Superox

Nona Arte quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dmitri era um touro ucraniano. Não que isso o diferenciasse em grande coisa dos outros touros nascidos na China, Escócia, Brasil ou Hyrule, mas esse detalhe fará diferença logo. Enfim, Dmitri fazia o que todo touro na flor da juventude faria: Comer, ruminar, beber água, fazer suas necessidades básicas, mugir e fazer pequenos Dmitris. Ocasionalmente, se o cavalo da propriedade estivesse indisponível, puxava a carroça do dono em troca de algumas espigas de cevada, ou era exposto em uma ou outra feira agropecuária local, e só.

Como um bom bovino irracional, Dmitri não ligava muito para tudo isso. Ele estava, realmente, cagando e andando para o que acontecia ao seu redor, desde que não faltassem água, alimento e parceiras reprodutivas. Ocasionalmente, notava, pesarosamente, que uma de suas parceiras desapareceria, sendo este fato seguido pelo cheiro de carne assada e uma aparência mais rotunda de seu dono. Estando mais ocupado em espantar moscas do próprio traseiro, Dmitri não tinha como fazer a ligação lógica entre esse fatos.

Em 28 de abril de 1986, Dmitri vivia um dia como outro qualquer. O sol brilhava, os pássaros cantavam, o Zangief distribuía Pilões Voadores abundantemente, essa coisa toda que vocês imaginam. A noite anterior havia sido bastante fria, e o pasto estava coberto de orvalho: O prato predileto de Dmitri, depois de feno com titica de galinha. O dia prometia ser igual a qualquer outro; porém como suas argutas mentes já devem ter percebido, esse não seria um dia comum, nem Dmitri era um touro qualquer. Afinal, para que eu estaria narrando isso se não houvesse nada de incomum?

A parte mais importante dessa história, no entanto, não ocorre dia 28/04/1986, mas dois dias antes disso. Dia 26/04/1986, não muito longe dali, na cidade de Pripyat, explodia o reator nuclear de Chernobyl. Longe do local do acidente e escudado por montanhas, o dono de Dmitri só veio a saber do acontecido no dia seguinte, por um comunicado do governo no jornal.

No entanto, na área da explosão, havia um sobrevivente: O físico nuclear Natan Davydov. Como seu Lada havia quebrado e estava andando a pé para o trabalho, não estava na área letal da explosão, mas isso não o livrou de receber uma dose maciça de radiação nociva. Impelido pelo medo, correu na direção oposta à da explosão, buscando abrigo. Sobreviveu por dois dias em áreas selvagens, alimentando-se de raízes, cogumelos e alguns poucos frutos. No terceiro dia, chegou a uma pequena fazenda no meio das montanhas, viu o rebanho e ficou atiçado pelo desejo de comer carne. Sorrateiramente, pulou a cerca, agachou-se e mordeu a perna de Dmitri, o maior touro daquela fazenda.

Continua na próxima semana, nesse mesmo bat-site, nesta mesma bat-coluna e provavelmente no mesmo bat-horário.

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