O ataque das cabeças pensantes

Cinema segunda-feira, 05 de março de 2012

Outro dia eu estava em uma festa, com conjuntos de rock, bebidas, pessoas. E lá se reunia uma grande massa de jovens, de dezesseis a vinte e poucos anos. Eles pulavam, falavam, gritavam, interagiam uns com os outros; era como um multidão de periquitos australianos, cada um tentando chamar atenção com as penas mais bonitas e os gritos mais estridentes, eu suponho. Certo, são figuras de linguagem (Menos os gritos talvez), mas a verdade é que lá eu percebi que a guerra dos jovens pela atenção do universo é uma guerra atroz – e que se reinventa a cada década, a cada ano. Hoje aprenderemos sobre um espécime do meio jovem que está cada vez ganhando mais espaço, e está atualmente vencendo todas as disputas: O grande pensador de araque.

 O Ministério da Saúde do Cazaquistão informa: Este texto pode ser prejudicial para quem não sabe reconhecer três ou mais frases irônicas.

É sabido que jovem do século XXI tem muitas armas na sua guerra diária da vida. Ele pode encasquetar de que precisa “chocar” o mundo, e usar um cabelo verde-oliva e cortado de maneira que tente provar que O Último dos Moicanos não era mesmo o último; pode virar bad-boy e sair pra fumar orégano e beber ovomaltino com leite em pó, sem medo de tomar uma dura da justa; pode começar a se fantasiar de personagens dúbios de desenhos animados nipônicos, para desespero de pais, tios e avós; pode começar a fumar cigarros com gosto e cheiro de incenso (Sem tragar, claro), etc, etc. Enfim, mas tudo isso aí é escolha do passado, é coisa antiga. O negócio agora, ladies and gentleman, é ser inteligente, ou pelo menos fingir.

E o que há de melhor para parecer inteligente de maneira rápida e prática do que o cinema? Pelas barbas do camarão, é uma escolha óbvia. Opa, mas não tão rápido meninada, vamos devagar. Se vocês também querem ser inteligentes, cultos, dar o que falar na rua de casa e arrebentar a boca do balão com suas opiniões contundentes sobre a sétima arte, é preciso entrar na norma e seguir um certo padrão. Exigirá esforços hercúleos de alguns, mas fará todo o resto da galáxia sucumbir à sua inteligência e perspicácia. Vamos já tratar sobre esta ciência. Como diria Goulart de Andrade, vem comigo!

Primeiro, é bem possível que você precise mudar seus gostos ou criar novos. O cinema inteligente e de cultura já possui suas normas, assim como os integrantes veteranos desse meio. Tenha em mente também que você provavelmente não irá mais falar em nome daquilo que você gosta sempre, pelo mesmo motivo explanado acima, mas em nome do que você tem que gostar. Dando exemplos práticos, você precisa desenvolver um gosto exacerbado por a) cinema iraniano, b) cinema francês antigo underground ou c) cinema alternativo da Tchecoslováquia. Caso enfrente dificuldades, procure apenas conhecer o básico dos temas e se aprofunde na “cena” musical da Bulgária e ouça Chico Buarque, para compensar sua falta de talento pra cinema. Pessoas cultas, modernas e inteligentes também devem ter um gosto musical requintado (Mas isso é coisa pra outro texto).

 Última cena que você se recorda antes de cair no sono naquele filme alternativo Ucraniano que seus amigos te chamaram pra ver.

Pois bem. Depois que você já possuir um bom conhecimento nos temas apresentados, a fim de poder manter conversações saudáveis com seus colegas do bloco de Belas-Artes e Ciências Sociais, você vai notar que não é preciso ser culto e inteligente apenas por dentro, mas também precisa parecer assim para os que apenas lhe dirijam um olhar. Em outras palavras, você terá que parar de usar essas péssimas calças jeans básicas, essas terríveis camisas brancas lisas e praticamente queimar esses absurdos tênis da Nike. Nenhuma destas peças pode mostrar toda a dimensão da sua mente brilhante. Isso só pode ser feito com camisas quadriculadas vermelhas, calças apertadas (Ambos os sexos), sapatos coloridos e de preferência de camurça (Exceções podem ser feitas para All Stars e sapatos sociais pretos mesmo, mas apenas se forem combinados, respectivamente, com calça social e a calça jeans apertada). Espécimes de bermudas também já foram avistados, todavia, eles usavam um acessório de grande importância: O cachecol. E não, não importa se você mora em Teresina ou Salvador, o uso é obrigatório em pelo menos três dias no mês. Afinal, você quer ou não que saibam que você é uma cabeça pensante do cinema moderno?

E, por último, mas não menos clichê nessa frase, você precisa puxar tais assuntos onde e com quem estiver, mesmo que isso leve as pessoas inteligentes de verdade e os demais membros sãos da sociedade a odiar a sua pessoa. Não fique triste, você sempre terá seus amigos do grêmio estudantil e do clube de literatura beatnik húngara, então não se sinta desconfortável para falar de Akira Kurosawa e Stanley Kubrick com o taxista e o porteiro do prédio, usando inclusive as mesmas palavras da Wikipédia, onde você leu sobre eles. Para fins dramáticos, mencione Laranja Mecânica, até por ser o único filme de um deles que você já viu e que, teoricamente, você deve ter decorado até de trás pra frente.

Enfim, caros colegas, membros do júri e jovens do meu Brasil varonil. A inteligência está na moda, literalmente. Tratamos hoje rapidamente sobre a mente do jovem e as grandes cabeças pensantes do ponto de vista cinematográfico. Dependendo do sucesso desta primeira reflexão, este humilde colunista poderá fazer outras, em diferentes pontos de vista. Aguardai-vos e confiai-vos.

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