Como não fazer um show
Então, há uns tempos atrás eu acabei indo num show do Seu Jorge, só porque era de graça ele tinha atuado nuns filmes bacanas. Experiencia irrelevante, a principio. Mas dias depois, eu me peguei refletindo sobre a apresentação (Não ter o que fazer é isso aí) e notei que ele conseguiu fazer praticamente tudo o que não se deve fazer em um bom show. Percebendo isso, é minha obrigação como cidadão listar aqui todos esses erros que você, futuro astro do rock, não deve cometer ao se apresentar ao vivo. Utilizando a performance do Seu Jorge como exemplo prático. Tipo o que o Maquiavel fez com a política italiana do século XVI n’O Príncipe, só pra citar um exemplo a altura.
1) Não seja inconstante
É o seguinte, um show tem que ter alguns momentos animados, outros nem tanto e alguns pra todo mundo bater palminha/balançar os braços em sincronia e acender os isqueiros/telas de celular. A menos que a sua banda seja o Motörhead, aí foda-se tudo isso. Mas caso contrário, esses momentos precisam ser equilibrados. Ou o público vai ficar confuso e descontar a frustração no cara que tá em cima do palco. O show do Seu Jorge, no caso, começou bacana, numa crescente. Que culminou com um grito de E agora, Músicas Para Churrasco, Volume 1! (Que é o nome último CD do cara, olha que genial). Até aí tudo bem, só que nesse momento ele começou a tocar músicas inexplicavelmente lentas e introspectivas. Por um inexplicavelmente longo tempo. O que levou toda a plateia a uma conclusão imediata: O Seu Jorge não saca nada de churrasco. E todo mundo sabe que não dá pra confiar numa pessoa que não saca nada de churrasco.
2) Nada de discursos
Pra piorar, o meu, o seu, o nosso Jorge achou que seria uma boa ideia emendar um discurso sobre racismo/capitalismo/democracia/Brasil no meio de toda aquela sessão de músicas para cortar os pulsos. Cara, os churrascos no Rio de Janeiro devem ser bem depressivos. Mas enfim, não tente educar o público. Só se você for mais famoso que os Beatles e Jesus juntos, ou mais carismático que o Eddie Vedder. Se não, a galera pagou pra ouvir música, não um cara que acha que vai salvar o mundo catequizando as pessoas. Olha só que puta cara chato o Bono Vox se tornou. Quer protestar, escreve uma música pra isso, mano. Que nem o U2 fazia antes de ficar insuportável.
3) Não exagere
Ok, aprendemos que as pessoas não tão nem aí pra suas causas esdrúxulas que não se possam ser resumidas em curtas frases de efeito que possam virar hashtags.
Mas também é importante não subestimar a audiência. Novamente, vamos ao Seu Jorge. No calor do momento, ele decidiu dizer aos meros mortais a sua frente que o evento em que ele estava tocando consistia na segunda maior festa do país. Depois do Carnaval, claro. A coisa foi tão fora de proporção que ninguém nem percebeu quando ele prometeu retornar no ano que vem. Sendo que a porra da festa acontece de 2 em 2 anos. Ah, enganar o público não, véi. Puxar o saco da plateia com sucesso consiste na tênue linha entre dizer que o público brasileiro é o melhor do mundo e prometer voltar em breve.
E não se esqueça, senhor artista gringo que por ventura colocou este texto no tradutor do Google e está lendo isso agora: É muito mais eficaz ficar no obrigado brazil do que começar falar espanhol.
4) Evite grandes solos, improvisações e afins
Ok, há exceções. Se a banda tiver uma grande base de fãs e/ou tocar no local uma vez por mês, versões longas, modificações nas músicas e tudo o mais estão permitidas. Agora, se o artista for pro lugar em questão uma vez na vida, as pessoas provavelmente querem ouvir o maior número de músicas possíveis e vão achar isso um saco. E a coisa fica pior, quando se trata de um artista que muita gente acha bacana, mas ninguém realmente se importa ou conhece muito. Tipo o Seu Jorge. E boa parte das bandas brasileiras. Aliás, existe algum fã de verdade de Skank? Capital Inicial? JOTA QUEST??? (Pergunta retórica, por favor não respondam.)
Por isso, sentar no canto do palco e deixar a banda improvisando por uns 15 minutos é uma péssima ideia Seu Jorge, péssima ideia.
4) Não tenha um DJ
Apenas que… A banda não tenha um DJ. Se quiser fazer música com barulhinhos e complicações desnecessárias E ainda reproduzir isso ao vivo, tem que fazer na raça, mermão. E o DJ, (Que não deveria existir) não pode, em hipótese alguma ter como se dirigir ao público. Porra, normalmente ninguém quer nem falar com um gordo suado e de headphones, quanto mais ser incentivado por ele a bater palmas. O vocalista da parada ta lá justamente pra isso.
5) Não deixe os sucessos pro final
Ao contrário do que o senso comum nos diz repetidamente, deixar os hits para o fim do show não é exatamente uma grande ideia. Principalmente quando o artista só tem um único hit. Quer dizer, até pode funcionar. Mas a música em questão tem que ser foda pra caralho. Mas peguemos o Seu Jorge, cujo o maior sucesso é Burguesinha. Que se a gente for analisar, é uma merda. Fato que o público acabou percebendo, devido ao tédio causado por ter que esperar duas horas pra ouvi-la. Algo que poderia facilmente ter empolgado todo mundo, fosse tocada antes.
Nesses casos, o melhor a fazer é tomar consciência da própria mediocridade. Que nem o Graforréia Xilarmônica, que toca Amigo Punk umas três vezes por show. E é legal.
6) Não demore demais pra voltar pro bis
Ok, você quer ouvir o público gritar o seu nome e pedir que você volte. Ok, a banda produz uns sons aleatórios pra criar um suspense e ninguém saber se você vai voltar e salvar nossas vidas ou não. Mas, calcular esse tempo de espera é uma arte. Demore demais, e metade da galera enche o saco e vai embora. Principalmente quando ninguém tá nem aí pra você. Tipo (Adivinhem quem?), o Seu Jorge.
Pronto crianças, evitando esses pequenos deslizes, vocês já estão prontos para obter um sucesso moderado e partir para uma vida de rendimentos gerados por playbacks no Faustão. Mas antes de encerrar, um último e talvez mais importante aviso:
7) NUNCA, JAMAIS, PELAMOR DE DEUS, TOQUE A PORRA DESSA MÚSICA:
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