Jogos-vampiro.
Não, não estou falando de jogos DE vampiro, seus ignorantes. Embora eu também ache que Castlevania é uma das melhores coisas já inventadas depois da cerveja engarrafada.
Estou falando de jogos-vampiro, e eu desculpo a burrice de vocês a respeito do termo porque eu acabei de inventá-lo.
O que é um “jogo-vampiro” e por que diabos um nome tão idiota para ele? Vejam como faz sentido: é aquele jogo que não morre nunca e que suga seu sangue e sua vida até você ficar estrebuchando no chão, com a mão em forma de garra segurando o joystick.
É o jogo que você termina uma, duas, três vezes e nunca se dá por satisfeito. Quando finalmente você consegue largar, mesmo assim alguns anos depois acaba pegando ele de novo em algum emulador de dá-lhe enfiar mais horas da sua vida na parada. E depois ele sai de novo na forma de um remake para algum outro console e você joga DE NOVO. E isso vai acontecer todas as vezes em que ele aparecer na sua frente. Ele não morre nunca.
E ele suga seu sangue, você simplesmente não consegue parar de jogar. Você acorda, vai trampar, estudar, ou sei lá que caralhos você faz da vida, e você fica pensando em que momento do dia vai conseguir tirar alguns minutos pra jogar de novo. E uma vez que você começa, não consegue parar pra jantar, assistir televisão ou sei lá que caralhos você faz nos seus momentos de lazer.
Não entendeu ainda que tipo de jogo é esse? Vou desenhar pra você:
Eu realmente não sei dizer quantas horas de jogo já enfiei em toda a série Final Fantasy. Mas eu GARANTO que Final Fantasy Tactics foi o spin-off que consumiu a maior parte do meu tempo. Eu nem conto mais as horas; eu não quero saber.
Ainda lembro de forma vívida daquele dia nublado de novembro de 1998, quando fui comprar meu Playstation. Depois de 6 meses guardando grana, finalmente achei uma loja que vendia o console já destravado, o que era a oitava maravilha do mundo naquela época; era MELHOR do que cerveja engarrafada. Mas não estamos falando de Heineken, claro. Melhor do que Skol engarrafada, talvez. Definitivamente melhor do que Sol engarrafada.
Enfim, o console vinha com 10 jogos “alternativos” á escolha do comprador. Eu já tinha pré-escolhido todos os jogos pela internet, e já sabia exatamente o que ia levar pra casa. Mas os putos não tinham Gran Turismo, então eu tive que escolher outro jogo entre os disponíveis. Folheando o catálogo, em meio a outros jogos, vi essa capinha:
“Tactics“? Tipo “Ogre Tactics“? Eu nunca tinha ouvido falar. Ninguém conhecia Final Fantasy Tactics naquela época. O que estava bombando na série era Final Fantasy VII, o título que salvou os RPGs da monotonia e que impulsionou a venda de milhares de consoles.
O funcionário da loja percebeu meu interesse e safadamente falou: “ô, esse jogo é bom hein?”, claramente querendo se livrar da pilha encalhada que tinha. Dei uma olhada no joguim, dei de ombros e pensei “bom, é Final Fantasy e é da Square. Não pode ser tão ruim”.
Cara. Eu não sabia o que eu estava levando pra casa.
Depois de 3 ou 4 dias jogando todos os outros 9 títulos que eu tinha comprado, finalmente lembrei do Final Fantasy Tactics. Fui ver qual era a do jogo.
Inicialmente, mesmo eu estando acostumado aos RPGs, me deparei com a enorme dificuldade para entender o sistema de jogo. Era muito, mas muito complexo para a época. Aliás, até hoje é complexo. Esse é o maior ponto forte e fraco ao mesmo tempo de FFT. Depois de ler os tutoriais, eu ainda não tinha a menor idéia do que estava fazendo. Apanhei pra caralho.
Mas aos poucos você vai entendendo o que acontece, como as unidades precisam ser utilizadas em conjunto, como as magias dependem do Faith de cada personagem, como os signos se relacionam e etc… Muitas variáveis para um joguinho só, criando uma infinidade de cenários possíveis para cada jogada que você faz.
E os conceitos de jobs e abilities? Mágico, mano. Mudou completamente o que se entendia por personagens de jogo em um RPG. Jobs e abilities permitiram que você criasse a sua party, sua equipe, da maneira que você bem entendesse. Uma cadeia gigantesca de pré-requisitos antes que você conseguisse liberar os jobs mais nervosos garantia a premiação apenas dos jogadores mais ferrenhos e dedicados. O jogo todo é assim. Com um monte de pequenas coisas pra descobrir, novas abilities liberadas a a cada batalha, que podem mudar completamente a função e valor de um dos componentes do seu grupo, novas magias, novas maneiras de fazer o que você achava que já fazia bem.
Tem job pra cacete pra escolher.
Essas pequenas recompensas que aparecem quanto mais você joga, são responsáveis por manter o coitado que entra no jogo GRUDADO nele por longos períodos de tempo. “Só mais uma batalha pra eu conseguir os job points pra Lifefont“, “Só mais um cenário pra ver a história andar”.
Sim, porque a história em FFT também é ótima. Intrincada e com reviravoltas que se tornaram clichês em outros RPGs subseqüentes. Confesso que não entendi completamente a história quando joguei no Playstation. Mas isso foi muito bom, porque estou me divertindo horrores ao acompanhá-la em uma nova tradução agora na versão do PSP.
E com cenas desenhadas á mão, dessa vez.
Aliás, foi a versão do PSP que me motivou a escrever a coluna dessa semana. Eu AINDA estou jogando esse jogo, é inacreditável. Depois de mais ou menos dois meses sem jogar o remake de FFT pro PSP (mais ou menos o tempo em que tenho o Wii), eu novamente peguei nele e não consigo mais fazer outra coisa no tempo livre. Aliás, foi com grande relutância que vendi meu Final Fantasy Tactics Advance (do Gameboy Advance) ao Santhyago:
Só vendi porque sei que está nas mãos de alguém que também é fissurado pela série. O vampiro agora suga o sangue dele. Mas agora em 2008 chega o Final Fantasy Tactics Advance do Nintendo DS:
Me fodi de novo.
Jogos-vampiro, cara. Cuidado com eles.