Os Descendentes (The Descendants)

Cinema terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Matt King, um marido indiferente, pai de duas garotas, é forçado a reexaminar seu passado e abraçar seu futuro quando sua esposa sofre um grave acidente em Waikiki. O ocorrido exige uma reaproximação com suas filhas adolescentes, enquanto Matt se debate com a decisão de vender as terras que estão na família desde os tempos da realeza havaiana e dos missionários.

Olha só essa sinopse oficial dizendo que uma menina de 10 anos é adolescente, essa juventude tá muito mudada. Mas enfim, eu tentei resistir, eu realmente tentei, dizendo pra mim mesmo que ia ser só mais um drama meia boca. Mesmo assim, acabei aderindo ao hype e indo ver Os Descendentes no cinema. E vou te falar, acabou se revelando a melhor surpresa do ano. Mesmo sendo basicamente a mesma coisa do Sideways – Entre Umas e Outras e As Confissões de Schmidt, únicos filmes do Alexander Payne que eu vi. Ou seja, toda aquela história de um cara infeliz que depois de um acontecimento negativo acaba entrando numa jornada de autoconhecimento e tal.

Só que a forma como o tema é abordado é tão legal que esse filme acaba sendo melhor que os anteriores do diretor. Tudo começa com uma narração em off do Matt King (George Clooney), falando sobre como a vida no Havaí não é um paraíso e tudo o mais (Apesar de todo mundo usar camisas havaianas). Por aí, ficamos sabendo que a esposa dele sofreu um acidente e tá em coma. E ele passa a ter que cuidar das filhas com quem não tinha muito contato, tarefa que se prova mais difícil do que parecia. É quando ele descobre que sua esposa tinha uma amante. Enquanto isso, seus primos seguem pressionando pra que ele venda as terras da família, herdadas do seu tataravô ou algo assim.

Essa nova contextualização da vida no Havaí é bem bacana, mas o que se destaca desde o início é a construção dos personagens. A principio, Matt parece a única pessoa sensata na ilha. As suas filhas Scottie (Amara Miller) de 10 anos, e Alexandra (Shailene Woodley), 17, agem de modo incompreensível. Mas conforme a história segue, somos apresentados as falhas de caráter de Matt e começamos a entender as ações de suas filhas. Tudo através das relações entre os personagens. No presente. E isso é sensacional.

Aliás, a humanidade dos personagens é tão grande que a gente começa a realmente se importar com essa história passada lá na puta que pariu. Tudo bem, a universalidade do tema ajuda um pouco também. Mas a autenticidade é tão grande que parece que o Payne só foi lá e capturou um período da vida de uma família qualquer. E isso só acontece graças as atuações. Principalmente a do Clooney, que eu geralmente considero um ator bem mais ou menos. Mas dessa vez a indicação ao Oscar foi merecida. Porra, a corridinha dele quando Matt descobre a traição da esposa é sensacional.

Incrivelmente, até as cenas mostrando a beleza da natureza conseguem não ficar chatas ou pedantes e entram no contexto, sempre contribuindo com a história. O único ponto mais ou menos negativo é o Sid (Nick Krause), amigo da Alex, puta personagem chato. Mas passa, já que essa é parte da função de alivio cômico dele.

O maior mérito do filme acaba sendo a abordagem de todas essas reflexões, sobre a família, o dinheiro, o tempo e a vida em si, sem nunca partir pra uma lição de vida propriamente dita. Os personagens evoluem com os acontecimentos, transformam seus pensamentos em ações (Ou não) e era isso. Nós acabamos compartilhando esse processo por causa da proximidade com o expectador que o protagonista alcança.

Mesmo com toda essa qualidade toda, é um filme com a cara do Oscar. Pena que não seja hollywoodiano suficiente pra ganhar.

Os Descendentes

The Descendants (115 minutos – Drama)
Lançamento: Estados Unidos, 2011
Direção: Alexander Payne
Roteiro: Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash, baseado no livro de Kaui Hart Hemmings
Elenco: George Clooney, Judy Greer, Shailene Woodley, Matthew Lillard, Beau Bridges, Robert Forster

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