Star Trek: Ano Quatro (Devir)
Jornada nas Estrelas, a série original, foi cancelada depois de três anos de produção e daí entrou para a história da televisão como uma das séries mais influentes de todos os tempos. Outras franquias e vários filmes surgiram através dos anos, baseados na criação de Gene Roddenberry. Mas neste texto o que nos interessa é o supracitado cancelamento. Querendo ou não, o centro de tudo, a série original Jornada nas Estrelas, durou muito pouco. Por isso, em 2007 uma revista em quadrinhos tentou “continuar” a série de 1966; claro, com os limites de uma revista em relação à uma série, até fizeram algo interessante. E assim nasceu Star Trek: Ano Quatro.
Quando se adapta algo de uma HQ pra um filme, por exemplo, é bem fácil fazer merda, que nos digam o Quarteto Fantástico e o Spirit. Isso se dá por que são veículos muito diferentes, com suas características e suas maneiras de existir distintas. É preciso fazer um trabalho de “tradução” de uma coisa pra outra, e fazer direito, de modo que o resultado seja satisfatório, principalmente pros fãs.
Passo então para Star Trek: Ano Quatro. A idéia toda da revista é justamente traduzir um meio para outro – a televisão para a HQ – e com um agravante crucialíssimo: Se trata de Jornada nas Estrelas, uma série que está fincada profundamente na cultura mundial (Isso mesmo, cultura do mundo, não só “cultura pop”; aliás, está aí um termo que escrevo apenas para facilitar o entendimento de textos, pois lhe tenho verdadeira abjeção, ojeriza. Mas deixo isso para outro dia).
Como até um cego com sua bengala poderia perceber, a revista mostra o quarto ano da série, que nunca existiu. Lembre-se das palavras de James Kirk no início de cada episódio: -“Estas são as viagens da nave estelar Enterprise, em sua missão de cinco anos (…)”, etc. Aí está, a série deveria ter durado cinco anos. Logo, a revista tem todo o direito de existir, e não está ferindo o cânon sagrado da tripulação e da série originais.
A edição brasileira que tomo referência corresponde às edições de #1 a #6 americanas. São seis estórias literalmente simulando seis episódios, inclusive com seus clichês e seus trejeitos. Em tese. Percebe-se que a intenção foi emular as estruturas da série, os momentos típicos e recorrentes nos roteiros, tudo. Mas em pelo menos um dos seis capítulos (Precisamente o dois) tem-se a impressão de que escreveram um roteiro que seria ótimo pra cinqüenta minutos na televisão, cheio de reviravoltas e aventura, mas que simplesmente não coube em uma dúzia de páginas. A cadência dos acontecimentos ficou absurdamente rápida, o que é um baque pra quem assiste a série e não aceita ver o trio Kirk-Spock-McCoy ir do céu ao inferno e ao céu de novo de maneira tão ágil.
Nos outros capítulos isso é um pouco sentido também, essa correria, mas de maneira mais amena e mais aceitável. Afinal, é uma HQ. Nessas outras estória as coisas parecem ter se ajustado até bem, com menção especial para o capítulo quatro, que além de bem desenhado, prende a atenção com uma boa estória, digna de alguns poucos roteiristas da série original, como D.C. Fontana.
Ademais, preciso dizer que a revista é boa, considerando tudo que disse acima. Só preciso fazer algumas ressalvas, sobre alguns detalhes. Na revista aparecem algumas vezes uns alienígenas estranhos à bordo da Enterprise, e eles parecem totalmente familiarizados com toda a equipe. Inclui coisas bizarras, como um bicho com vários braços e quase ridículas, como uma mulher-gato. Estranhei de início, pois numa revista que se propõe a ser o quarto ano da série original isso não faz sentido. Aí entendi tudo: Eles são personagens importados do desenho animado de Jornada nas Estrelas, que também mostrava aventuras da tripulação de Kirk. O problema é que o desenho é uma produção bem… Triste, pra dizer o mínimo, e se torna até indigna perto da série real de 1966.
Enfim, para os fãs, vale à pena ter a revista. Relevando os problemas, é uma produção interessante. E tenho dito.
Vida longa e próspera.
Star Trek: Ano Quatro
Star Trek: Year Four
Lançamento: 2007
Arte: Leonard O’Grady, Steve Conley, Gordon Purcell, Joe & Rob Sharp
Roteiro: David Tischman
Número de Páginas: 152
Editora: Devir
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