Como matar seu namorado: uma HQ sem escrúpulos
Alguns roteiristas de quadrinhos, quando querem e têm liberdade para extravasar suas ideias, fazem obras fantásticas. Exemplos disso são obras como V de Vingança de Alan Moore, Sin City de Frank Miller e Casos Violentos de Neil Gaiman; e é sobre essa genialidade que surge da liberdade que vou abordar hoje numa das histórias de Grant Morrison que acho mais divertidas: Como matar seu namorado.
Apesar deste título “chinfrim”, a história criada por Morrison, em parceria com Philip Bond nos desenhos, mostra uma HQ feita especialmente para adultos e situações não muito exemplares para adolescentes.
Publicado em 1995 pelo selo Vertigo da DC Comics, a história retrata a juventude de uma forma satírica e nada convencional, o que acabou dando à obra uma boa repercussão na época. O problema maior desta HQ foi retratar um casal adolescente transgredindo todas as regras de “boa conduta social” em meio a muito sexo, drogas, vandalismo, violência e assassinato, é claro. A questão é que, apesar de ser apresentada numa trama satírica, a história acaba retratando a realidade, pois muitas das situações, senão todas, estão presentes no nosso cotidiano, basta acompanhar as notícias dos jornais.
Bem, a história nos apresenta o cotidiano adolescente em meio a crises de identidade, angústias, inseguranças e faltas de perspectivas diante do futuro. Ou seja, um bom e entediante dia-a-dia.
Na história temos uma garota que anda entediada e acha a vida um porre, por causa de seus pais e, principalmente, por causa de seu namorado nerd, já que ela quer “dar umazinha” e ele nem dá bola para ela, preferindo ficar em casa sozinho vendo filmes pornôs e batendo bronha.
Enfim, um dia ela vai a uma lanchonete e, enquanto estava comprando batatas fritas, se depara com o rebelde da escola, que logo de cara oferece vodca para ela beber. Durante uma conversa ele sugere que eles matem o namorado inútil da garota.
Assim, depois de já estarem “pra lá de Bagdá”, vão até a casa do nerd e, no meio do caminho, eles praticam um pouco de vandalismo, fazendo arruaças nas ruas, perturbando velhos e, finalmente, matam o namorado dela. E a história finalmente começa pra valer.
Sentindo-se livres após o assassinato, ambos fogem numa verdadeira trilha de “drogas, sexo e rock and roll”. O clima mais nonsense aparece quando eles se envolvem com um grupo de hippies anarquistas que querem jogar uma bomba numa cidade, todos levados por um ônibus de dois andares colorido.
O que se segue é uma total psicodelia cercada de vandalismo, assassinato, drogas, transformismo, sexo, bissexualidade, romance, traição e também diversão, já que a história apresenta algumas situações engraçadas. Tudo porque os dois resolvem jogar tudo pra cima e passam a viver da forma que querem sem repúdio algum.
O melhor da história: descobrimos, próximos ao final da história, que os dois personagens principais têm uma relação ainda mais íntima do que o próprio sexo, revelado num segredo obscuro dos pais da jovem (não vou revelar pra não soltar spoiler, então procure para ler se você quer saber, mas vale a pena).
Para ter uma ideia, a história tem um ar parecido e doentio como Pulp Fiction e Assassinos por Natureza. É claro que a tradução do título tira um pouco da “força” da história, já no original Kill Your Boyfriend seria, literalmente, Mate Seu Namorado, que é exatamente a “proposta” nada correta da HQ: se você quer fazer alguma coisa, vá e faça.
Leia mais em: Alan Moore, Como Matar Seu Namorado, DC, Frank Miller, Grant Morrison, Matérias - HQs, Philip Bond, Sin City, V de Vingança, Vertigo