Overdose Faroeste: Retrospectiva na Telona

Primeira Fila sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A cada nova década surge sempre a discussão do porquê o faroeste não consegue sobreviver em Hollywood como um gênero, possivelmente os super-heróis e as aventuras forradas de efeitos especiais á base de computação gráfica impedem que isto ocorra. Mesmo assim, o faroeste ressurge sempre com um novo ciclo de filmes como o que está ocorrendo neste ano.

O cinema western, gênero clássico norte-americano (mesmo que outros paises tenham produzido faroestes, como a Itália com os western spaghetti), popularizado como faroeste, velho-oeste ou mesmo bang-bang, teve seu auge nas décadas de 40 e 50, após isso se tornou um gênero de produção bissexto, a cada nova década produções são realizadas para manter o espírito do faroeste vivo (sem muito sucesso comercial, salvo raras exceções) ou tentam reinventá-lo (como em Os Imperdóaveis).

O cenário clássico dos filmes é o Oeste americano (óbvio), desde o périodo que precede a Guerra Civil Americana (aquela do Sul escravista contra o Norte industrial) até a virada do século XX. É o tempo da ocupação de terras; do estabelecimento de grandes propriedades dedicadas á criação de gado; das lutas com os índios e a sua segregação; das corridas ao ouro na Califórnia; da demanda das terras prometidas (como o estabelecimento do Estado do Utah, pelos mórmons) e da guerra no Texas.

O gênero foi praticamente fundado em 1903 com The Great Train Robbery, de Edwin S. Porter, na época do cinema mudo. Foi desta maneira até o final da década de 20, depois disto houve até o surgimento de cowboys cantores como Gene Autry e Roy Rogers (Rei dos Cowboys). Na década de 30 diretores como Cecil B. de Mille (de Os 10 Mandamentos), que dirigiu o épico Jornadas Heróicas, e John Ford (mestre do gênero), responsável por No Tempo das Diligências (com o mais famoso cowboy da história, Joh Wayne), foram os destaques com produções que atraiam a atenção dos grandes estúdios para o gênero.

John Wayne: personificação do cowboy americano

Na década de 40 o tema que dominou o gênero nesse período foi dos bandidos célebres, cujo primeiro grande sucesso foi Jesse James (mesmo personagem interpretado por Brad Pitt que estréia nesta semana), de 1939, de Henry King, que iniciou uma grande quantidade de adaptações da vida de bandoleiros famosos do oeste, como Billy the Kid, Belle Starr, Calimity Jane, os irmãos Dalton e Younger. Uma Cidade que Surge, de Michael Curtiz, abre caminho para o tema “xerife que limpa a cidade infestada de bandidos”, enquanto que Consciências Mortas, de William A. Wellman, sobre linchamentos, é o western de tese social. O drama psicológico penetra no oeste com Sua Única Saída, e Golpe de Misericórdia, ambos de Raoul Walsh. Entre os westerns mais importantes da década estão os de John Ford, Sangue de Heróis, O Céu Mandou Alguém e A Legião Invencível; Rio Vermelho, de Howard Hawks (outro mestre do gênero), e Céu Amarelo, de William A. Wellman.

Em 1950, Flechas de Fogo, de Delmer Daves, é o primeiro a apresentar o índio como herói, numa tentativa de análise social, como Assim são os Fortes, de William A. Wellman. O épico é representado nesse período por Caravana de Bravos e Rio Bravo, ambos de John Ford. No campo psicológico, O Matador, de Henry King e Matar ou Morrer, de Fred Zinemann. Outros westerns importantes dessa década foram Os Brutos Também Amam, de George Stevens; Rastros de ódio, de John Ford; e Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks.

John Ford, cineasta símbolo do faroeste

Já na década de 60, o faroeste ja apresenta sinais de cansaço, o que normalmente ocorre com “filmes fórmula”, há comédias como Butch Cassidy e Sundance Kid, de George Hill. A Violência é refletida no filme Meu ódio será sua Herança, de Sam Peckinpah (outro mestre). Nesta década surge os famosos western-spaghetti na Europa com filmes como Por um Punhado de Dólares, de Sergio Leone (outro mestre). Após estas décadas, o faroeste entrou num período de hibernação mas, a cada nova década alguns filmes tentam ressuscitar o gênero junto ao público.

Na década de 80, houve em Hollywood exemplos típicos do saudosismo do gênero com Silverado, de Lawrence Kasdan, e Cavaleiro Solitário, de Clint Eastwood (que tem seu nome ligado diretamente com o faroeste por ter surgido no gênero e, décadas depois, surge dirigindo este representante do western-spaghetti). Na década de 90, anos do politicamente correto, houve uma releitura do papel dos índios na época, passaram de vilões á vítima em Dança com Lobos, de Kevin Costner, e do pistoleiro solitário despojado de glamour e do heroísmo típico em Os Imperdoáveis, novamente de Clint Eastwood. Porém, nesta década, houve a bobagem As Loucas Aventuras de James West, misto de comédia com faroeste, com Will Smith e Kevin Kline, uma vergonha para o gênero.

Nestes últimos anos alguns títulos passaram em branco como Cavalgada com o Diabo, do chinês Ang Lee, Desaparecidas, de Ron Howard, e O Ílamo, de John Lee Hancock. No entanto, os maiores sucessos foram de filmes que utilizam a geografia do gênero como pano de fundo para tramas que envolvem a sexualidade dos cowboys (O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee) ou mesmo, questões sociais (Três Enterros, de Tommy Lee Jones).

Nesta semana e nos próximos meses, quatro produções chegam ao cinemas utilizando os dogmas do gênero ou sua geografia nos seguintes filmes: Os Indomáveis, de James Mangold; O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, de Andrew Dominik; Onde os Fracos não têm Vez, dos irmãos Coen; e There Will Be Blood, de Paul Thomas Anderson.

Estréia prevista para fevereiro

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