Era Uma Vez no Oeste (C’era una volta il West)
Podem dizer o que quiserem, Sam Peckinpah, John Ford, mas o diretor definitivo de westerns é o Sergio Leone. Com isso esclarecido, é inegável que o western definitivo esteja dentro da filmografia do cara. E por mais espetacular que a Trilogia dos Dólares seja, o Era Uma Vez no Oeste é algo que não tem explicação.
O ano era 1967. Depois de reerguer praticamente sozinho aquele gênero de filmes ambientados no oeste americano entre a metade do século XIX e o início do século XX, o Sergio Leone achava que já tinha esgotado as possibilidades das histórias de cowboys. Tudo o que ele queria era ir pra os Estados Unidos filmar seu novo projeto, o Era Uma Vez na América. Mas pra dar financiamento pro diretor, os americanos safados insistiram que ele fizesse um último western. E então surgiu a ideia de uma nova trilogia, expondo três momentos distintos da história da América. Iniciada pelo Era Uma Vez no Oeste, claro.
E pra vocês que pensam que os ditos filmes de bang bang são só uma desculpa pra tiros, duelos e afins (O que já é legal bagarai), o roteiro do Era Uma Vez no Oeste é resultado da colaboração entre ninguém menos que Sergio Leone, Dario Argento e Bernardo Bertolucci. E a história surpreendentemente complexa é contada de uma forma tão peculiar que se o espectador se distrair por alguns minutos, pode acabar não entendendo porra nenhuma. Mas vamos tentar falar do filme em si, pra variar.
Tudo começa quando Jill (Claudia Cardinale) sai de New Orleans pra ir viver na fazenda do seu novo marido. Só que chegando lá, ela acaba encontrando ele e toda sua família brutalmente assassinados. O principal suspeito da matança é Cheyenne (Jason Robards), líder da gangue local. Só que (Dessa vez) ele é inocente, e parte em busca do verdadeiro culpado, Frank (Henry Fonda), um assassino contratado pela companhia ferroviária. No meio de tudo isso, surge um homem sem nome (Não, não é o Clint Eastwood) batizado apenas como Harmonica (Charles Bronson), que aparentemente tem assuntos inacabados com Frank.
Ok, sinopse terrível. Mas foda-se, esse filme é tão espetacular que eu nem mesmo sei por onde começar. Pelo começo, então. Saquem só esses créditos iniciais:
Porra, que coisa mais sensacional. Em mais de dez minutos, quase sem diálogos, dissecando o tédio de três homens em conflito esperando um trem, Leone consegue manter o clima de tensão que culmina com a chegada do Harmonica. Numa narrativa totalmente contemplativa, que se mantem por todo o resto do filme E não deixa o troço chato. Muito pelo contrário. A história vai sendo revelada para os espectadores ao mesmo tempo que para os personagens, que também têm suas motivações descobertas aos poucos.
Aliás, esse é um bom momento pra falar da complexidade de todos, TODOS os protagonistas. Jill, Frank, Harmonica, todos tem um passado rico que lhes garante muito mais profundidade. Até o Cheyenne, que normalmente não passaria de um bandido de segunda classe, é tão interessante que rouba a cena em diversos momentos. E Morton então, o dono da ferrovia deveria ser o vilão máximo da parada, mas o filme consegue fazer com que quase simpatizemos com seus objetivos. E essa ambiguidade não se limita aos personagens. Ela pode ser percebida até no contraste entre os closes no rosto dos atores e os planos grandiosos das montanhas do meio oeste americano de Leone. O filme todo é uma demonstração de toda a admiração do diretor à cultura dos westerns clássicos, ao mesmo tempo em que critica a política expansionista norte-americana.
Mas nada disso seria possível sem Ennio Morricone. Sério, a combinação da trilha sonora com as cenas, o enredo, a ambientação, é uma coisa inacreditável. Cada protagonista tem sua própria música, que varia conforme o seu momento no filme ou sua interação com outro personagem. PQP, só de lembrar eu já tou com vontade de parar de escrever isso daqui e ir assistir de novo.
Provavelmente, esse foi o último grande western porque todo mundo percebeu que não havia mais nada pra acrescentar depois dele. Vingança, ganância, amor, liberdade, todas as motivações do gênero estão ali. Bem como uma conclusão apropriada pra todos os seus mitos. A despedida de Cheyenne, a chegada da ferrovia… Enfim, o fim do velho oeste em si. É tudo perfeitamente orquestrado. Até a face sem expressão do Charles Bronson adquiriu todo um novo significado sob as lentes do Leone. Se em algum momento a humanidade chegou perto da perfeição, isso ocorreu com o Batman na Feira da Fruta Era Uma Vez no Oeste.
Era Uma Vez no Oeste
C’era una volta il West (175 minutos – Western)
Lançamento: Itália, 1968
Direção: Sergio Leone
Roteiro: Sergio Leone, Sergio Donati, Dario Argento, Bernardo Bertolucci
Elenco: Henry Fonda, Claudia Cardinale, Jason Robards, Charles Bronson, Gabriele Ferzetti
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