O Alucinado (El)

Filmes bons que passam batidos domingo, 16 de maio de 2010

Estou aproveitando que no texto anterior eu falei sobre um filme do Kubrick para começar uma série, com alguns dos filmes menos conhecidos dos meus diretores favoritos. Estava numa dúvida danada por quem começar, então decidi começar pelo que eu vi por último: O espanhol Luis Buñuel.

Sinopse: Francisco é um solteirão rico e de princípios rígidos que decide se casar com Gloria, uma mulher que conheceu por acaso. Após o casamento, apesar de se mostrar um marido dedicado, ele passa a apresentar traços perturbadores de sua paixão pela esposa.

Francisco (Arturo de Córdova) é um homem de meia-idade, muito religioso, de família tradicional e com uma boa fortuna herdada de seus pais, porém ele não pegava ninguém era muito solitário, amorosamente falando.

Seu amigo Raul (Luis Beristáin) namorava Glória (Delia Garcés), uma bela mulher. O que ninguém sabia era que Francisco era podólatra (Doido por pés, não confundam com outras coisas) e, durante a cerimônia católica do “lava-pés”, se apaixona loucamente pela namorada do amigo.

Após ele se declarar para Glória, ela larga Raul e se casa com Francisco, por admirar a autoridade e a imponência dele. Logo na lua-de-mel, Glória já começa a perceber que seu casamento não será nenhum conto de fadas. Justo na hora do vuco-vuco, da fornicação, do pau-quebrando, Francisco pergunta pra mulher se ela já tinha se deitado com outro homem, se Raul já tinha feito massagem na barriga dela por dentro e quebra completamente o clima.

 Olha que gostosa

Durante uma viagem, dentro do hotel, Glória cumprimenta um velho conhecido, o que já é suficiente para Francisco ter um ataque de ciúmes, imaginando de onde a esposa poderia ter tido contato com tal sujeito. Pede então para o garçom servir o almoço no quarto deles. Para a surpresa de Francisco, o cara tava hospedado no quarto ao lado do deles, e já deduz que ele só está ali para ver Glória trocar de roupa. Bate na porta do quarto do conhecido e eles caem na porrada. Para piorar a situação, põe a culpa na coitada da mulher.

O casamento começa a ficar insustentável. Qualquer coisa vira motivo para paranóia de Francisco. Até mesmo quando pede a Glória para dar atenção ao seu advogado (Ele estava em um processo judicial), imagina que está sendo traído e que sua esposa não tem uma postura digna.

Glória apela para a pessoa que Francisco mais confia: O padre. Vai até ele, pedir conselhos, e o sacerdote lhe explica que o Tio Chico era cabaço casto até conhecer-la, que é um homem de princípios muito fortes e certamente a paranóia dele não era sem motivo. Ao saber da conversa de Glória com o padre, Chicão comete uma tentativa de homicídio doloso (Aquele como a intenção de matar), mas ela sobrevive e foge, e acaba encontrando com Raul e contando a ele toda essa história.

 Olha eles aí

Direção primorosa, com a história sendo contada do meio do filme, através do relato da protagonista, e todas as características marcantes de Buñuel estão presentes nessa obra. Francisco representa a burguesia, que apesar de seus preceitos, é sempre cruel com quem acha que não segue seus ideais. O anti-cleriquísmo é claríssimo durante todo o filme, como na conversa de Glória com o padre, na cerimônia de lava pés, e em uma das tentativas de matar a esposa, do alto de uma igreja. O erotismo está representado pela obsessão de Francisco por pés.

Esse é um dos filmes de Buñuel durante seu exílio no México, já que ele havia sido deportado, devido às críticas à ditadura do General Francisco Franco (Entenderam o nome do protagonista?). Alfred Hitchock praticamente homenageou o diretor em seu filme Um Corpo que Cai, por inúmeras semelhanças com a cena da tentativa de assassinato na igreja, e inclusive chegou certa vez a dizer que Buñuel era o maior diretor de todos os tempos, por obras como O Alucinado e Um Cão Andaluz. E pode ser muito bem que ele esteja certo, viu…

O Alucinado

El (92 minutos – Drama)
Lançamento: México, 1953
Direção: Luis Buñuel
Roteiro: Luis Buñuel
Elenco: Arturo de Córdova, Delia Garcés, Aurora Walker, Carlos Martínez Baena, Rafael Banquells, Fernando Casanova

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