Sete passos pra se tornar um rockstar perfeito

Música quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Pra quem não sabe, mexo um pouco com música. Já desisti um tempinho atrás, mas conheço uma penca de gente muito talentosa que ainda quer viver da arte. Ou morrer dela, uma vez que um pézinho de nada de talento é o suficiente pra confinar a pessoa ao limbo de coisas que jamais farão sucesso. Mas como não quero ninguém morrendo de fome, vamos aprender como se fica rico e faz sucesso em apenas sete passos.

Passo número 1: Originalidade é pra otários, mermão

Antes de estudar música, de ganhar um instrumento, decida como você vai se vestir no dia-a-dia. O roqueiro do passado tava cagando com isso, usando camisa rasgada com estampa de sexo selvagem nas cores vodka e uísque, mas hoje em dia a moda é ser virgem e tomar banho. Foque no cabelo alisado com enê e nas roupas passadas pela mamãe. Calças sempre justas: Embale o pau a vácuo para evitar contatos sexuais mais intensos. Lembre-se, a dor que é boa, prazer é feio.

Nota do editor: O que diabos é cabelo alisado com N?

Depois, blusas (Camisa é coisa de macho) gola V com decote até o umbigo pra exibir o peitoral magricela e desprovido de pêlos, típico de quem ainda não chegou à puberdade, e, nos pés, tênis reef e cadarços fluorescentes trançados. Complete com cordõezinhos e pulseirinhas e não pare até obter, no mínimo, doze cores diferentes.

 Nham…

Agora que já escolhemos seu estilo (Só tem uma opção mesmo, nem vem), passemos ao som em si.

Passo número 2: Progressões existem pra não termos músicas diferentes

Falando sério por um instante: Música é receita de bolo. Nem venham com bandas fodonas e cantores super inovadores. Tudo gira em torno de uma coisinha chamada harmonia. Essa coisinha forma um conjunto de regras que decidem as maneiras das quais o som pode ser arranjado pra sair bonitinho. Cada estilo tem suas regrinhas, seus compassos e suas harmonias e existem tabelinhas por aí que podem ajudar e muito na hora de compor. E isso acontece em cada FUCKING estilo, sem exceção. Veja bem, sem críticas a isso. Música é como química: Existe um jeito de funcionar. Não adianta tacar açúcar em ácido sulfúrico; não vira açúcar.

O problema começa quando nego abusa dos quatro mesmos acordes de sempre, nego cismado com a mesma progressão (A ordem dos acordes numa música). Daí aquela sensação de já ouvi essa porra antes, de quem é?. É fácil de produzir assim. Faz-se uma música em dez minutos e um álbum em doze horas.

Enfim, já que é pra começar estourando na billboard, vai de I VI V. Ah, sim, e harpejos ocasionais pra mostrar que cê entende de formação de acordes. Se estiver num teclado, acordes de quinta na parte mais grave são a solução de muitos problemas de acompanhamento. Eles costumam adensar a música e tal, principalmente com oitavadas ocasionais. E não se esqueça de cantar a uma oitava acima do seu tom natural. Voz de macho é tãããão last summer.

Passo número 3: Solos de 13 segundos

Ok, todos sabemos que você, que aprendeu a tocar violão no Cifra Club, sabe no máximo que três notas juntas formam uma tríade. Mas não tema, gafanhoto, isso a gente consegue disfarçar.

O solo costumava ser aquela parte em que atingíamos o orgasmo durante um show, mas atualmente é só parada pro vocalista respirar e fazer coraçãozinho pra plateia. Já que dez segundos é sacanagem e quinze é muito avançado, vai de meio-termo. Treze segundos fazendo a escala do tom da canção e voilá. Sei que muitos estão se perguntando se escala é algo de comer (Não, queridos, de comer sou eu heh) e vou me policiar com os termos técnicos agora. Escala é de ouvir.

Sobe e desce umas notas, tá ótimo já.

Passo número 4: Paradas súbitas e emocionantes

Essa não tem como descrever, mas vou tentar:

Guitarra: Tan tan tan tan tum tum tum tum tim tim tim tim tan tan tan TAAAAN
bateria: Tum tum tum ta tum tum tum ta tum tum tum ta TUM TUM BLONG
*silêncio*
*pega ursinho de pelúcia jogado por fã*
*encaixa microfone no pedestal*
vocalista: Wowo, wooooowooo, yeaaah
*instrumentos voltam baixinhos, com uma única nota por compasso*
vocalista: Woowo, I love you, you’re beautiful, I menstruate – yeah yeah YEAAAh
*tira microfone do pedestal*
*volta ao andamento normal*

 Não esquece o cenário pro show!

Entenderam?

Agora que todo mundo já está praticamente com ensino superior em música, vamos nos focar na atitude e no comportamento.

Passo número 5: Trate suas fãs com muito amor e carinho

Diga o quanto as ama via TV e twitcam, faça coraçõezinhos nas apresentações ao vivo, dê sua opinião sobre o que os garotos gostam nas meninas, vá pra o Colírios Capricho Blog, enfim. Basicamente, trate-as como você trataria sua prima de cinco anos de idade.

Passo número 6: Letra pra quê?

Como disse Saramago aqui nessa entrevista, estamos a um passo de virarmos monossilábicos. A descomplicação e objetividade criaram pessoas que não sabem e nem têm paciência pra ler algo de mais de três linhas, menos ainda pra refletir sobre o que foi lido.

Então, na hora de escrever, façamos de, sei lá, 11 músicas, 4 animadinhas exultando a vida; 2 meio termos conformistas; 2 sobre o primeiro absorvente; 2 extremamente tristes sobre o fim do relacionamento pra balançar celular na hora do show; e uma “protestante”. Afinal, é preciso ter opinião formada sobre tudo, já que você será um ícone pra sua geração. Se não sabe sobre o que falar, fale sobre o mal dos ursinhos pandas, cujo índice de depressão sobe mais a cada ano já que as pessoas preferem cada vez mais os coalas.

E, por último:

Passo número 7: Música é o caralho, ame o dinheiro

CDs deluxe, DVD ao vivo e acústico, photoshoot e entrevista ex-clu-si-vos! pra Capricho. E, no lançamento do segundo álbum, quando você estiver mais “maduro musicalmente”, faça o encarte do CD em tons de cinza e fotos com cara de diarreia.

É. Tá foda. Volto outro dia com um texto mais animador e menos ácido.

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