O Analista de Bagé (L&PM)
Estereótipos, como todos aqui devem saber, são uma parte inseparável do humor. Eles podem ser atribuídos a qualquer grupo de pessoas que possa, de algum modo, ser diferenciado/catalogado dos outros por alguma característica mais aparente. Alguns estereótipos, como o comumente associado aos nerds, possuem fundamento (Anti-social, pálido e viciado em informação); outros, como o da loura (Burra e, por vezes, promíscua) não possuem nada no qual se apoiar.
No Brasil, os estereótipos mais comuns são aqueles associados a regiões/estados: O cearense vive na seca, comendo calango com farinha; o paraibano é o cearense “cabra-macho sim senhor”; o baiano e o mineiro são preguiçosos; o nortista, índio. O carioca é malandro, o mato-grossense é um corno cantor de sertanejo, o acreano não existe e o gaúcho o que é? Bicha!
Luís Fernando Veríssimo, como todo bom gaúcho, quer tirar o dele dessa reta. A diferença é que, ao invés de simplesmente desaparecer numa nuvem de purpurina, ele resolveu encarar o problema de frente e, como sempre, com bom humor. Abordando a regra de que toda regra tem uma exceção, Veríssimo, sem deixar de lado o estereótipo do gaúcho gay, cria um “pólo de resistência”: A cidade de Bagé, o último bastião de resistência da macheza no Rio Grande do Sul. Mas, como diz o próprio autor na abertura do livro, “certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, de alguma forma, possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vêm de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas”, implicando que nada daquilo é para ser levado a sério.
Quanto ao roteiro, falar do livro é falar da adaptação dos quadrinhos; um não se diferencia do outro. Até detalhes do livro estão lá: Lindaura, a recepcionista eclética, o Freud entalhado em imbuia e o divã coberto por um pelego. Como a adaptação é curtinha, várias histórias ficaram de fora, mas isso não diminui a qualidade da obra.
O Analista se declara “mais ortodoxo que pastilha Valda e Caixa de Maizena”, “Freudiano barbaridade”. Isso, porém, não o impede de adotar e criar novas técnicas de tratamento, como o famoso joelhaço. Seu divã é recoberto por um pelego, atende os pacientes de bombacha, toma chimarrão durante as consultas e sua maior fonte de consultas são as máximas de Adão, seu pai, guardadas dentro de um livro de Freud. Ele e seus pacientes são estereótipos vivos. O Analista, um machão casca-grossa; os pacientes, caracterizados de acordo com seus problemas mentais. E a obra, olhem só, são as conversas entre o nosso Protagonista e seus clientes problemáticos.
A arte, em preto e branco, é feita por Edgar Vasques, agradavelmente detalhada (Especialmente para os fins cômicos) e sem muitas frescuras. O Analista de Bagé, apesar de curto, é para mim uma obra de grande valor; primeiro, por ser nacional; segundo, por ser autoria de dois grandes exponentes culturais (Veríssimo e Vasques); terceiro, por ter a coragem de mexer com humor estereotípico sem medo de críticas (Se bem que é um gaúcho falando de gaúchos, então…). Te levanta do pelego e vai atrás dessa obra, tchê!
O Analista de Bagé
O Analista de Bagé
Lançamento: 1983
Arte: Edgar Vasques
Roteiro: Luís Fernando Veríssimo
Editora:L&PM
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