Lost Girls (Top Shelf Productions)
Vocês, os três nerds malditos que ainda lêem essa coluna, devem, em sua maioria, ter ouvido ou lido durante os, digamos, primeiros dez anos de suas vidas, contos de fadas. Cinderela, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho e companhia apareceram, em algum momento, em suas vidas, e você aceitava tudo aquilo sem problemas. Você era puro, inocente e ignorante dos males que assolam a humanidade. E então, você chegou à puberdade e, com os hormônios correndo alucinadamente pelas suas veias, começou a ver que, bom essas histórias são simplesmente legais demais para ser verdade. Culpa do politicamente correto, que transformou histórias podres, recheadas de crimes e imoralidade no que conhecemos.
E chegou a hora de mostrar uma pontinha desse mundo podreira por trás da água com açúcar difundida popularmente. Não, essa Bíblia Nerd não é sobre Fables, mas sim sobre Lost Girls, uma obra do inglês maluco-beleza-sósia-do-Stallman Alan Moore.
Lembram do Trazendo à Realidade, série na qual eu trouxe 9 personagens de HQs para um contexto mais realista? Pois bem, Moore fez exatamente a mesma coisa com as protagonistas de Peter Pan, Alice no País das Maravilhas e O Mágico de Oz, mas focado num tema campeão de vendas: sexo.
A história ocorre num hotel, onde Wendy, Dorothy (Ambas na flor de seus vinte a trinta anos) e Alice (Já uma anciã) acabam por se encontrar num hotel nas montanhas austríacas, se conhecem por acaso e começam a trocar histórias eróticas de suas juventudes/infâncias (Sim, teve gente reclamando que isso era, de algum modo, distribuição de pornografia infantil), todas ambientadas no âmbito das já famosas histórias.
Alice, quando guria, estudava num colégio interno só para garotas, e mantinha relações sexuais (Aos quatorze anos) com diversas mulheres e garotas na escola, além de ter, ainda no comecinho, experimentado uma relação heterossexual. Wendy (Com dezesseis anos), bom, conheceu um moleque de rua chamado Peter Pan, líder de uma pequena gangue autodenominada de “Garotos Perdidos” (O que, inclusive, influenciou o título da HQ). Feita a amizade, levou os irmãos para orgias em parques ingleses durante o verão. E Dorothy… talvez essa seja a mais chocante de todas, mas ela, depois que um ciclone atingiu o Kansas, relacionou-se com três ajudantes da fazenda, e, mais tarde, com o próprio pai. No texto, inclusive, é citado o fato de que ela teve seu primeiro orgasmo durante a tempestade.
Fora as três nada singelas histórias acima, ainda ocorrem, no decorrer das histórias, “encontros” entre as contadoras de histórias, membros da equipe do hotel e outros hóspedes. Como não poderia deixar de ser numa obra escrita por Moore, existe uma pesquisa pesada por trás da obra, que é narrada para encaixar-se com fatos históricos reais, tais como o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria e a estréia do balé “A Sagração da Primavera”, de Igor Stravinsky. As referências, para nerds caçadores de referências como eu, são ótimas distrações do roteiro que, convenhamos, não passa de uma Bíblia de Tijuana estilizada.
Cada volume e capítulo (Cada volume com dez capítulos, cada capítulo com oito páginas) faz referência a um dos livros que inspirou a HQ. As histórias possuem inúmeras variações entre si, desde o estilo do desenho ao modo da narrativa. A arte é bastante detalhada, por vezes um tanto diáfana/enevoada, e, devo admitir, ao menos para mim um tanto desagradável. Apenas relembrando, a HQ, apesar de puramente ficcional, ainda posssui conteúdo adulto, e não é recomendada para menores de dezoito anos (Nem pra maiores, dependendo de quão facilmente impressionável você é) devido à sua arte e ao ao roteiro extremamente sexualizados. Mas, na dúvida, fica a dica.
Lost Girls
Lost Girls
Lançamento: 1991
Arte: Melinda Gebbie
Roteiro: Alan Moore
Editora: Top Shelf Productions
Leia mais em: Alan Moore, Alice no País das Maravilhas, Contos de Fadas, Melinda Gebbie, O Mágico de Oz, Peter Pan, Top Shelf Productions