Scry
Segunda à Esquerda, errei o caminho.
Ao me aproximar da rotatória, avistei o sinal do amarelo ao vermelho. Parando o carro, observei a rampa de acesso à direita, o caminho de casa. À Esquerda, nova rampa de acesso, luzes Apagadas ou Queimadas escondiam o caminho.
Dez minutos depois aquele sinal continuava vermelho. Não poderia me atrever, então continuava a esperar. Nenhum carro na rua, além de meu rádio só o silêncio da madrugada. E o vermelho Fixo & Imutável.
Vocês já ouviram o barulho da eletricidade? Desligue seu rádio, prenda a respiração. Você pode ouvi-la através do pêlo de seus braços. Fixa, contínua, uma corrente de pura baixa-frequência.
Exalada como um cheiro pelos fios, postes e pelo Vermelho daquele Sinal. Não havia toque engrenoso algum naquela noite.
Flashes. Imagens Descontínuas & Descompassadas, extraídas de Películas Cinematográficas Amareladas, arrancadas de rolos envelhecidos, Rodando & Arranhando. Rasgo em meus tímpanos e contraposição em meus olhos. Barulho & Cores.
Scry.
Levanto a cabeça, sentindo o sangue seco em meus ouvidos. À minha frente encontro a segurança, o conforto de sua Pupila, imóvel. O centro ligeiramente mais claro que o vermelho vivo do entorno.
Sua Alma percorre a superfície de minha pele e mal consigo notar que não há mais rampa à direita.
“um dia me deixará passar”, penso. “um dia me deixará passar e eu não terei mais nada além de dois Olhos Esquerdos”.
Estática.
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