Top 3 Autores – Neil Gaiman – Richard Mayhew
Todo mundo tem, ou já teve (Ou até mesmo é/já foi), um amigo-zé-ninguém. Sabe aquele colega que vive na dele, não fala com ninguém, é até gente boa, mas quando fala é um desastre atrás do outro? Aquele cara que você só se lembra (Se lembrar) por último na hora de chamar alguém para uma festa, ou seminário da escola/universidade? Aquele espécime particular de Homo sapiens sapiens cuja existência só é lembrada devido à Lei da Impenetrabilidade dos Corpos? Claro que não lembra. Se lembrasse, ele não seria o amigo-zé-ninguém. E, em Lugar Nenhum, o amigo-zé-ninguém é um herói.
Conheça Richard Mayhew: Um espécime exemplar de amigo-zé-ninguém adulto. Sem feições físicas ou mentais distintas, sem expressão, com personalidade e presença apagadas e cheio de dúvidas sobre ele mesmo; seu trabalho, num escritório, não tem nada de especial, e provavelmente o salário dele não é lá essas coisas. Também é completamente submissivo à noiva, não tendo coragem de se opor a nada do que ela faz ou diz.
Certo dia, a caminho de um jantar com o noiva, para conhecer o chefe desta, Mayhew, talvez pela primeira vez, contraria a vontade da noiva: Ele quer ajudar uma garota (Chamada Porta Pórtico. Sim, esse é o nome dela) que está caída na calçada, sangrando; ela, que Richard deixe Porta para lá e se apresse para chegar ao restaurante. Richard coloca Porta nos ombros, dá as costas à noiva e vai pro apartamento cuidar das feridas da garota desmaiada.
Como vocês, provavelmente, devem ter notado, é aqui que a história começa de verdade. Porta é, como não poderia deixar de ser, o motivo pelo qual a vida de Richard vai mudar completamente. Ele vai deixar de existir (Quando lerem a obra, vocês entenderão o que eu quero dizer. Não, ele não morreu) e lidar com tais consequências, conhecer um novo mundo (Londres Abaixo, um reflexo subterrâneo da capital da Inglaterra) até então invisível a ele, conhecer amigos, inimigos e aqueles que estão no meio, lidar com um anjo caído e louco chamdo Islington, ajudar na investigação de um assassinato em massa, mudar de caráter através de um teste de sanidade e até mesmo derrotar em batalha uma criatura antiga e poderosa (Sim, sei que isso tudo é muito vago, mas quero poupá-los de spoilers, ok?).
Depois de tudo isso, Richard volta a existir. No entanto, como sua vida continua na mesmice tediosa de sempre, ele se arrepende de voltar ao mundo normal, e tenta retornar à Londres Abaixo, onde ele é não é visto como um desperdício de espaço e recursos, mas como uma pessoa grandiosa, e, até mesmo, um herói.
Neil Gaiman adota, em Lugar Nenhum, uma abordagem rara de protagonista heróico: O cara que não tem potencial para ser protagonista, muito menos heróico. Como foi repetidamente dito anteriormente, Mayhew é um zé-ninguém com potencial para coisa alguma. É arremessado, sem querer, em uma tempestade de merda na qual ele pode não entrar, mas precisa fazê-lo para fazer o que acha certo (No caso, consertar a própria vida). Mesmo nos momentos de maior alegria/euforia/triunfo como um dos habitantes de Londres Abaixo, ele ainda nega sua personalidade heróica em busca da vida comum de antigamente. E, quando essa é recuperada, é vista como superficial e depressiva, levando-o a, finalmente, aceitar seu destino.
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