X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class)
Então pessoas, passam os anos e Hollywood continua se afundando cada vez mais na sua própria crise criativa. Tanto que a Fox decidiu não respeitar nem o hiato padrão que geralmente se segue depois de uma franquia que não deu certo (Pro público esquecer da cagada anterior) e já anunciou um novo filme dos X-Men, meros 5 anos depois do fatídico X-Men: O Confronto Final (E isso sem contar o filme do Wolverine). Mas basta uns trailers bacanas pra que todo mundo (Inclusive eu) volte a se encher de esperanças, e bora pro cinema de novo. Mas pelo menos dessa vez, valeu a pena.
O filme é centrado no relacionamento de Charles Xavier (James McAvoy) com Erik Lehnsherr (Michael Fassbender), desde o momento em que os dois se encontram pela primeira vez, até tornarem-se arqui-inimigos, já adotando as alcunhas de Professor X e Magneto, respectivamente. A história começa em um campo de concentração na Polônia, onde o jovem Erik tem seus poderes descobertos por Sebastian Shaw (Kevin Bacon), um administrador do campo com grande interesse em genética, mutações e todo o resto. Passamos então para a Inglaterra, onde um pequeno Charles encontra Mística tentando roubar comida na sua cozinha. Ele então descobre que não está sozinho no mundo (Que lindo) e decide adotar a garota como irmã.
Anos depois, Charles se torna um playboy especialista em genética, enquanto Erik passa o tempo caçando nazistas pelo mundo, buscando vingar-se de Shaw, seu criador. Mas Shaw agora tem seu próprio grupo de mutantes e um plano de dominação mundial, que envolve a morte de todos os seres humanos. Numa das etapas do plano, ele é flagrado pela agente da CIA Moira MacTaggert (Rose Byrne), que vê os mutantes em ação, não entende porra nenhuma, e vai em busca da maior referência em mutações do mundo, que não poderia deixar de ser Charles Xavier. Charles então acaba revelando seus poderes pro alto escalão da CIA e se unindo a eles pra deter os comunistas Shaw. Com um objetivo em comum, óbvio que Charles e Erik acabam se cruzando. Um salva a vida do outro, e Charles acaba convencendo Erik a se juntar a ele e formar um grupo de mutantes para agora sim, conseguir deter Shaw.
Bom, quem acompanhou as informações que iam saindo ou conhece um pouco do universo dos personagens já tem uma boa noção do que acontece a partir daí, né. Mesmo assim, o filme é empolgante pra caralho. Desde o começo, o roteiro se desenvolve de forma em que tudo culmina em alguns momentos-chave de definição dos personagens. E tanto as cenas mais emblemáticas quanto os momentos de preparação pra elas são muito bons. Tanto por conta da ação (Mesmo com uns efeitos especiais marromenos de vez em quando), até a profundidade alcançada nas situações. Principalmente nas que se referem ao Magneto. E isso só é possível por causa da atuação espetacular do Michael Fassbender. Aliás, até o James McAvoy, que não é lá um grande ator, está muito bem como Xavier. E ambos ainda travam bons diálogos sobre o preconceito, as diferenças, e etc. (Coisa que já foi explorada pelo Bryan Singer nos dois primeiros filmes da série), que já servem pra denunciar as discordâncias ideológicas entre os dois. Outro destaque fica por conta do Kevin Bacon, estiloso, arrogante, e até meio caricato, encarnando um dos vilões mais legais dos últimos tempos.
A dinâmica entre os personagens ganha ainda mais peso por conta da constante tensão causada pela presença da Guerra Fria ao fundo, que tem papel fundamental na história. Tanto que além de servir de estopim para os eventos, ela também é usada como analogia da relação entre os próprios protagonistas. Perto do final, enquanto a tensão entre eles explode, o filme nos mostra simultaneamente como oficiais americanos e soviéticos (Representação máxima das diferenças, nesse contexto) reagem da mesma forma a situações de alegria, de tristeza e da morte. Passando a mensagem de que somos todos iguais de uma forma mais inteligente (E menos irritante) do que geralmente nos é empurrado nesse tipo de filme.
O final, aliás, que ocorre durante a Crise dos mísseis de Cuba, é espetacular. A cena em que Erik finalmente confronta Shaw, que revela de forma magistral o efeito que esse embate exerce também em Charles, além de abrir caminho para a ascensão do Magneto, não é nada menos que genial. Mas é no final, também, que o maior defeito do filme se agrava. Defeito esse que curiosamente se repete em boa parte dos filmes de personagens da Marvel (Chegando ao cúmulo no Homem de Ferro 2): A rapidez do desenvolvimento e da resolução de algumas situações.
A relação entre Charles e Erik é bem construída e tudo mais (Apesar de a amizade dos dois se resumir em algumas semanas), mas isso não ocorre com quase nenhum outro personagem. Mística, que representa toda a discussão sobre aceitação que o filme propõe, é a maior mostra disso. Da noite pro dia, ela vira irmã de Charles. Depois, Erik aparece e solta umas frases de efeito ocasionais que fazem ela pensar, e ela muda de lado. O mesmo ocorre de forma ainda mais explicita com outros mutantes. Na verdade, todos os outros mutantes são pouco ou nada explorados (A não ser nas cenas de ação, claro). No grupo do Xavier (Destrutor, Fera, Banshee, Darwin e Angel) isso nem incomodou, adolescente é sempre chato pra caralho. Só na cena que o Hank McCoy se torna um Thundercat o Fera, que não teve efeito nenhum. Mas a montagem do treinamento de cada um ficou de bom tamanho. Já os aliados de Shaw sim, poderiam ter tido maior destaque. Principalmente o Azazel e o Maré Selvagem, que mal abrem a boca. E ficou meio tosco alguém poderoso como a Emma Frost servindo de pau mandado desse jeito.
No fim, a impressão é de que o filme tropeça por querer deixar tudo já explicadinho, sem nenhuma ponta solta pras próximas sequências. Mas apesar de algumas motivações duvidosas e uma ou outra coisa mal explicada, eu repito, o filme é MUITO empolgante. O trio Fassbender, McAvoy e Bacon está espetacular e a Fox finalmente começou a engatinhar nesse novo modo de fazer filmes de super-herói, com situações mais maduras e personagens mais críveis. É uma pena que a franquia esteja separada do resto do universo Marvel no cinema, as possibilidades seriam infinitas… Mesmo assim, que venham as continuações. Ah, e o filme já vale só pela participação de alguns segundos do Hugh Jackman.
X-Men: Primeira Classe
X-Men: First Class (132 minutos – Ação)
Lançamento: Estados Unidos, 2011
Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman, Matthew Vaughn, Sheldon Turner, Bryan Singer
Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Rose Byrne, Jennifer Lawrence
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