Da Paraíba para o mundo: Ariano Suassuna
Imagine a cena: Domingo à tarde, o tempo tá meio indeciso e você não têm vontade de fazer nada. Olha pra cabeceira da cama e vê um livro empoeirado ali, implorando por atenção. Mas como você nunca ouviu falar do autor, decide deixar ele quieto por ali e chamar os amigos pra ir ao cinema assistir um filme. Quando chega lá, vê que só tem filme nacional em cartaz e escolhe o com o nome mais estranho. Entra, assiste, gosta do que vê, e, depois de um tempão, descobre que o filme que você assistiu foi adaptado daquele livro empoeirado que você deixou de ler. Se essa situação realmente aconteceu com alguém eu não sei, mas tenho certeza de que muitos não fazem idéia de que grande parte dos filmes nacionais, novelas e mini-séries que a gente vê por ai, são na verdade adaptações de livros da nossa literatura.
Um exemplo disso é o filme O Auto da Compadecida, escrito por Ariano Suassuna. De tanto que passou na televisão, eu já associo a imagem de Ariano Suassuna com a daquele ator, Mateus Nachtergaele, mas isso não vem ao caso. O fato é que quase todo mundo já deve ter assistido o filme, mas poucos leram o livro.
Bom, se você por acaso leu o livro ou assistiu ao filme, deve ter percebido que a vida dos protagonistas Chicó e João Grilo não era das mais fáceis. Pois bem, a vida do Suassuna também não foi muito tranqüila. Pra se ter uma idéia, logo aos três anos de idade, seu pai foi assassinado no Rio de Janeiro por motivos políticos, já que este era governador da Paraíba naquela época. Depois desse ocorrido, a família de Ariano teve que se mudar constantemente, porque era perseguida pelos mesmos caras que mataram seu pai (Pra ser escritor tem que ser azarado?). Todos esses fatos citados acima têm relação com o assassinato de João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que inclusive foi morto pelo primo da mãe de Ariano.
Apesar de tudo, depois de chegar à maturidade, o cara decidiu ir pra Recife cursar direito. Só que logo que começou o curso, adquiriu uma doença pulmonar e foi obrigado a se afastar para concluir seu tratamento. Graças a isso, Suassuna começou a escrever pra valer, e, quando retornou a Recife pra continuar com os estudos, não largou a atividade, sendo que três de suas principais obras foram escritas nessa época: O Castigo da Soberba, O Rico Avarento e o Auto da Compadecida, todos estes contem elementos de drama/comédia, alem de uma boa carga de regionalismo.
E foi ai que a sua carreira começou a guinar para o sucesso! Seu nome foi sendo cada vez mais reconhecido pelo país, e seu trabalho cada vez mais apreciado pelo público e crítica. Seus poemas eram publicados nos jornais, enquanto suas peças lotavam teatros em todo o Brasil. Quem diria que depois de tudo que passou, ele conseguiria ter algumas de suas obras adaptadas para televisão e cinema. Enfim, em 1987, Ariano Vilar Suassuna foi consagrado como imortal na Academia Brasileira de Letras, e ocupa até hoje a cadeira de número 32. (O que pra mim é uma surpresa, pois eu jurava que ele já tinha batido as botas.)
Tá, mas e daí? O Highlander também é imortal e nem por isso eu vou ler tudo o que ele escreve! Tem mais algum outro livro desse cara ai que vale a pena ler? Eu respondo: Tem sim.
Eu realmente sugiro que se leia A Pedra do Reino. O livro conta a história de Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, o auto-proclamado Rei do Quinto Império e do Quinto Naipe, Profeta da Igreja Católico-Serteneja e pretendente ao trono do Império do Brasil. No livro, essa figura ai foi presa e precisa fazer sua própria defesa perante o júri, e é a partir daí que a história começa a ficar interessante, já que pra se defender, Dom Pedro precisa relembrar alguns fatos importantes que abordam política e até filosofia para conseguir consolidar sua defesa. Pra ser bem sincero, eu não consegui ler essa obra até o final, mas confesso que me arrependi de não ter renovado minha carteirinha na biblioteca pra poder ver o que acontecia com esse “cabra”. Esta obra também virou uma mini-série transmitida pela Rede Globo, mas como era baseada na obra original, muitos dizem que acabou perdendo um pouco da graça.
Pois é, eu poderia continuar falando dos livros de Suassuna, dizendo que elas são ótimas e tudo mais, mas infelizmente eu não posso, pois não conheço muito mais da obra desse rapaz. Porem admito que depois de escrever este texto, me deu vontade de ler mais alguma coisa do cara, ou até mesmo de tentar achar a Pedra do Reino pra terminar. Caso você não tenha sido tentado a ler como eu, tenha calma, logo alguma das séries, novelas ou filmes baseados na obra dele vão ser reprisados em algum lugar.
Ah, e só lembrando que ler o livro depois de ver o filme tem graça sim, isso não vale só pro Harry Potter!
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