Tensão em 140 caracteres

Analfabetismo Funcional terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Temos de admitir que o Twitter fez uma grande diferença na maneira que as pessoas escrevem. Objetividade, frases curtas e, tirando todas aquelas baboseiras, informações uteis.
Admita, você ficou toda hora atualizando a tag #langerieday, não é? E se isso não foi útil, me diga.
Uma das tags que mais me chamam a atenção ali é a #microconto. Pequenas historias que co-existem naquele pequeno espaço de 140 caracteres, até menos, já que a tag sozinha já ocupa 11 caracteres.

E cada vez que leio um desses micro contos, não posso deixar de me lembrar de Hemingway, um autor foda que vocës sabem quem foi. Certa vez, ele foi desafiado a escrever uma história curta, e, seis palavras. O resultado desse desafio esse aí abaixo:

For Sale
Baby shoes.
Never worn.

Na tradução, caso precisem, fica algo marromenos assim:

Para Venda
Sapatos de bebé.
Nunca calçados.

Essa história curta, enigmática, que se for analisada por seus diversos ângulos, acaba por trazer dúvidas e mais dúvidas sobre sua simplicidade, foi escrita lá pelos idos de 1920, uma época que a chance de existir um Twitter era minima e que apostas de dez dólares realmente valiam algo.
Em 2006, varios artistas, escritores e desocupados da mídia foram chamados para escrever histórias do mesmo estilo que essa de Hemingway. O resultado pode ser visto clicando aqui. Histórias de sci-fi curtas, feita por autores conhecidos e outros nem tanto. O que dizer disso tudo? Digo que essa é ótima, e se não ajuda, pelo menos nos inspira a escrever algo maior:

I’m your future, child. Don’t cry.
– Stephen Baxter

The baby’s blood type? Human, mostly.
– Orson Scott Card

New genes demand expression — third eye.
– Greg Bear

Perfeitas.

De histórias brasileiras, varios usuarios estão investindo em curtas histórias. Veja o exemplo de Tiago Moralles. Seus microcontos podem ser lidos no blog Penates.
Perguntei a ele o que o tinha atraído nos mini-contos. A resposta dele, uma explicação melhor do que a minha e que responde muito mais que as perguntas que fiz, vocês conferem abaixo:

A micronarrativa é um texto pequeno que diz muito e às vezes diz pouco. É um texto que fala sozinho e que às vezes depende do repertório de quem lê. O mais legal é a quantidade de explicações e suposições que esse fragmento pode render, é aí que está a magia, na subjetividade.

Na verdade, não há limite mínimo ou regras para as micronarrativas. Também escrevo textos grandes como contos, críticas e crônicas. Mas, ultimamente estou focando em micronarrativas, prefiro chamar assim. O termo Microcontos, não é um padrão, só precisava nomear, e por isso escolhi esse nome. Como pode ver, a maioria dos meus “microcontos” não têm nome, por isso a terminologia e um número para identificar. Não costumo usar nomes pois acho que a história é muito curta, e um nome poderia entregar muito da surpresa que aquela linha vai trazer.

Os “microcontos” que escrevo, têm o limite de 140 caracteres, mas é uma posição minha, nada de normas. Faço isso pra poder divulgar no Twitter quando quero, simplesmente, ou mandar por SMS, como já fiz alguma vezes com MicroDramas em capítulos. Quando um texto passa desse limite, marco ele com uma Tag “Mais que micro menos que conto”, mas também por pura diversão.

Não tenho número médio de produções por dia/semana/mês. Vou escrevendo e postando, só que escrevo mais do que posto. Isso me dá uma reserva de trabalho já pronto. Outro detalhe para futuros projetos que estou desenvolvendo. O importante é não deixar de alimentar, nem minha mente nem a de quem sempre passa lá pra ler.

Eu diria que tudo isso complementa bem o que eu quero dizer e que eu busco atualmente por aí.

Veja só alguns exemplos de contos curtos dele:

Entre sessões,
sem exceções,
o tarado do cinema,
trocava de lugar
e observava cada vez menos a tela.

– Como é difícil falar da gente mesmo. Suspirou agonizante o escritor de obituários.

E então, algum de vocês se arrisca a escrever algo assim? E uma coisa. Estou pra arranjar alguns exemplares de uns livros por aí pra sortear pra vocês. Alguns serão meus, outros, de alguns lugares que estou pra arranjar essa gentileza para vocês. Se preparem aí, que, dependendo do que eu armar, vocês vão se foder bonito pra ganhar esses livros.
Se quiserem, é claro.
Fico por aqui essa semana e acredito que, em breve, volto para aborrecer vocês. Isso não tem como escapar.

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