Christine (Stephen King)
Carros. Porra, eu gosto de carros, preferencialmente os antigos. Uma vez inclusive eu falei aqui em um texto sobre o Opala 85 que foi parte da minha infância. Por esse meu gosto por automóveis e coisas antigas, minha namorada, depois de ler Christine, do Stephen King, só me disse “Cara, cê vai gostar desse livro”.
Dito e feito.
Arnold Cunnigham é uma espécie de perdedor. Com espinhas, sem sucesso com as mulheres e só tem um amigo, Dennis Guilder. Eu disse “uma espécie” porquê ele não é um perdedor por completo: É hábil com mecânica, inteligente e bem humorado. E tem bom gosto. Assim que ele bateu os olhos em Christine, se apaixonou. Ela era linda, mas maltratada. Suja, rasgada, sem alguém que cuidasse, que gastasse dinheiro com ela. Assim que viu a placa de “Vende-se”, correu, bateu na porta da casa onde ela estava e a comprou. É, então. Christine era um carro. Um Plymouth Fury 1958; um lindo exemplo da época em que carros eram carros, não modernos pedaços de plástico e alumínio com uma porcaria elétrica que insistem em chamar de “motor”. Mas isso é assunto pra outro dia. Enfim.
Chistine estava horrível mesmo. Ficou uns quinze anos parada na garagem de seu antigo dono, Roland D. LeBay. Arnie sabia desde o começo que ia gastar muito com ela. Os pais do garoto odiaram o carro desde o começo. Não aceitavam ver seu filho mimado de 17 anos torrando o dinheiro pra faculdade em um “carro velho”. Ou melhor, sua mãe odiava ver o filho que ela sempre controlou fazendo algo que ela não aprovava. Deu merda. Não quiseram o carro em casa, e Arnold foi obrigado e deixar o carro no estabelecimento de Will Darnell, uma garagem com várias vagas onde se paga pra deixar um carro e consertá-lo. Arnie ia fazer sozinho o trabalho de restauração da máquina. Trabalho, bastante trabalho, e desaprovação de seus pais e estranhamente, de seu único amigo, que também simpatizou pouco com o carro, principalmente depois de uns incidentes estranhos.
Dennis, no dia em que seu amigo comprou Christine, estava atônito. Via seu amigo perdedor se interessando por um carro, algo que nunca fez, e realmente comprando uma lata-velha que não valia nem a gasolina que consumia. Tentou fazer Arnie desistir, mas não dava. O garoto tava decidido. Enquanto ele efetuava o negócio com LeBay, Dennis, curioso, sentou no assento do motorista e… Bem, isso é estranho, mas ele jurou ter ouvido algo. Ouvido na mente, se é que isso faz sentido. Vamos dar uma volta, vamos, vamos sair daqui…
Ele ouviu mesmo.
E no futuro ele ia entender porquê, todos iam. Havia algo de muito ruim naquele carro, nela, Christine, esse nome feminino estranhamente dado pelo antigo dono. Algo mal.
Arnold mudou. Começou a ficar gradativamente mais agressivo. Perdendo a aura de perdedor, e passando pra algo… Diferente. Algo com ódio. E sempre havia aquele carro maldito perto. Só o carro era a fonte de segurança de Arnie, só Christine lhe agradava.
Não se podia perguntar nada ao antigo dono. Roland LeBay morreu logo depois de vender seu carro. Aliás, LeBay era um tipo complicado. Veterano de guerra falido, com um passado feio e uma amargura atroz. Sua maneira de ser era cheia de… Raiva. Os Bostas, como dizia ele, tudo era culpa dos bostas. Lhe batiam quando criança? Bostas. Os professores lhe davam sermões? Bostas. Seus pais lhe davam limites? Bostas. Só Christine importava pra ele. Um carro encomendado, já que o Plymouth Fury de 1958 só era fabricado na cor creme com listras douradas nas laterais, enquanto que o de LeBay foi especialmente fabricado vermelho vivo, com faixas brancas. Aquele carro simbolizava seu crescimento, uma demonstração de poder feita de metal. E assim o era para Arnold Cunnigham.
Pegue todas coisas ditas acima e vá aprofundando elas. A vida de Arnie, seu amor por Christine, a briga com seus pais, a vida conturbada de LeBay, enfim. Junte a isso umas coisas estranhas, um pouco ciúme, inveja e uma garota de verdade. Pronto. O final dessa história vem daí, dessa progressão quase geométrica das agruras, que Stephen King sabe fazer muito bem.
Pra vocês, putos que lêem idiotices de criança, leiam Christine. Pra vocês, que gostam de bons livros, leiam também, porquê eu sei que a maioria de vocês nem conheciam isso aqui antes desse texto. E pra vocês que não gostam de ler, morram, atropelados por um Maverick vermelho, de preferência.
A história do antigo carro aparentemente possuído foi contada também em filme, em 1983, mesmo ano da publicação.
O livro foi dedicado a George Romero e à sua esposa Christine Forrest Romero.
Christine
Christine
Ano de Edição: 1983
Autor: Stephen King
Número de Páginas: 503
Editora: Viking
Leia mais em: Christine, Críticas - Livros, Horror, Stephen King