Eduque um idiota, doe um fone de ouvido
Eu acho que certas pessoas não deveriam poder ouvir música. Também acho que as mulheres não deveriam poder dirigir até aprenderem a fazer drift. Você que não sabe fazer drift, não fique ofendida: Cê faz parte do meu público alvo. E eu amo você. Principalmente porque não tenho que te aturar roubando meu videogame. Mas essa é outra história.
Não sei quanto a vocês, mas acho que ouvir música é, em certas horas, um privilégio. Pega, por exemplo, Star Wars: Não são todas as pessoas na galáxia que conseguem usar a Força. Se só com aquele punhado de gente já dá merda o suficiente pro George Lucas nos desapontar e lucrar com sete filmes e um punhado de seriados, pensa se todo mundo tivesse um sabre de luz. Foda que isso não acontece com a música, e todo mundo faz o que quiser. Aí o mundo passa a ser uma bosta.
Bora antes falar de gostos, algo que eu sempre comento nos textos, mas quase ninguém entedeu. O que só prova que a ideia de que eu estou cercado de idiotas tá certa. Eu tenho o meu gosto musical. Pra mim, ele é o melhor do mundo. Ninguém tem um gosto musical que me agrada mais do que o… Meu. E isso é óbvio: É o meu gosto, é a minha mente doentia. Portanto, se você gosta de Beatles ou acha Lady Gaga legal pra carái, cê pode estufar o peito, agora, e falar pro mundo que o seu gosto é o melhor da galáxia. Ninguém pode dizer o contrário. Os que fazem isso são noobs. E aposto que você já fez isso, mas tudo bem: Chegou a hora de ajoelhar-se e… Pera, só as gordinhas, heh.
Estamos entendidos. Agora, a segunda parte: Sobre gostos. Ninguém vai ter um gosto idêntico ao seu. É impossível de acontecer, tão impossível quanto encontrar uma alma gêmea. Esse negócio de encontrar alguém que é igual a você é mentira. Nem um clone seu gostaria das mesmas coisas, sendo sincero. Aí vem o respeito. Cê pode achar o gosto de alguém uma merda, mas é o gosto da pessoa. Eu acho que quem escuta funk tem que queimar no inferno, mas você não pode forçar uma pessoa assim a ouvir rock.
Ah sim, cê se sentiria bem escutando axé, enquanto sua praia é blues? Então, é tudo a mesma merda, mané.
Se todo mundo respeitasse o gosto alheio, o mundo não taria do jeito que tá. Existem pessoas que, involuntariamente, forçam as outras a escutar músicas ruins. O conceito de ruim é variável, por sinal. Enfim, qualquer pessoa aqui já pegou um ônibus na vida, espero. Não, né, cês são todos magnatas que só andam de helicóptero e, no tempo livre, acessam um site chamado Bacon Frito.
Você já deve ter se deparado com essa cena. Cê entra no ônibus no horário de pico, onde aquilo nem pode mais ser chamado de transporte, e sim de lata de sardinha. No alto das suvacadas, peidos, arrotos, tosses e espirros tão comuns no dia a dia, alguém saca uma arma de destruição em massa. Um celular. Pode ser um MP3, também. Em um instante, o filho da puta coloca uma música em um volume ensurdecedor. Todo mundo, desde o motorista ao cara do fundão, é forçado a ouvir o que o cara considera bom.
Isso não acontece só em ônibus, aliás. Muitas vezes acontece na sala de aula, metrô, AVIÃO – isso tá acima da renda. Afinal, falta de educação não é sinônimo para pobreza. Outro mito sobre essa história toda é que a música do celular é sempre um funk, axé, sertanejo e músicas mais populares. Isso é idiota. As pessoas falam isso porque nunca reclamariam se alguém estivesse tocando Chico Buarque. Ok, eu reclamaria. Mentira, eu partiria pra violência, mesmo.
A questão de ouvir música alta, desse jeito, tá acima de gostos musicais. Cê pode ser alguém que toca AC/DC no ônibus. Vou te achar tão filho da puta quanto quem toca aquelas músicas de funk, cujo nome nem sei. Cê tá forçando pessoas a ouvirem coisas que, segundo seu gosto, são boas. Elas podem não pensar igual (E o mais provável é que elas não pensem igual MESMO). Se você faz isso, você não pensa. Você é idiota. Agora que sabe disso, que tal comprar uns fones de ouvido e deixar de ser café com leite, hein?
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