O Poderoso Chefão – Parte II (The Godfather Part II)

Bogart é TANGA! terça-feira, 14 de abril de 2009

No filme que é inegavelmente uma das melhores sequências já feitas, Francis Ford Coppola continua sua épica trilogia com esta saga de duas gerações de poder na família Corleone. Coppola, mais uma vez com o autor Mário Puzo, entremeia duas histórias que funcionam tanto como antecedente como quanto continuação do original. Uma mostra o humilde início dos sicilianos e a ascensão do jovem Don Vito em Nova York, agora na interpretação vencedora do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Robert De Niro. A outra mostra a ascensão de Michael (Al Pacino) como o novo Don. Reunindo muitos dos componentes do elenco que fizeram parte de O Poderoso Chefão Coppola produziu um filme de surpreendente magnitude e visão; o filme recebeu onze indicações ao Oscar e ganhou seis, incluindo Melhor Filme de 1974

Eu disse no último texto que o primeiro era meu favorito, certo? Depois de assistir o segundo pela segunda vez essa semana, realmente não consigo decidir. Declaro então um empate técnico entre os dois. Enquanto o primeiro conta o início oficial de Michael no fantástico mundo da máfia, o segundo se prende a uma narrativa absolutamente não linear de como ele e seu pai progrediram no mundo do crime, em duas épocas diferentes. Em alguns momentos do filme três datas diferentes se entrelaçam e, a não ser que você tenha algum tipo de retardo mental, não dá pra confundir.

Nos primeiros quinze minutos de filme, existem três cenas que caberiam como uma luva pra um início de história. A primeira imagem é de uma pessoa beijando a mão de Michael, nos lembrando que ele é mesmo o novo Padrinho. A segunda história é a de Don Vito, na época sem o Don, claro, com 9 anos, em Corleone, Sicília. A próxima frase terá menos vírgulas, prometo. No cortejo do enterro de seu pai, que morreu de morte matada por ter falado qualquer coisa ruim do manda-chuva do local, aparece morto também seu único irmão. Ao ver o rapaz deitado no chão, perto do caixão, eu não consigo deixar de pensar “bom que economiza o trabalho de cavar outro buraco. Viva!”. Então a mãe de Vito leva o menino pra casa do tal homem pra pedir pra poupa-lo e em troca leva uma facada. Vitinho consegue fugir e embarca num navio pra América, onde chega meses depois doente, mudo, orfão, corintiano, maloqueiro e sofredor, pronto pra ficar em quarentena. Tadinho.

A terceira parte começa com a primeira comunhão do primogênito de Michael, seguida de uma festança de arromba a la Italiana. Festas italianas parecem divertidas, sério. Eu não tenho a menor idéia de onde é minha família, mas se pudesse escolher, seria… tá, seria irlandesa, não italiana. Mas enfim, a gente percebe que a família tá ainda mais organizada, com direito a discurso de político e tudo. Michael segue a tradição do pai de escutar lamúrias e pedidos em grandes festas ao invés de encher a cara de macarronada, yammy. A melhor é da irmã que resolveu virar a ovelha negra da família só porque mataram o marido dela. Fresca.

E isso tudo só nos primeiros 15 dos 202 minutos de filme. Eu poderia lotar essa resenha de spoilers, mas não consigo. Os dois lados da história são demasiado dependentes das surpresinhas nossas de cada cena pra serem totalmente desenvolvidos aqui. Além do mais… Duzentos e dois minutos, façam as contas. Mais vale pedir pra vocês darem atenção especial pra algumas partes do filme. Afinal, vocês vão reclamar de qualquer coisa que eu escreva, então melhor só mencionar umas cenas mesmo. Bando de moça…

A namorada/noiva/esposa do Fredo Corleone escorregando trêbada na pista é legal. Mostra o quanto ele é pateta e sem controle de NADA. E ainda assim se atreve a SPOILER facilitar a entrada do povo na casa do próprio irmão. O que, mais tarde, desencadeou na que é, na minha opinião, a melhor cena do filme: Mike beijando o irmão no ano novo em Cuba logo antes da revolução e dizendo

I know it was you, Fredo. You broke my heart. You broke my heart.

As cenas com o Vito jovem são um espetáculo a parte. Daquela cena do Vitinho pequeno na quarentena vamos pra um Vito médio num bairro italo-americano, já casado e trabalhando numa… em algum lugar. Então o chefão do lugar tira o emprego do pobre pra colocar um sobrinho no lugar. Então Vito entra no mundo do sexo, drogas e rock’n’roll crime, realizando seu primeiro trabalhinho praticamente por engano. E é de pular no sofá a primeira vez que ele diz o clássico “vou fazer uma proposta que ele não poderá recusar”. O resto vocês podem imaginar. E se não podem, ASSISTAM O FILME! Vito médio é a maior surpresa do elenco… aliás, do filme e da minha vida inteira: Robert de Niro já foi até jeitoso. Eu fiquei dias comparando fotos atuais dele com as da época e mal consigo encontrar alguma semelhança. E não é só um rostinho bonito. De Niro ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por esse papel.

O resto do elenco perde a pele de pêssego nos 2 anos (reais) que se passaram, obviamente pela passagem de tempo no filme. Al Pacino se torna aquele chuta bundas que já conhecemos. Diane Keaton também “volta” a ter a cara que ela tem hoje, apesar de sinceramente acha-la mais bonita e com papéis melhores hoje. Ainda assim, a cena em que Kay revela (como não fazer mais spoiler, dêos) como perdeu seu último filho (rá) é marcante e uma das poucas duas vezes que vemos Don Michael Corleone levando um soco de direita no estômago e tendo que sair da pose classuda por não saber bem como reagir. Nem quando o cara tá no tribunal, negando com a cara mais lisa todos os crimes, ele sai do salto. Aliás, no tribunal é o único momento que Michael perde seu charme pra mim porque imagino qualquer político brazuca sentado ali. É dolorido ver um anti-herói descendo ao nível dos porqueiras atuais.

É isso. Vejam o filme antes da semana que vem, pra eu poder parar de sofrer com os spoilers.

De repente comecei a gostar mais desse que do primeiro. Hum.

O Poderoso Chefão – Parte II

The Godfather Part II (202 minutos – Clássico/Crime/Drama)
Lançamento: EUA, 1974
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Robert Duvall, Diane Keaton, Robert de Niro, James Caan, Talia Shire, John Cazale, Bruno Kirby

DEZ, seus chorões. Aposto que vão reclamar também…

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