoidado e Crepúsculo. Minha frustração foi parecida com a do Charlie – não haviam argumentos para convecer a uma anomalia pessoa dessas que o primeiro se trata de um clássico, e o segundo não, embora ela insista no contrário.
Pronto para desistir da humanidade, comecei a pensar o que leva a pessoas como essa deixarem os clássicos de lado e se satisfazerem somente com filmes de qualidade duvidosa. Esse tema me atormentou tanto que decidi que deveria ser abordado de forma recorrente nessa coluna, afinal é devido ao mal gosto do público que cada vez menos clássicos estão sendo produzidos.
Não entenderam a relação ? Sigam meus bons minha linha de pensamento.
Na pele de um produtor por mais que eu soubesse da qualidade de um diretor como Baz Luhrmann ou Scorsese, estaria muito mais seguro de investir em uma comédia do Adam Sandler, que por pior que seja, como Zohan, é garantia de dinheiro fácil. Então, baseando-se em ínumeras pesquisas na qual se avaliam as tendências do público, ele chega a conclusão que remakes, sequências, adaptações, comédias com esse pessoal e comédias românticas resultam em lucro. E adivinhem? É isso o que o interessa.
Dessa forma temos o que eu chamo de “o maravilhoso quadro da mediocridade cinematográfica.”.
Buscando por uma aplicação prática dessa tendência resolvi analisar uma lista dos “15 filmes mais esperados para 2009”, segundo uma conhecida revista americana. Com certeza vocês nunca terão ouvido o nome de algumas obras, mas acostumem-se: não somos nós quem definimos as tendências, embora continuemos a segui-las.
Para dinamizar a minha procura por possíveis clássicos, dividi a lista em três categorias.
Adaptações, Seqüências e Remakes:
– Watchmen
– Harry Potter e o Enigma do Príncipe
– Wolverine
– Anjos e Demônios
– O Exterminador do Futuro: a Salvação
– Land of the Lost
– Public Enemies
– The Taking of Pelham 1 2 3
– Where the Wild Things Are
– Julie & Julia
Os cinco primeiros provavelmente vão ser bons filmes, empolgarão o theo seus fãs e serão sucessos de bilheteria, nada mais do que isso.
Land of the Lost é baseado em um seriado dos anos 70 e tem Will Ferrel como protagonista, podendo dessa forma vir a se tornar um clássico.
O filme de nome estranho é um remake de Inferno Subterrâneo, e contará com Denzel Washington e John Travolta em ação. Típico filme de Tela Quente.
Já Public Enemies parece ser mais interessante, tendo no elenco Johnny Deep e Christian Bale, e direção de Michael Mann, de O Informante, Colateral e Ali. Fica a esperança.
Porém são os últimos dois que têm as maiores possibilidades de se tornarem clássicos. O primeiro, baseado em um livro infantil, será dirigido por Spike Johnze, de Quero ser John Malkovich, e por isso mesmo pode se esperar algo diferente e interessante. E o mesmo pode se esperar do outro filme, que estrelará Amy Adams e Merryl Streep, a dupla indicada ao Oscar por Dúvida, e conta uma história peculiar que envolve culinária francesa e blogs.
Apesar de não listados, esse também será o ano de Comandos em Ação, Dragon Ball, Star Trek e Transformers 2, The Spirit, Era do Gelo 3, Sexta Feira 13, Velozes e Furiosos 4, Uma Noite no Museu 2 e mais uma infinidade de filmes que certamente nunca mais serão citados nessa coluna, mas que vocês estão ansiosos para assistir.
Lixo:
– Obsessed
– Jonas Brothers: The 3D Concert Experience
Beyonce e High School Musical 4. Next.
Filmes Originais:
– The Ugly Truth
– Year One
– Up
Apenas três filmes “originais” que sobraram dentre os 15 mais esperados.
Uma comédia romântica, um filme do Jack Black e uma animação da Pixar. Nada que você não assista todo ano. E eu estou falando de uma lista “dos mais esperados”.
Para não ser injusto, há uma real possibilidade da produtora de Wall-E nos apresentar um novo clássico. Mas ainda sim é muito pouco.
Essa lista mostra o quanto a qualidade está deixando de ser um fator importante para ir ao cinema. Estamos em uma era na qual os filmes deixaram de ser pensados como arte, e passaram a ser vistos apenas como entretenimento vazio, do tipo “assisti, esqueci”.
Não me entendam mal. Tirar o cérebro para ir ao cinema é sempre bom.
Agora não ter porque recolocá-lo já é outra história.