Contra o cinema imbecil
Então, eu sou uma pessoa muito desconfiada. Enquanto eu estou escrevendo textos pro Bacon, fico sempre virando pra olhar se não tem um gorila chamado Mr. George, de três metros, armando com uma kalashnikov querendo comer o meu rabo. Eu sei que você virou pra olhar. Mas, hei, ainda bem que eu não tenho cu.
Deixando de lado a conversa sobre cus, eu sempre desconfio de reviews que leio. Na época em que eu ainda acompanhava os lançamentos do Playstation 2, por exemplo, eu gastava meus trocados em revistas pra saber quais jogos valiam o meu dinheiro. E sempre funcionava, afinal, eu torrava parte do dinheiro com as revistas; o que sobrava não era muito e eu era obrigado a escolher bem pra fazer valer meu bolso. Mas os caras nem sempre acertavam. Já cheguei a comprar muito jogo classificado bom por aí e achar uma merda; também já comprei muito jogo bosta e curti. E eu tava lendo sobre as estreias da semana desta semana (Capitão óbvio ataca de novo) e me deparei com Doce Vingança (I Spit On Your Grave). Não tinha review aqui e eu não fui atrás de outra. Logo, fui assistir a bagaça na raça e torcer pra que valesse a pena. E eu sou imbecil por ter feito isso. Mas não tão imbecil quanto os negos que fizeram o filme. Senta que lá vem história.
No texto mal feito das estreias da semana, Pizurk, nosso querido chefe em meio período e mala em tempo integral, falou que sentia que o filme era feito com violência oculta com moral no final. E ele errou. A violência não é oculta, é bem explícita mesmo. A não ser que ele tenha falado oculta no sentido de do mal. Aí ele acertou, porque há cenas nesse filme que nem o Tarantino teria mente suficiente pra pensar. Mas ele acertou na outra parte. O filme tem uma moral: Se você pagou pra assistir, você não só desperdiçou parte de sua existência, mas também seu dinheiro. Explico.
Eu curto filmes violentos. Não partilho da opinião de que filmes influenciam pessoas a matarem geral. Primeiro que as pessoas já faziam isso bem antes do cinema existir e, segundo, há uma explicação boa pra esse tipo de coisa: Pessoas loucas continuam existindo. Ou vocês apagaram essa palavra do dicionário? De qualquer jeito, a história é sobre uma escritora que, almejando terminar seu livro, vai morar por um tempo afastada em uma cidade pequena. Antes de chegar ao casebre, ela já cria uma inimizade com alguns locais. E, depois de uma conversa em que os rapazes começam a filosofar sobre o fato de que ela é uma menina mimada da cidade grande que precisa levar uma lição, os clichês começam a aparecer.
Clichês são necessários. Clichês são VIDA. Mas, antes, atente os seguintes detalhes: Durante sua estadia, ela bebe (Coisa que pode ser feita na cidade grande), faz caminhadas (Coisa que pode ser feita na cidade grande), toma sol (Coisa que pode ser feita na cidade grande), fuma maconha (Coisa que pode ser feita na cidade grande) e é, mais pra frente, estuprada (Hei! A cidade grande também tem dessas coisas). Eu não entendi até agora o motivo dela se afastar do mundo para fazer coisas que ela pode fazer em casa, ainda mais que filmes sobre psicopatas nos ensinam que fazer esse tipo de coisa não é uma boa ideia. Ainda mais se você está no sul dos Estados Unidos.
Celular na privada, xerife mostrando-se um dos vilões e essas coisas que todos nós temos certeza nos primeiros minutos do filme. Depois ela volta e se vinga de todo mundo. Afinal, se ela morresse na tortura, não seria tão divertido. E o problema tá realmente aí. Não é um filme propriamente dito, é uma sequência de cenas violentas. Eu adoro cenas violentas, mas se elas são jogadas na tela sem enredo algum, não fica divertido. Nós vemos uma mulher sendo torturada, estuprada e, aparentemente, morta. Depois de dez minutos de filme, alguns dias se passam e ela volta fodona, matando um a um os vilões. Faltou uma coisa na história: A HISTÓRIA.
Kill Bill é um ótimo exemplo de que filmes violentos devem ter um enredo bacana. E, se vocês pararem pra pensar, é quase a mesma ideia: Mulher que é humilhada por algumas pessoas, é dada como morta e volta para se vingar. A diferença é saber amarrar as pontas; é não fazer um filme imbecil. Uma cena de tortura de MEIA HORA poderia dar lugar a um enredo mais interessante e detalhado. Mas, se você for pensar assim, este filme poderia dar lugar a outro mais interessante. Vou começar a cobrar pra assistir esse tipo de coisa. Se valer a pena, até penso em devolver o dinheiro; se não, ficarei rico. Próxima rodada de cerveja é por minha conta.
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