O cinema mudo norte-americano: Chaplin e Keaton
Bem… na coluna passada falei sobre o movimento cinematográfico mais impressionante da década de 20: O expressionismo alemão. Mas foi dos EUA, que já havia sido palco do nascimento do “cinema moderno” com Griffith em 1915, que surgiram dois diretores, atores e roteiristas, que se tornariam sinônimo de cinema mudo: o todo poderoso Charles Chaplin e o não menos magnífico Buster Keaton.
Amigos ou Inimigos?
Apesar de ser negligenciado esquecido pelos mais leigos, Buster Keaton foi o grande rival (e amigo) de Charlie Chaplin na época do cinema mudo. Eram dois comediantes com estilos bem opostos de se fazer rir, e igualmente aclamados. Se Chaplin na figura de Carlitos era o vagabundo atrapalhado e malandro, Keaton apelava para as gags – saltos, quedas e corridas. Mas não era só isso que os diferenciava: enquanto os personagens de Chaplin expressavam seus sentimentos, faziam mímicas e não se importavam de rir de si mesmo, Keaton interpretava o herói impassível, que mesmo quando fracassava (e daí o humor de seus filmes), mantia as mesmas feições – o que gerou apelidos como “o homem que nunca ri”. O que acontece é que ele percebeu que mantendo uma mesma expressão, conseguia com que o espectador projetasse seus sentimentos e aspirações no próprio personagem.
Para conhecer um pouco mais dessas figuras, separei três filmes de cada um, dispostos em ordem cronológica:
O Garoto (Charles Chaplin, 1921)
A história de um bebê que acaba ficando aos cuidados de um vagabundo (Carlitos) é um dos filmes mais conhecidos de Chaplin. Com um argumento que se tornaria base para uma infinidade de obras, acompanhamos a crescente empatia entre o homem e o garoto, paralelamente entre as tentativas da mãe arrependida de reencontrar seu filho. Como é dito logo na introdução: Um filme com um sorriso, e talvez uma lágrima.
Nossa Hospitalidade (Buster Keaton, 1923)
O longa conta a história de um eterna briga entre duas famílias. Após mais uma morte, a mãe do protagonista o manda para Nova York – até que décadas depois ele volta a sua terra natal, ao saber da morte de seu pai. No trem ele se apaixona por Virginia (que era a mulher de Keaton na vida real), e ao jantar em sua casa, descobre que ela é justamente da família rival. Como não podia ser diferente, o desenrolar da história é previsível, mas em nenhum momento tira os méritos da obra – uma das melhores deste diretor.
Sherlock Jr. (Buster Keaton, 1924)
Ocupando a 62a posição da lista dos 100 filmes mais divertidos do primeiro século de cinema (segundo a AFI, American Film Institute), a obra apresenta uma das histórias mais criativas dessa época. Nela, um homem acusado injustamente de roubar o relógio do pai de sua namorada tem um sonho, no qual é detetive e começa a ir atrás de pistas do verdadeiro ladrão. Devido a sua duração (menos de 50 minutos) e objetividade, recomendo para todos aqueles que desejam assistir um filme mudo, mas não tem “paciência”.
Em Busca do Ouro (Charles Chaplin, 1925)
O filme se passa no Alasca, em plena corrida do Ouro. Na tentativa de conseguir alguma coisa, o personagem Carlitos vai até o deserto gelado, onde conhece um garimpeiro que perdeu a memória e se apaixona pela bela Georgia. De forma bem humorada, a obra trata de assuntos como a solidão, a fome e a pobreza, imortalizando-se nas cenas em que cozinha uma bota, ou promove a “dança dos pãezinhos”, que vocês podem acompanhar abaixo.
A General (Buster Keaton, 1927)
Meu filme mudo favorito. A história mostra um maquinista que em plena guerra civil americana (baseado em um acontecimento real), tem sua locomotiva General e sua amada sequestradas pelo exército da União. Considerado um covarde pelos pais de sua garota, por este não ter conseguido se alistar pelos Confederados (pois o exército julgava que ele era mais valioso exercendo sua profissão), ele vai em busca de seus dois grandes amores. Durante toda a película acompanhamos os inúmeros percalços deste, em meio a perseguições de trem que envolvem mudanças de rota, canhões e até mesmo sabotagens dos trilhos. Um filme divertido pela sua simplicidade, mas que trouxe uma das cenas mais caras da época – em que uma ponte desaba, e leva consigo um trem de verdade.
Luzes da Cidade (Charles Chaplin, 1931)
Todos os diretores de comédia romântica da atualidade deveriam assistir a essa obra, para aprender como é que se faz. A história do vagabundo que se finge milionário para impressionar uma florista muda por qual se apaixonou é uma lição de bom humor e perfeccionismo – a cena em que Carlitos vai comprar flores foi refeita 342 vezes (não é a toa que foi seu trabalho mais longo). Além disso, é uma obra histórica – o primeiro filme mudo na época do cinema falado, que Chaplin somente conseguiu devido sua influência, apesar das pressões de Hollywood.
Finalizando
É triste que grandes obras como as citadas acima sofram tanto preconceito por parte do público. Principalmente no que se diz a Keaton, que acabou não tendo o mesmo sucesso com o surgimento do som. Chaplin ainda emplacaria obras como Tempos Modernos, O Grande Ditador, Monsieur Verdoux (um dos meus favoritos) e o tocante Luzes da Ribalta, que ilustra o fim dessa coluna.
Deixem de ser tangas e deêm o braço a torcer. Como já disse em outras colunas, se acostumar com linguagens cinematográficas diferentes te abre um leque gigantesco de clássicos para serem assistidos. Um presente para qualquer cinéfilo.
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